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Reinaldo Polito

Michel Temer e o discurso de despedida do papa

30/07/2013 12h09

O povo brasileiro estava tão hipnotizado com a presença carismática do papa Francisco que praticamente nem notou a figura do vice-presidente Michel Temer que o acompanhava nos últimos instantes da sua visita.

Assim como o bom árbitro de uma partida de futebol é aquele que não erra e passa quase despercebido durante o jogo, também é bom orador aquele que ao fazer a apresentação de um palestrante não mete os pés pelas mãos falando mais que o próprio palestrante.

O orador precisa medir bem o limite da sua participação e fazer um discurso adequado à circunstância. Ao apresentar um palestrante, por exemplo, seu objetivo deve ser o de valorizar as qualificações daquele que vai proferir a palestra e sutilmente motivar os ouvintes para que tenham ainda mais interesse na exposição. Só.

Uma situação mais delicada ainda é a daquele que deve fazer a despedida de uma personalidade no momento da partida. Esse foi o desafio de Michel Temer ao falar na cerimônia em que o papa Francisco se despedia do nosso país.

Além de ser simpático com o papa, estava na difícil posição de falar como representante da presidente da república, diante de uma plateia de centenas de pessoas no aeroporto e de milhões de telespectadores que o assistiam em todos os cantos do Brasil e em algumas partes do mundo. Nem todos seus simpatizantes.

Foi perfeito. Fez um discurso adequado à situação, na medida certa e com conteúdo muito pertinente. Não tentou se aproveitar do momento para fazer propaganda pessoal, nem incluiu informações que pudessem defender alguma causa do seu interesse. Michel Temer falou e disse.

Fez rápidas referências às diversas etapas da visita do papa, tocando nos fatos mais relevantes da passagem do ilustre visitante. Disse o que a maioria das pessoas gostaria de dizer. Sem se estender demais, mas também sem ser conciso em demasia.

Explicou que religião vem do latim “religare”, que significa religar. Conquistou assim uma reação bastante positiva do papa Francisco. Citou o primeiro discurso de sua Santidade quando o Sumo Pontífice chegou ao Brasil. Sobre o trecho em que o papa disse que pedia licença para delicadamente bater na porta de cada coração para nele colocar Jesus Cristo, o vice-presidente complementou:

"Na próxima vez que vier, não haverá mais necessidade de bater nas portas. Elas estão permanentemente abertas pela força de sua presença. Na próxima vez, simplesmente entre sem pedir licença. O coração do brasileiro sempre terá um lugar especial. Vossa Santidade disse que Deus é brasileiro. Digo que o Brasil se tornou um paraíso permanente com Vossa presença”.

Em poucas palavras Michel Temer conseguiu resumir a pregação que o papa fez em sua visita ao Brasil. Falou da evangelização, e de como a tolerância e a paz são importantes para todos, sejam governantes ou governados, sejam empregadores ou empregados, sejam pais ou filhos. Enfim, todos que possam vivenciar a presença de Deus.

Independentemente de preferências políticas ou religiosas essa foi uma aula extraordinária de comunicação. Se alguém ainda insistir em criticar por questões políticas, basta refletir: o que eu teria dito que fosse mais adequado naquele momento de despedida?

E encerrou com a frase mais apropriada a um ilustre visitante que se despede: “Boa viagem e volte logo".

SUPERDICAS DA SEMANA

- Fale só o necessário
- Entenda bem seu papel antes de se apresentar
- Não tente roubar a cena. Essa atitude pode prejudicar a sua imagem
- Prepare muito bem o que vai dizer. Deixe o improviso só para as emergências