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Fazenda fatura com azeite de abacate e guacamole congelado

José Bonato

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

11/11/2013 06h00

Maior exportadora de abacate do país, a fazenda Jaguacy, de Bauru (329 km de São Paulo), inovou nos negócios há alguns meses fazendo uma parceria para a produção de azeite com a fruta.

Agora, prepara-se para lançar no mercado brasileiro o primeiro guacamole congelado, uma iguaria de origem mexicana feita com abacate, sal, pimenta, cebola e limão.

O produto será vendido inicialmente apenas em Bauru, em embalagens de 500 gramas, a R$ 15. Mas já está disponível para compras online para todo o Brasil, enviado em caixas de isopor, segundo Julia Falanghe Carvalho, 33, responsável pelo setor industrial da fazenda.

De acordo com ela, o guacamole não contém conservantes e mantém características de fruta fresca. Na geladeira, dura uma semana. No congelador, o prazo de validade se estende por um ano.

Abacate exportado é menor e consumido em saladas

A fazenda Jaguacy exportou 750 mil caixas de quatro quilos de abacate para a Europa em 2012. Os abacates produzidos na fazenda --tanto para o mercado externo, quanto para o preparo de polpa congelada, guacamole e azeite-- são das variedades hass e fuerte, preferidas pelos europeus e consumidas em saladas.

Eles têm tamanho menor e menos água na composição do que os abacates comumente encontrados no país. No Brasil, os abacates convencionais chegam a pesar meio quilo. Já os avocados, como são comercialmente chamadas as frutas destinadas à exportação, pesam entre 30 e 300 gramas.

Fazenda produz 50 toneladas de polpa

A participação do setor industrial no faturamento da Jaguacy --que totalizou R$ 9,6 milhões em 2012-- é “irrisória”, mas apresenta grande potencial de expansão.

Em 2011, quando a indústria começou, de acordo com Julia, foram produzidas seis toneladas de polpa. O número saltou para 50 toneladas neste ano e, em 2014, deve chegar a 130 toneladas.

Em parceria com uma empresa de Americana (127 km de São Paulo), a Jaguacy esmaga polpa da fruta para a produção de azeite, batizado com o nome de Hass e ainda pouco conhecido no mercado.

Mercado para azeite de abacate ainda engatinha

O mercado de azeite de abacate no Brasil está “de fraldas” em comparação a países como Nova Zelândia, Chile, África do Sul e México, segundo Ricardo Lama, 63, dono da Americana Óleos Vegetais Ltda., que utiliza a fruta da fazenda Jaguacy para fabricar o produto.

De acordo com ele, o azeite de abacate ainda é desconhecido dos consumidores e tem dificuldade de aceitação no mercado porque a preferência ainda é pelo azeite de oliva. Outro entrave, segundo o empresário, é o preço. “Um litro está na faixa de R$ 30 a R$ 40, não é barato.”

Lama afirma que sua empresa é pioneira na produção de azeite de abacate no Brasil e que o produto está no mercado desde abril deste ano, após um planejamento de três anos. A produção é realizada na fazenda Jaguacy.

De acordo com ele, são produzidos 4.000 litros de azeite durante a safra, que vai de fevereiro a outubro. As frutas são selecionadas, lavadas e, então, têm a casca, a polpa e o caroço separados.

Numa centrífuga, a polpa é fragmentada em água, azeite e massa. O produto não recebe nenhum tipo de produto químico, segundo o empresário.

O azeite é acondicionado em recipientes de 500 mililitros, mas, recentemente, a empresa lançou também o produto em embalagens de 250 mililitros. Os mercados do azeite são a região de Campinas (93 km de São Paulo), Bauru (328 km de São Paulo) e Ribeirão Preto (313 km de São Paulo).

Lama afirma que a grande vantagem do azeite de abacate frente ao óleo de soja, que predomina nas cozinhas, é o que ele chama de “ponto de fumaça”. “A 110ºC, o óleo de soja se satura e se transforma em gordura ruim, o que é prejudicial ao coração. Já o azeite de abacate só fica saturado a 255ºC”, afirma. Para fritar batata, diz Lama, o óleo comum precisa estar a 150ºC, o que o torna saturado.

Além do azeite, a Americana Óleos Vegetais Ltda. também comercializa o óleo de abacate em cápsulas. Cada pote com 60 unidades contendo dois gramas cada custa R$ 30. Devem ser consumidas duas unidades por dia.

Objetivo inicial da fazenda já era a extração de óleo de abacate

A produção de abacates na fazenda Jaguacy teve início em 1975 para a extração de óleo. Como a fábrica não vingou, a opção foi investir no mercado externo, dez anos depois, de acordo com Paulo Roberto Leite de Carvalho, 69, dono da propriedade.

Ele administra o negócio com os filhos: Ligia, que cuida do setor de marketing; Julia, responsável pelo setor industrial; o agrônomo Vitor; e Tiago, da área de finanças e exportação.

“Eu soube que a Europa consumia uma das variedades plantadas, a fuerte. Aí fizemos um contato com o consulado na França, que enviou o nome de importadores de frutas”, afirma Carvalho. A variedade hass foi introduzida posteriormente e hoje ocupa 95% dos 500 hectares da Jaguacy.

Os produtores associados, que produzem em outras regiões, também cultivam a fruta em outros 500 hectares. Carvalho afirma que pelo menos 80% do abacate exportado do Brasil saem da fazenda Jaguacy.

De acordo com o produtor, cada hectare produz 15 toneladas de abacate. As variedades cultivadas são produzidas por enxertia, a partir de um pé-franco (aquele que serve de base para o enxerto). A hass é originária da Califórnia, e a fuerte do México, de acordo com Carvalho.

A pior ameaça aos pomares, diz ele, é um fungo de solo que ataca a raiz e mata a planta, chamado phytophitora.

Durante a safra, de fevereiro a outubro, são empregadas 300 pessoas na Jaguacy. Depois de colhidos, os frutos passam por uma seleção, numa esteira. Aqueles com melhor aspecto são destinados ao mercado externo. Eles recebem uma resina para retardar a maturação e são despachados em contêineres por navio.

As frutas que não são exportadas destinam-se à produção de polpa, guacamole e azeite. No mercado interno, foram vendidos 280 mil quilos da fruta em 2012, para todo o Brasil, segundo Ligia Salanghe Carvalho, 37, do setor de marketing da Jaguacy.