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Reinaldo Polito

Pegaram Obama com a boca na botija

29/03/2012 07h00

Obama pensou que estava tendo uma conversa confidencial com Dimitri Medvedev, presidente da Rússia, mas na verdade estava contando ao mundo o que ninguém deveria saber. Sem desconfiar de que sua conversa estava sendo gravada pediu ao colega russo que lhe concedesse mais tempo para tratar da política antimísseis.

Em pouco tempo sua “conversa confidencial” lá na Coreia do Sul já havia se espalhado aos quatro cantos do planeta. O presidente americano pediu a Medvedev que esperasse mais um pouco para falar sobre o assunto: “É minha última eleição, depois terei mais flexibilidade”.

Lógico que os republicanos não deixariam escapar esse trunfo e passaram a criticar Obama de esconder o que realmente pretende combinar com a Rússia. É difícil prever as consequências do fato, mas dá para concluir que o presidente americano não terá vantagens com essa história.

Há quatro anos publiquei um texto aqui mesmo no UOL chamando a atenção para os perigos de se conversar sobre assuntos confidenciais onde quer que seja, pois sempre corremos o risco de sermos flagrados por um microfone espião.

Um dos mais emblemáticos foi o do ex-ministro Rubens Ricúpero, um dos homens que mais admiro na história recente do país. Ele conversava de forma descontraída com o jornalista Carlos Monforte nos bastidores de uma emissora de televisão antes de ser entrevistado.

Apesar da enorme experiência dos dois, não se deram conta de que o microfone que usavam na lapela já estava aberto. Os segredinhos daquela conversa foram transmitidos por uma antena parabólica para todo o país e o ministro perdeu o emprego. Perdemos todos nós porque deixamos de contar com uma das pessoas mais integras e brilhantes do Brasil.

Se observarmos os fatos mais recentes veremos que foram tantos os casos de filmagens e gravações telefônicas que, de uma maneira ou de outra, esses episódios chegaram a mudar a história do nosso país. Quantos homens públicos responsáveis por decisões que afetariam nossa vida foram destronados.

Se esses poderosos estão sujeitos a tais flagrantes, imagine então nós pobres mortais. Mesmo que não tenhamos nada tão comprometedor a esconder, sempre haverá um projeto, uma negociação, uma ideia que precisariam ser preservadas. Por mais protegidos que pensemos estar, vale o velho ditado – as paredes têm ouvidos.

Podem ser perigosas conversas em aeroporto, avião, táxi, sala de espera, saguão de hotéis, sala de eventos. Uma orelha comprida aqui, um microfone sensível ai, uma câmera bisbilhoteira acolá poderão prejudicar planos que levaram tempo enorme para serem desenvolvidos. O risco de prejuízo é tão grande que não compensa negligenciar.

Vou repetir as superdicas que dei há quatro anos e que parecem ser cada vez mais atuais:

SUPERDICAS DA SEMANA

- Não fale em público sobre assuntos confidenciais
- Tome cuidado com o que fala em elevadores, táxis, aeroportos e rodoviárias
- Não converse sobre assuntos sigilosos pelo telefone, seja ele celular ou fixo
- Quando receber visitas, não deixe documentos importantes abertos sobre a mesa
- Lembre-se do conselho de Sêneca: seu amigo tem um amigo, e este amigo tem outro amigo, por isso, seja discreto

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "O que a vida me ensinou", "Como falar corretamente e sem inibições" e "Assim é que se fala", publicados pela Editora Saraiva, também no formato digital.