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Para antecipar colheita, gaúchos produzem morangos suspensos e sem terra

Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo

07/11/2013 06h00

Uma técnica de produção de morangos que não utiliza terra e os mantém longe do chão tem ajudado os produtores do Sul do Brasil a antecipar a colheita e a não depender das mudas vindas da Argentina e do Chile para iniciar o plantio.

A ideia foi desenvolvida por pesquisadores da Embrapa Clima Temperado (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), localizada em Pelotas (RS), e tem sido aplicada em toda a região, tanto na produção de mudas quanto na de frutas.

De acordo com o pesquisador Carlos Reisser Jr., cerca de 100 hectares de plantações de morango já utilizam o sistema no Rio Grande do Sul.

Com a antecipação da produção das mudas --que antes vinham do exterior em maio e agora são produzidas localmente entre janeiro e março--, o plantio também é adiantado. Com isso, a colheita pode ser feita em maio, antes da produção de São Paulo e Minas Gerais, principais produtores da fruta, que chega ao mercado entre junho e julho.

“Estes Estados do Sudeste produzem suas próprias mudas e, portanto, colhem antes”, diz Reisser Jr.

Ao final de maio, as plantações estão prontas para o início da colheita, período em que normalmente não há morangos gaúchos no mercado e quando o fruto alcança até o triplo do valor.

De acordo com o pesquisador da Embrapa, produzir as próprias mudas permite ainda que os agricultores gaúchos se programem para colher depois das outras regiões, o que também seria vantajoso.

Carlos Reisser Jr. informa que as mudas são importadas por falta de produto nacional de qualidade no mercado. Afirma ainda que a época de plantio das mudas é definida a partir da data de sua entrega ao produtor.

“Como consequência, não é possível ter produções precoces, que teriam maior retorno econômico, uma vez que os melhores preços pagos pela fruta são justamente nos meses em que as mudas importadas estão ainda sendo entregues ao produtor, ou seja, final de abril e maio”, diz o pesquisador.

O novo sistema pretende ser uma alternativa ao produtor, mas não deve substituir a muda importada. “O volume adquirido é muito grande e a infraestrutura para isso sairia muito cara”, diz, lembrando que seriam necessários 12 milhões de mudas no Rio Grande do Sul.

Segundo a Embrapa, das 105 mil toneladas de morango que o Brasil produz por ano, Minas Gerais responde por 50%; São Paulo, 22%; e Rio Grande do Sul, 16%.

Sem o uso de terra, plantação leva casca de arroz e solução nutritiva

Além da antecipação das mudas e da colheita, os pesquisadores da Embrapa afirmam que o sistema de produção diminui a necessidade de uso de agrotóxicos. “Calculamos que a redução fique em torno de 90%, já que a ocorrência de doenças é menor”, afirma o pesquisador.

Isso se dá porque, segundo ele, toda praga necessita de água para se desenvolver; como este modo de produção utiliza um sistema fechado de irrigação, não há exposição de água.

Os morangueiros são plantados em canteiros suspensos em bancadas, debaixo de uma estrutura com cobertura de plástico. As plantas são cultivadas em uma espécie de "travesseiro" plástico, contendo uma mistura de casca de arroz carbonizada e adubo, onde as raízes das plantas vão se fixar.

Os nutrientes são fornecidos juntamente com a água, através da irrigação feita por tubos com gotejadores.

Produtor precisa ser qualificado para este tipo de plantação

Localizada em Caxias do Sul (RS), a Granja Andreazza investe na produção de morangos fora do solo há quatro anos. Os produtores foram treinados para saber como plantar e cuidar das mudas logo que a Embrapa iniciou a divulgação do sistema.

Matheus Andreazza, um dos donos do negócio, afirma que gastou o equivalente a R$ 1 por muda produzida para instalar o sistema. O retorno do investimento teria vindo no terceiro ano de produção.

Além do retorno financeiro, Andreazza destaca a facilidade da colheita e a diminuição do uso de adubos e agrotóxicos. “A plantação convencional é rasteira, mais difícil de colher. Neste sistema, ela fica suspensa, dá para colher de pé. O morango é muito mais bonito, graúdo e tenho produção de maio a agosto”, afirma.

Atualmente, a propriedade mantém 400 mil mudas de morango no sistema. A caixa de morango é vendida ao consumidor por entre R$ 5 e R$ 15, dependendo da época do ano.

Os pesquisadores da Embrapa ressaltam, no entanto, que apenas produtores treinados têm condições de aderir a este tipo de plantação.

“Se não souber fazer, é melhor continuar plantando no chão, pois é um sistema que necessita de cuidados, como testes de adubação e quantidade exata de nutrientes. Além disso, o morango é uma fruta bastante sensível”, diz Carlos Reisser Jr.