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Reinaldo Polito

A comunicação da nova Fátima Bernardes

Reinaldo Polito*

26/06/2012 06h00Atualizada em 26/06/2012 11h09

Estreia é quase sempre muito difícil e democrática. A maioria dos apresentadores, tarimbados ou iniciantes, sofrem um desconforto que os impede de mostrar o que possuem de melhor na comunicação. O nervosismo da estreia é tão comum que algumas gafes nem são consideradas pelos críticos.

Lembro-me bem de quando Osmar Santos, o melhor narrador esportivo da história do Brasil, estreou na Rádio Globo depois de ter saído da Jovem Pan, onde havia atuado por muitos anos. Foi um dos momentos mais esperados das transmissões radiofônicas.

Em uma das primeiras vezes em que precisou dizer o nome da rádio saiu o bordão da ex-emissora: "essa é a jovem radio Jovem Pan". O locutor, desconcertado, pediu que o comentarista continuasse um pouco mais com suas análises até que conseguisse se recuperar.

Da mesma forma quando o programa "Na Geral" estreou na Rádio Bandeirantes, um de seus apresentadores confessou no final que a estreia o havia deixado muito nervoso. Mesmo tendo larga experiência como apresentador em programas de rádio, não se sentiu à vontade.

Com Fátima Bernardes não poderia ser diferente. O primeiro programa sob seu comando foi longamente aguardado e gerou enorme expectativa, não só dos telespectadores, como também da apresentadora. Todos queriam saber como seria o cenário, a dinâmica do programa, e até como Fátima se comportaria.

Dediquei minha atenção ao desempenho da apresentadora. Embora ela tivesse muita experiência em entrevistas e à frente do Jornal Nacional, a responsabilidade de um programa só seu, num formato mais popular, exigiria adaptações na maneira de se comunicar. Não poderia ser a mesma, nem ser muito diferente.

Um dos requisitos mais importantes numa empreitada como essa seria manter um sorriso cativante, simpático e sedutor. Nesse aspecto não foi mal, mas também não empolgou. Faltou um pouquinho de naturalidade que, com certeza, aparecerá no transcorrer dos próximos programas.

Uma coisa é ler e interpretar notícias pelo teleprompter --aparelho que exibe textos em telas transparentes, usados por apresentadores de telejornais. Outra coisa muito diferente é falar de improviso, contando apenas com anotações.

Nesse papel, Fátima precisaria se mostrar descontraída, mais leve, evidenciando o tom mais conversacional. Ela estava consciente de que deveria se comportar assim, só que, na maior parte do tempo, exagerou na dose e ultrapassou o ponto.

Na tentativa de ser mais natural e mostrar-se mais à vontade, em certos momentos falou rápido demais, deixando transparecer a ansiedade. A sua dicção, que foi sempre exemplar, perdeu qualidade, atropelando a pronúncia de algumas palavras, suprimindo sons e até sílabas inteiras.

Ela manteve a elegância da postura, tanto para falar em pé quanto sentada. Foi cordial com os participantes do programa, quase como uma cúmplice. Gesticulou na medida certa, e manteve ótimo ritmo em todas as manifestações que fez. Só a comunicação do semblante não correspondeu com perfeição ao sorriso.

Sempre admirei a qualidade da comunicação de Fátima Bernardes. Tenho certeza de que esses atropelos normais da estreia serão corrigidos.

Por mais experiente que seja uma pessoa, estreias como essa são um enorme desafio, provocam insegurança e tiram a espontaneidade. É normal. Imagino que daqui em diante tudo entrará nos trilhos e ela poderá explorar o que existe de melhor e mais eficiente em suas apresentações.