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Reinaldo Polito

Faça como a mariposa

13/08/2013 06h00

Houve época em que algumas apresentações eram feitas com apoio de projeção de slides. Especialmente os médicos tinham predileção por esse recurso. Montavam a sequência dos slides em um carrossel, apagavam as luzes do auditório e ministravam a palestra com aquele clac-clac característico do aparelho para a troca das imagens.

Não havia nada melhor como apoio para apresentações científicas, embora profissionais de todas as atividades também recorressem a esse tipo de visual. O “concorrente” do projetor de slides era o retroprojetor, preferido pela maioria. Como quase todas as empresas, escolas, hotéis e casas de eventos tinham um retroprojetor, era sempre mais simples levar apenas as transparências que seriam utilizadas.

O projetor de slides precisava mesmo de ambientes escurecidos para que as imagens ficassem mais nítidas na tela, mas o retroprojetor não. Mesmo assim era comum assistir a algumas apresentações apoiadas com transparências e com as luzes todas apagadas. Também nesse caso havia um barulhinho clec-clec característico mais espaçado, só que aí era o do botão de apagar e acender a lâmpada do retroprojetor na hora de mudar as transparências.

Não era raro encontrar um ou outro ouvinte cochilando no término da apresentação depois que acendiam as luzes. Está certo que alguns palestrantes se transformavam em verdadeiros soníferos com aquela voz monótona e linear. O problema maior, entretanto, residia no fato de as salas estarem escuras. Ah, com boa ajuda dos clac-clac e dos cle-clec.

Alguns motivos levavam os palestrantes a atuar no escuro: as luzes dos projetores não eram tão possantes e precisavam que a iluminação do ambiente fosse reduzida. Outros, mesmo podendo deixar a sala mais clara, preferiam apagar as luzes por inibição. A maioria, entretanto, não tinha consciência de que deveria ser vista pela plateia enquanto falava.

Eram poucos os oradores que sabiam como ajudar a plateia a se concentrar. Deixavam as luzes apagadas durante certo tempo, depois interrompiam a projeção e iluminavam a sala. Tinham o cuidado de se movimentar de vez em quando na frente do público, alternavam o volume da voz e a velocidade da fala. Dessa forma tornavam as apresentações mais dinâmicas, interessantes e eficientes.

Foi curioso observar a fase de transição. Mesmo com o uso generalizado dos computadores para as projeções, muitos profissionais, especialmente da área científica, continuaram se apresentando com os projetores de slides. Primeiro por que já estavam muito acostumados a eles, depois não se conformavam em deixar de lado de uma hora para outra aquele material que consumiu anos para ser produzido e colecionado.

Feita a transição e tendo abandonado de vez os projetores de slides e os retroprojetores muitos oradores, ainda sabendo que as projeções com uso de computadores e projetores mais possantes podiam ser feitas com as luzes acesas, continuaram a se apresentar com os ambientes escurecidos. Nesse caso, ou eram muito inibidos, ou não sabiam que precisavam ser vistos pelo público.

As pessoas se distraem com facilidade. Como o pensamento trabalha numa velocidade muito maior que as palavras, depois de algum tempo, ainda que tenham interesse em acompanhar passam a pensar nos compromissos e nas pendências que precisam resolver. Sem contar que questões físicas como cansaço, fome, sono têm muita influência na capacidade de concentração.

Se o orador falar em lugares escuros, essa desconcentração dos ouvintes pode ser ampliada, e as pessoas perderão a atenção mais rapidamente. Quando falar em público saiba que você é o agente mais importante naquele ambiente. Os seus recursos de apoio podem ser excepcionais, mas jamais poderão ser mais relevantes que você.

Alguns artistas e palestrantes experientes ao pisar no palco onde irão se apresentar, adotam como primeira atitude procurar o local mais iluminado e ficam ali na maior parte do tempo. Sabem que precisam ser vistos para facilitar a interação com a plateia e tornar assim sua apresentação mais eficiente.

Ao falar em público, com ou sem apoio de recursos visuais, faça como a mariposa: procure as luzes e fique no local mais iluminado o tempo que puder. É um cuidado que poderá fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso da sua apresentação. Parece um simples detalhe, mas são esses detalhes que ajudam um orador a ser bem-sucedido.

SUPERDICAS DA SEMANA

- Procure se posicionar na frente do público no local mais iluminado
- Torne sua apresentação mais dinâmica acendendo as luzes nos intervalos da projeção
- Ajude o ouvinte a se concentrar movimentando-se às vezes diante da plateia
- Alterne o volume da voz e a velocidade da fala para imprimir um ritmo interessante

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: "Como falar corretamente e sem inibições", "Recursos audiovisuais nas apresentações de sucesso" e "Superdicas para falar bem", publicados pela Editora Saraiva, também em formato digital