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Reinaldo Polito

O IPad chegou à tribuna

01/06/2012 07h00

Foi com um misto de estranheza e curiosidade que no ano passado vi a notícia publicada no UOL: Lendo discurso em iPad, Gleisi se despede do Senado. Como é que é, uma senadora usando IPad para ler seu discurso de despedida?! Cliquei imediatamente para assistir ao vídeo, e lá estava a senadora fazendo história com a forma de ler discurso. Pelo menos aqui no Brasil em cerimônia importante.

Sim, porque a leitura de discurso nos tablets, ou o uso desses aparelhos como recurso de apoio como roteiro escrito, ou anotações ocorre desde o aparecimento desses equipamentos. A surpresa foi ver a engenhoca nas mãos de uma senadora no dia da sua despedida.

Para alguns pode parecer algo banal, mas é uma revolução estonteante. Afinal, são séculos de experiência com discursos impressos em papel. A novidade me surpreendeu. Quase sempre é assim, o novo, às vezes, provoca algum tipo de desconforto. Não chego a resistir. Pesquiso, experimento e se for bom, adoto com tranquilidade.

Esperei para ver se a moda pegava. Passado um ano, entretanto, poucos tiveram essa “ousadia”. Vi alguns casos no exterior, especialmente nos Estados Unidos, mas nada que pudesse indicar um novo hábito na forma de fazer apresentações. Afinal, temos de levar em conta que ainda estamos vivendo um processo de transição.

Um episódio interessante ocorreu com Michele Bachmann, candidata à presidência pelo partido republicano nos Estados Unidos. Ela prometeu que não usaria o teleprompter, mas lançou mão de um IPad para ler o discurso. Esse fato ocorreu em dezembro de 2011.

Ela falou ao ar livre e parecia ventar bastante. Um IPad naquela circunstância, embora muito mais pesado, foi mais fácil de segurar que se estivesse usando folhas de papel. Como para a maioria era novidade, dá para notar que as pessoas ao seu lado disfarçavam, mas olhavam mais para o aparelho nas mãos da oradora e prestavam menos atenção ao discurso.

Um caso mais antigo foi noticiado no Canadá: Gordon Barnhart lê discurso usando um iPad em outubro de 2010. A manchete da notícia diz que é só questão de tempo para que o IPad seja usado no parlamento. A foto ilustrativa mostra o orador com o IPad colocado naturalmente sobre a tribuna.

Outra mais antiga ainda, a mais antiga que encontrei sobre o uso do IPad por uma personalidade para ler o discurso foi do Prefeito de Nova Iorque Michael Bloomberg. A notícia é de junho de 2010: Prefeito Bloomberg dispensa cartão de notas por um IPad.  Estou mencionando esses exemplos todos para mostrar que o assunto não é totalmente novo, embora o uso dos tablets para leitura de discurso ainda não tenha se alastrado.

Esta semana um leitor do UOL me escreveu perguntando se teria algum problema se usasse o IPad para ler o discurso de agradecimento a um título de cidadão que recebeu em uma cidade do interior de São Paulo. Logo me lembrei da ministra-chefe da Casa Civil quando se despediu do senado.

Ora, se uma senadora pode usar o aparelho, por que essa pessoa não poderia fazer o mesmo ao agradecer o título que recebeu? Voltei a fazer pesquisas para ver como o mundo estava se comportando diante do fato. Não encontrei nada muito expressivo. Apenas uma experiência aqui, outra lá, nada relevante.

Ponderei bem sobre os motivos que levariam alguém a substituir o papel pelo IPad para ler discursos em público. Relacionei alguns pontos favoráveis, outros contrários e não consegui chegar a uma conclusão para o seu caso. Para não ficar sem dar resposta eu sugeri que continuasse com o papel. A regra é simples: na dúvida, lance mão do tradicional.
 
Embora os tablets sejam desconfortáveis para segurar, exijam bastante traquejo de uso para não provocar insegurança no orador e podem prejudicar a concentração dos ouvintes por ainda serem novidade, não há dúvida que daqui para frente estarão cada vez mais presentes na arte de falar em público. Tirando esses inconvenientes mencionados, são muitos os benefícios.

Considere que você poderá receber discursos de última hora, mesmo que já esteja no evento, diante da plateia. Mostra atualização tecnológica. Permite a escolha do tamanho da letra de acordo com sua capacidade de visão. Possibilita a projeção de gráficos e ilustrações no momento da leitura.

Além dessas vantagens você poderá arquivar no aparelho todos os discursos para que consulte a qualquer tempo. Assim evitará repetir informações para a mesma plateia. Ficará mais simples para disponibilizar em links o texto para jornalistas ou outras pessoas interessadas.

A decisão é sua. Se você estiver acostumado a usar tablets em suas tarefas corriqueiras, provavelmente também se sentirá à vontade para ler discursos nesses aparelhos. Se, entretanto, eles constituírem uma novidade em sua vida, cuidado porque ler diante de uma plateia já não é tão simples, com uma preocupação adicional pode ser até embaraçoso..

SUPERDICAS DA SEMANA

- Não seja resistente às novidades tecnológicas. Esteja aberto para experimentar
- Se estiver inseguro para usar uma nova tecnologia, não arrisque antes de dominá-la
- Treine muito antes de usar um aparelho em suas apresentações
- Observe como os ouvintes reagem aos oradores que se valem das novas tecnologias

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Como falar corretamente e sem inibições", "Superdicas para falar bem", publicados pela Editora Saraiva, também em formato digital.