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Reinaldo Polito

Lembranças que emocionam

04/10/2013 06h00

Todos nós, com mais ou menos intensidade, nos envolvemos e até nos emocionamos com sons, cheiros e imagens que marcaram nossa vida. Se soubermos associar o conteúdo das mensagens às possíveis lembranças que marcaram a vida dos ouvintes, aumentaremos as chances de sucesso de nossas apresentações.

Por exemplo, pessoas com mais de 50 anos, tendo ou não vivido em cidades do interior, provavelmente se emocionariam com relatos que falam de trens. Quase sempre as histórias das viagens ferroviárias são recordações tocantes. Esses fatos são tão marcantes que mesmo os jovens que nunca viajaram de trem se sensibilizam com mensagens que tratam dessas experiências.

Vejo por mim, por exemplo. Histórias de trens e ferrovias me emocionam. Elas me remetem a um tempo feliz da minha vida. Embora tenha me valido muito do transporte ferroviário para as minhas viagens, eu me lembro ainda mais do apito do trem das dez que partia de Araraquara, no interior do Estado de São Paulo, para transportar passageiros ou cargas até as mais diferentes localidades.

Era possível acertar o relógio pela regularidade com que aquela cena se repetia todos os dias. Apitava o trem e o carrilhão que ficava na sala de visitas confirmava o horário. Eu me ajeitava debaixo do lençol, já pensando qual o melhor local para brincar no dia seguinte. E lugar bom para as brincadeiras de criança em uma cidade do interior é o que não faltava.

Algumas pessoas viveram momentos de grande emoção quando um palestrante descreveu com detalhes sua vivência com trens. Sua palestra era sobre os problemas e possíveis soluções para os meios de transporte no Brasil. Para falar sobre as vantagens do transporte ferroviário, descreveu sua própria experiência.

Contou como gostava de viajar pelas cidades do interior com o pai. Mencionou detalhes das locomotivas movidas a vapor, do uniforme impecável dos conferentes de bilhetes que circulavam pelos vagões, do barulho característico das rodas deslizando sobre os trilhos.

Embora a experiência fosse do palestrante, os ouvintes se transportaram para momentos em que os trens participaram da vida deles ou de pessoas ligadas a eles, como pais, tios, amigos, vizinhos. Um deles fez um aparte dizendo que ouvir aquelas histórias era como se estivesse revivendo suas viagens de trens na época de infância.

Nunca vi um aluno indiferente quando apresento minha coleção de vagões e locomotivas que mantenho em meu escritório. Dependendo da palestra, se o tema puder ser contextualizado com trens, não hesito em contar as minhas experiências ou dos ferroviários com quem convivi, como meu sogro e meus tios.

Assim como os trens, várias outras experiências são marcantes na vida das pessoas. Quase todo mundo colecionou figurinhas, tampinhas de garrafas, maços de cigarros. Há um universo infindável de informações que fazem parte da história de vida das pessoas e que podem servir para ilustrar os mais diferentes temas das conversas e das apresentações.

Colecione essas histórias. Não importa que não sejam suas. Se você ouviu uma boa história que o tenha remetido aos momentos marcantes da sua vida, provavelmente as suas plateias e seus interlocutores também poderão se emocionar. Não são as histórias em si, mas o que elas produzem na lembrança das pessoas.

São essas experiências que tiram o peso do rigor técnico das apresentações e as tornam mais humanas e sensíveis. O importante é que estejam perfeitamente contextualizadas para não parecer que são incluídas na exposição sem razão de ser.

Precisam estar tão bem associadas à mensagem que devem dar a impressão de que não são histórias, mas sim uma continuidade natural da conversa ou da apresentação. Fazem com que os ouvintes se emocionem, se sensibilizem e fiquem mais dispostos a aceitar as propostas apresentadas.

SUPERDICAS DA SEMANA

- Colecione histórias que possam emocionar os ouvintes
- Compartilhe as boas experiências como ilustração em suas conversas e apresentações
- Conte histórias para familiares e amigos. Se funcionarem use-as em público
- Use as boas lembranças para tocar a emoção dos ouvintes e arejar as conversas

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: “Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas”, publicado pela Editora Saraiva