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Com selo de origem para vinhos, região do RS quer virar polo turístico

Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo

18/12/2013 06h00

Os vinhos e espumantes produzidos na região de Monte Belo, no Rio Grande do Sul, ganharam neste mês o selo de indicação de procedência, fornecido pelo Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).

Com a certificação, que atesta a origem e a qualidade dessas bebidas, os produtores da região esperam seguir os passos do Vale dos Vinhedos e ampliar os negócios com vinhos e turismo.

Essa área, também localizada na Serra Gaúcha e vizinha à região de Monte Belo, recebeu o selo de procedência em 2002 e hoje está consolidada como destino turístico para interessados em vinhos.

A região de Monte Belo é formada por áreas dos municípios de Monte Belo do Sul, Bento Gonçalves e Santa Tereza

O Vale dos Vinhedos produz hoje cerca de 12 milhões de garrafas de vinhos e espumantes, 30% a mais do que em 2002, e recebe 248 mil visitantes por ano, contra 60 mil uma década atrás, segundo dados da Aprovale (Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos). São 31 vinícolas na região que podem utilizar o selo.

Monte Belo é uma região de 56 km² (ou 35 vezes a área do Parque Ibirapuera, em São Paulo) composta por partes dos municípios de Monte Belo do Sul (80%), Bento Gonçalves (11%) e Santa Tereza (9%). Outras porções de Monte Belo do Sul e de Bento Gonçalves integram a área do Vale dos Vinhedos.

A área que recebeu o selo reúne 600 propriedades rurais voltadas ao cultivo de uvas, que, juntas, colhem anualmente entre 40 mil e 45 mil toneladas da fruta. Em 2013, a colheita somou 42 mil toneladas, das quais oito mil toneladas destinadas à produção de vinhos de qualidade superior, de acordo com a Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho).

Hoje, dez vinícolas estão ligadas à Aprobelo (Associação de Vitivinicultores de Monte Belo do Sul), que entrou com o pedido para a concessão do selo de procedência.

As uvas utilizadas na fabricação de vinhos de maior qualidade são cabernet sauvignon, merlot, tannat, chardonnay, pinot noir, riesling, carbenet franc e moscatel.

Região produz 100 mil litros de vinhos finos, diz associação

Com a indicação de procedência, Monte Belo quer, além de incentivar o turismo, aumentar as vendas nas vinícolas, que poderão usar o selo após passar por uma vistoria e se adequar a normas exigidas pela certificação.

Entre os procedimentos, estão a padronização nas “receitas” dos vinhos --quantidade de uvas e tempo de maturação, por exemplo-- e no processo de fabricação da bebida, que deve ser o mesmo para todos os fabricantes cadastrados.

Atualmente, a região de Monte Belo produz cerca de 100 mil litros de vinhos de maior qualidade, vendidos por entre R$ 22 e R$ 62 a garrafa, de acordo com a Aprobelo.

De acordo com o sommelier Nelson Luiz Pereira, diretor de degustação da Associação Brasileira de Sommeliers, obter os selos de procedência é um avanço para o mercado brasileiro de vinhos. "É o que já acontece na Europa. Isso ajuda porque a certificação exige regras mais restritivas de produção, o que garante a qualidade", diz.

Para José Ivan Santos, consultor de vinhos e autor do livro "Vinhos, o Essencial" (Ed. Senac), não há dúvidas sobre a qualidade dos produtos com indicação de procedência. "Eles só não são mais competitivos por conta dos impostos, que encarecem o produto frente aos argentinos e chilenos, por exemplo", afirma.

Preço do vinho não deve aumentar por conta do selo

A Aprobelo ainda não sabe avaliar se o volume de fabricação aumentará com a conquista do selo. “Dependemos da demanda”, afirma o presidente da associação, Antoninho Calza, que produz vinhos na região há 19 anos.

“Com a divulgação do vinho e da região, o turista busca conhecer as vinícolas; gosta de degustar, saber a história e comprar o produto direto do produtor”, afirma o enólogo Daniel Dalla Valle, da Casa Valduga, uma das fabricantes de vinhos no Vale dos Vinhedos.

Segundo Dalla Valle, por serem feitos em áreas próximas, os vinhos de Monte Belo e do Vale dos Vinhedos têm qualidades semelhantes.

Hoje, o Vale tem também a DO (Denominação de Origem), selo do Inpi que garante que a qualidade da produção está diretamente ligada às características da região --como altitude, clima e solo, por exemplo.

“Acreditamos que, com estes selos, as pessoas se interessem em descobrir as características de cada região produtora. Hoje, o Brasil já é reconhecido pela qualidade de seus vinhos e quanto mais selos tivermos, mais vinhos de qualidade teremos, o que aumentará o consumo”, diz o presidente da Associação Brasileira de Enologia, Luciano Vian.

A conquista do selo, porém, não deve aumentar o preço do produto, segundo Vian. "Mas quando essa qualidade for percebida no mercado, se não houver um trabalho para suprir o aumento da procura, pode ser que o produto fique mais caro”, diz.

Além do Vale dos Vinhedos e de Monte Belo, as regiões gaúchas de Pinto Bandeira e Altos Montes também já conquistaram o selo de indicação de procedência para vinhos.

Vinho brasileiro usa uvas importadas

Na fabricação de vinhos de maior qualidade, os produtores do Rio Grande do Sul utilizam uvas importadas, a maior parte delas originárias da França. De acordo com o sommelier Nelson Luiz Pereira não há uma uva que seja o símbolo da produção da bebida no país.

"A região Sul, que é o destaque neste mercado, trabalha com muitas uvas, a maioria, importada. Então o vinho brasileiro não tem uma identidade, como acontece na Argentina, por exemplo, que tem a uva malbec como símbolo. [Na Serra Gaúcha] Tenta-se fazer do merlot um ícone, mas ainda estão engatinhando nesse processo", afirma.