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Empresa coreana que vende trator no Brasil aceita café em vez de dinheiro

Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo

14/03/2014 06h00

Uma empresa fabricante de tratores instalada em Guaruva (SC) está aceitando sacas de café como pagamento por suas máquinas agrícolas.

A LS Tractor, divisão da multinacional coreana LS Mtron, instalou-se no Brasil em outubro passado e, desde então, tem feito esse tipo de operação, chamada de barter ("troca", em inglês). Na prática, trata-se do escambo, forma antiga de troca de mercadorias sem envolver dinheiro.

“Fomos questionados por alguns donos de fazendas se aceitaríamos trocar trator por café e achamos interessante”, afirma André Rorato, diretor comercial.

Os produtores de café não tiveram bons resultados na comercialização do grão no último ano. Sem verba para investimentos imediatos, ofereceram o que irão colher no futuro como pagamento.  “É mais prático, porque pagam com o que produzem”, diz Rorato.

Para efetuar a troca, o cálculo é feito com base na cotação média do café no mercado futuro das Bolsas de Londres e Nova York, para o mês previsto para o pagamento. A partir disso, é definida a quantidade de sacas que deverão ser entregues. A dívida pode ser parcelada em até três vezes, uma por safra.

“O valor depende da cotação, mas, fazendo uma conta rápida, um trator de 60 cavalos de potência deve sair por três parcelas de 60 a 70 sacas”, afirma Rorato -- uma saca (60 kg) vale hoje em R$ 450, em média.

O café será entregue a um parceiro da LS Tractor, que se encarregará da venda do produto. Segundo a empresa, não são cobrados juros, nem taxas sobre a operação, e as parcelas são fixas.

Para produtor, negócio é pratico; especialista recomenda comparar

Sabendo desta possibilidade de negócio, o cafeicultor Antônio Marcos Corte, 41, comprou dois tratores e dois kits de equipamentos para as máquinas em janeiro. O custo total foi de R$ 232 mil, e ele pagará por tudo em duas parcelas, cada uma de 238 sacas de café, a partir de 2015.

Corte afirma que quis evitar os trâmites de cadastro e aprovação de financiamentos convencionais, que poderiam ser demorados.

“Se fosse comprar com financiamento, sairia mais barato; mas é mais prático com o café, que eu já produzo e só preciso entregar. Além disso, a negociação é mais rápida”, afirma o produtor, que tem 75 hectares de café em Patrocínio (MG).

Para o professor de finanças da FGV (Faculdade Getúlio Vargas) Hsia Hua Sheng, os agricultores precisam comparar preços e vantagens dos financiamento comuns e do barter.

“As taxas de financiamentos de bancos ou até linhas de crédito do governo costumam ter juros baixos. É importante o comprador observar na modalidade barter se terá algum custo adicional, como com o transporte para entrega do café, e comparar valores para saber o que compensa mais”, afirma.

A LS Tractor vende tratores de 39 a 105 cavalos de potência, com preços que variam de R$ 60 mil a R$ 80 mil. Atualmente, 130 operações nestes moldes foram fechadas e 20 estão em negociação, afirma o diretor comercial.

A empresa espera vender 5.000 tratores por ano, mas não informa qual a expectativa de vendas realizadas através do barter. Por enquanto, não estão previstas negociações com outros tipos de produtos agrícolas.