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Reinaldo Polito

Como falar com quem chega e com quem sai

25/08/2011 16h29

O cotovelo da transição tecnológica é enorme. Começou faz um bom tempo e jamais terá fim. Nessa caminhada revolucionária da tecnologia, nativos digitais ora dão as mãos, ora batem de frente com os imigrantes digitais. Podem estar enganados, entretanto, aqueles que pensam que as questões de relacionamento no mundo corporativo se resumem apenas aos aspectos tecnológicos.

Recentemente fiz palestra no Conarh, o segundo maior evento de recursos humanos do mundo.  Era um mar de gente, todos ávidos por conhecimento, novidades e network. Pouco antes de me apresentar fiquei numa sala reservada ao lado do auditório para me concentrar na apresentação que faria.

Imaginava que essa história de geração y, baby boomer e outras denominações da mesma família havia se esgotado. Afinal, se falou tanto nesse tema que pouco poderia ser acrescentado. Que nada, ouvi pessoas conversando sobre esse assunto em quase todas as rodas ao meu lado.

Alguns diretores de recursos humanos trocavam ideias sobre os desafios das organizações na tarefa de facilitar o relacionamento entre os jovens, que chegavam à empresa com smartphone na mão, e os profissionais experientes, acostumados a enfrentar problemas e a superar desafios. A questão fundamental envolvida é a comunicação.

Um deles comentou sobre a resistência de alguns executivos traquejados para conviver com uma geração que se comporta de forma diferente da que estavam acostumados. De maneira geral os jovens são mais irreverentes, não muito focados e procuram não se submeter às posições hierárquicas.

Nenhum desses diretores criticou a maneira como os jovens e os mais velhos se comportam. Mostraram compreender que essas diferenças são naturais e que com o tempo um ponto de equilíbrio será encontrado. Disseram ainda que às vezes é preciso alertar cada uma das partes sobre a importância dessa boa convivência profissional.

Minha experiência como presidente da ONG Via de Acesso me ajudou a conhecer bem os dois lados. Temos de tratar com executivos tarimbados que precisam conviver com essa garotada que chega ao mercado de trabalho aos borbotões. Assim como temos de orientar os jovens para que entrem de maneira correta nas empresas e possam ser bem-sucedidos em sua carreira.

É curioso notar que alguns ficam tão envolvidos com as tarefas do dia a dia que não se dão conta dessa nova realidade. Temos obtido resultados excepcionais com os jovens. Nossa preocupação principal não é mudar a maneira de ser das pessoas, mas sim mostrar as vantagens que terão na carreira se adotarem uma forma de falar e comportamentos mais adequados.

Embora quase sempre os gestores já tenham consciência dessas diferenças, também temos o cuidado de alertá-los para que vejam os jovens não como irreverentes ou desrespeitosos, mas em um momento de amadurecimento e aprendizado. O resultado também é bom porque os mais refratários passam a ser mais receptivos e compreensivos.

A convivência de gerações tão distintas é uma realidade irreversível. Não há fórmula mágica ou regra pronta para orientar como as pessoas devem se comportar nesse relacionamento. Um bom começo é saber que as pessoas possuem formações diferentes, aspirações e motivações peculiares.

Em que ponta você está? No grupo daqueles que chegam para dar os primeiros passos ou daqueles que se encontram no meio do caminho ou se preparam para apagar as luzes e fechar o livro bem escrito da sua história? Independentemente da situação em que possa estar, o bom senso mostra que é importante evitar os extremos. Não ficar assustado diante de tantas novidades, nem passar a impressão de ser o dono do mundo.

Com o tempo, é possível descobrir que os jovens precisam do auxílio da turma de cabelos grisalhos em tantos assuntos de condução da vida. O fato de não terem domínio da tecnologia, ou se mostrarem até um pouco conservadores não significa que sejam parvos. Só tem a ganhar o jovem que colabora quando lhe pedem ajuda.

Ao passar para o time da velha guarda, o melhor é agir com naturalidade. A experiência, a superação de desafios e a luta para encontrar saídas aos inúmeros problemas presentes na trajetória profissional são um patrimônio valioso. Essa história de vida dos mais idosos não poderá ser substituída por mais voluntariosa que seja a nova geração.

Enfim, nesse ambiente alimentado pelas novas condições tecnológicas, a colaboração mútua, a busca de entendimento e respeito pelas diferenças permitem conquistar de maneira mais serena e confiante as realizações aspiradas. Esse é o princípio da boa comunicação – compreender as diferenças e ajustar o verbo para cada circunstância. É questão de competência e de boa vontade .

SUPERDICAS DA SEMANA

- Domine a tecnologia, mas não se escravize a ela
- A mensagem deve ser transmitida também de acordo com a faixa etária dos ouvintes
- Os jovens se envolvem mais com mensagens que falam de planos, do futuro, de desafios
- Os mais velhos gostam mais de falar do passado e de suas experiências
- As pessoas sempre serão mais importantes que as máquinas
- Se você for um imigrante digital, não tenha vergonha de pedir ajuda a um jovem
- Se você for um nativo digital, sempre que puder ajude quem precisar de você

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como ser bom de papo e se enturmar", em quadrinhos, publicado pela Editora Europa e "Como falar corretamente e sem inibições", publicado pela Editora Saraiva. Todos disponíveis também no formato digital.