Fruta do cerrado se transforma em ravióli, farofa e pão em bistrô do Recife
A macaúba, fruta originária do cerrado, tem se transformado em pratos salgados em um restaurante do Recife.
As receitas vêm sendo testadas e preparadas no Wiella Bistrô, restaurante do chef pernambucano Claudemir Barros. Com sua equipe de cozinha, ele descobriu que era possível chegar a uma grande variedade de pratos usando a macaúba.
Versátil, a pequena e doce fruta serve tanto para geleias e sobremesas como para fazer bolos, pães, farofas e massas --até ravioli o chef já prepara com ela.
“Quero mostrar que é possível fazer muitas coisas com a fruta e não apenas sucos e vitaminas”, afirma o chef.
O interesse pela macaúba começou quando Barros ainda era criança. “Comia bastante a fruta. Depois, já adulto, me interessei em descobrir seus valores nutricionais e a inventar pratos”, afirma.
Desta curiosidade vieram as massas, a farinha, a farofa e sobremesas. Barros incluiu duas criações feitas com a fruta em seu menu degustação, que é composto por seis pratos, e custa R$ 120. Neste cardápio, o cliente pode provar o ravióli de macaúba com camarão e creme brulé --uma sobremesa clássica feita com creme de leite, ovos e açúcar, e que agora também leva a polpa da fruta brasileira.
A massa do ravióli é feita a partir da polpa da fruta, misturada com trigo e ovos. "Ela fica elástica e é fácil de trabalhar", afirma. A receita serve também para lasanha e macarrão, segundo o chef.
Barros costuma comprar os frutos em um mercado do Recife e torce sempre para que a safra seja boa. “De janeiro a abril tem macaúba [época normal de produção]. Passou disso, ficamos por conta da natureza. Neste ano, estamos tendo bastante”, diz.
Severino Souza, vendedor do Mercado São José, no Recife, conta que a procura maior é para quem quer consumir in natura ou em sucos. “Tem gente que faz xarope [com a fruta], para tomar quando está com tosse ou gripe. A venda costuma ser boa”, afirma.
Souza vende uma embalagem com 15 frutos por cerca de R$ 2 no mercado.
Fruta tem propriedades nutricionais e cosméticas
A macaúba é versátil até no nome. Pode ser chamada de macaíba ou bocaiúva. Ela nasce numa palmeira e é nativa em toda a região do cerrado brasileiro. É produzida comercialmente no Centro-Oeste, em São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais, principalmente.
De acordo com a pesquisadora e professora da Universidade Federal de Mato Grosso Priscila Becker, a macaúba é rica em vitaminas A e E, betacaroteno, lipídeos e antioxidantes.
A professora estudou o fruto para seu doutorado em bioquímica e descobriu que, até então, não havia pesquisas com ela. “A macaúba é muito interessante. Possui até características que poderiam transformá-la em matéria-prima para produtos cosméticos”, afirma, como aroma e propriedades hidrantes.
Segundo Priscila Becker, a macaúba tem uma casca muito fina, bastante aderente à polpa, e uma noz dentro do caroço que é difícil de quebrar. “Por conta disso, ela acaba sendo indesejada e pouco explorada”, diz.
Frutas do cerrado, como esta, têm despertado o interesse de pesquisadores e consumidores, segundo a professora. “A pesquisa é só um passo para elas serem mais conhecidas, inclusive internacionalmente”, afirma.
O fruto e os pratos feitos a partir da macaúba serão apresentados pelo chef Claudemir Barros no Semana Mesa SP, que acontece entre os dias 5 e 7 de novembro, em São Paulo.
Já entre 19 e 21 de novembro, será realizado o 1º Congresso Brasileiro sobre a macaúba, em Patos de Minas (MG). O objetivo é aprofundar os conhecimentos e as técnicas de produção da fruta no Estado.
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