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Itália bate França na produção de vinhos e rouba mercado do champanhe

Patrícia Araújo

Do UOL, em Roma

08/11/2013 06h00

Na contramão da crise econômica, a produção de uvas e vinhos italianos deve registrar mais um índice positivo em seu faturamento biliardário. Além de ter superado a França como maior produtor mundial da bebida --e de ter roubado mercado do emblemático champanhe com seus espumantes--, a Itália poderá bater recorde histórico nas exportações.

Projeção feita pela Coldiretti (Confederação Nacional dos Empreendedores Agrícolas), com base nos sete primeiros meses do ano, mostra que as exportações italianas de vinho atingirão faturamento de pelo menos 5 bilhões de euros (o equivalente a mais de R$ 15 bilhões) até o final de 2013.

O crescimento será de 9% em relação à receita do ano passado.

A análise da federação mostra ainda que os espumantes, com destaque para o prosecco, foram os vinhos que registraram maior crescimento no valor total de exportações (aumento de 18%), abocanhando uma fatia do mercado que antes pertencia ao champanhe francês.

“O prosecco italiano é um fenômeno que, há cerca de 40, 50 anos, era difícil de prever”, afirma Enrico Peterlunger, coordenador do curso de Viticultura e Enologia da Universidade de Udine, no norte da Itália.

Segundo ele, o sucesso da bebida se apoia em dois pilares: um processo de fabricação simples, com a fermentação feita em autoclave e não em garrafas, como no caso do champanhe; e uma uva especial, a glera, que possui sabor marcante, mas suave.

Os dois fatores juntos são responsáveis por uma bebida de boa qualidade e baixo preço. “O champanhe tem um preço internacional de 23 a 24 euros (cerca de R$ 70) a garrafa. Já o prosecco, que se apresenta como um espumante refinado, tem um custo de 4 a 6 euros (de R$ 18 a R$ 24) a garrafa. Isso torna o consumo muito mais fácil, alcançando inclusive um público mais jovem.”

EUA, Alemanha e Reino Unido são os maiores compradores do vinho italiano

De acordo com o levantamento, os países com maior aumento nas importações de vinho italiano são a Austrália (com crescimento recorde de 23% no montante pago pela compra do produto), Estados Unidos e Rússia (10% cada um), Alemanha (9%) e China (6%).

Em valores absolutos, porém, EUA, Alemanha e Reino Unido devem liderar o ranking dos que mais gastam para consumir a bebida produzida na Itália.

Só em 2012, os EUA pagaram mais de 1 bilhão de euros na compra de cerca 290 milhões de litros de vinho italiano, enquanto a Alemanha gastou 958 milhões de euros com 620 milhões de litros, e o Reino Unido, 535 milhões de euros com 290 milhões de litros.

De acordo com relatório recente da Morgan Stanley, a produção mundial de vinho não vem acompanhando o aumento do consumo, resultando num deficit de 300 milhões de caixas da bebida no ano passado.

Embora não esteja entre os 15 maiores consumidores do vinho italiano, o Brasil também deve registrar aumento nas importações da bebida, superando os 31 milhões de euros gastos na aquisição de 11 milhões de litros de vinho.

Para Domenico Bosco, responsável pelo Departamento Vitivinícola da Coldiretti, a ampliação das exportações se deve principalmente a dois fatores.

“A capacidade dos nossos produtores de se apresentarem no mercado estrangeiro tem melhorado muito. Visto que o consumo de vinho na Itália tende a ser estável, os produtores passaram a fazer uma maior pressão para exportar. Além disso, nos apresentamos ao mercado estrangeiro com uma oferta diferente. A Itália não exporta clássicos como o cabernet sauvignon, mas produz vinhos autóctones, que são únicos e feitos apenas em regiões específicas nossas.”

Pecorino e pignoletto são os tipos italianos mais vendidos no exterior

Levando em consideração o volume, e não o valor do faturamento, os tipos de vinho italiano que apresentaram maior demanda do mercado externo este ano foram o pecorino (aumento de 24% no total de garrafas exportadas), o pignoletto (14%) e o falanghina negroamaro (10%).

Entre os países que encabeçam a lista de consumidores, contudo, as preferências se mantiveram estáveis.

Nos Estados Unidos, a maior parte do consumo de vinho italiano é de chianti, brunello di montalcino, pinot grigio, barolo e prosecco. Na Alemanha, prosecco, amarone della valpolicella e collio são ao mais apreciados. Na Inglaterra, prosecco, chianti e baralo. Na Rússia, chianti, barolo, asti e moscato d’asti.

País é maior produtor mundial da bebida em 2013

A situação atual do vinho italiano é ainda mais relevante no contexto mundial quando se leva em consideração também a produção. Em setembro, a Coldireti já havia confirmado que o volume de produção total de vinhos na Itália tinha superado o da França e conquistado o primado mundial de 2013.

A análise foi feita com base em dados da FranceAgriMer (associação nacional francesa de produtos agrícolas). Ao final de um verão atípico (com chuva de granizo na França), a projeção era de que a produção francesa atingisse no máximo 4,3 bilhões de litros, enquanto a produção italiana bateu os 4,4 bilhões de litros. Um aumento de 8% em relação a 2012.

Atualmente, pouco menos da metade da produção na Itália é destinada ao mercado interno.

Da produção total de 2013, 40% são provenientes de 331 casas vinícolas responsáveis por vinhos DOC (Denominação de Origem Controlada) e de 59 vinícolas DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida); outros 30% de 118 casas de vinhos IGT (Indicação Geográfica Típica); e os outros 30% restantes devem ser engarrafados por casas responsáveis pela fabricação de vinho de mesa.

Para Michele Fino, professor de Direito Romano da Universidade dos Estudantes de Ciência Gastronômica de Pollenzo, embora a Itália tenha atingido um volume de produção relevante, o faturamento do setor ainda deixa a desejar.

“Nós atingimos uma quantidade de produção muito importante, mas devemos absolutamente trabalhar em cima do aumento do preço médio. Não falo em um vinho caro, mas um vinho de faixa média porque, em muitos casos, paga-se muito pouco por nossos vinhos. E dizer que se paga muito pouco por um vinho quer dizer que se paga muito pouco pela uva, quer dizer território usufruído sem um retorno justo.”

Logo atrás de Itália e França, o posto de terceiro maior produtor mundial de vinhos este ano deverá ser ocupado pela Espanha, seguida por Estados Unidos e China, segundo a Coldiretti.