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Reinaldo Polito

Lula tentou estudar português

24/12/2013 06h00

Todos nós sabemos que o ex-presidente Lula nunca teve lá muito domínio do padrão culto da língua portuguesa. Como é inteligente e conviveu com pessoas muito bem-preparadas, algumas delas intelectuais de bom calibre, aprendeu de ouvido e eliminou muitos daqueles deslizes primários mais grosseiros. Houve época em que chegou a ser ridicularizado por causa dos “erros gramaticais”.

Não sei se em tom de brincadeira ou não, para mostrar como estava evoluindo, disse que não falava mais “menas” nem “meia”. Acho que foi irônico com aqueles que, por intolerância, o criticavam. Apesar dos escorregões gramaticais, Lula soube desenvolver um discurso eficiente e conseguiu com sua maneira peculiar de se expressar se eleger duas vezes à Presidência da República.

Deixou o segundo mandato com mais de 80% de aprovação popular e, se fosse candidato hoje, provavelmente se elegeria com facilidade para um terceiro mandato. Ouvi o ex-presidente Fernando Henrique dizer em uma palestra que o seu maior feito político foi ter derrotado Lula, um dos líderes mais carismáticos que conheceu.

Será que Lula, sendo um líder com projeção mundial, nunca teve interesse em “aprimorar a gramática”? Resolvi pesquisar e descobri que tentou estudar, mas desistiu antes mesmo de começar. De maneira geral é muito difícil descobrir se uma personalidade frequenta algum tipo de curso. Ficar no anonimato tem sido exigência de algumas personalidades que procuram nosso curso de oratória.

Em entrevista dada às Páginas Amarelas da "Veja" em 1993, o filólogo Napoleão Mendes de Almeida, um dos mais respeitados gramáticos da nossa história, revelou que Lula tentou estudar gramática. Chegou a se matricular no seu curso por correspondência, mas não respondeu à primeira lição escrita nem pagou a mensalidade. Disse que Lula simplesmente desapareceu.

Se você abraçou ou resolver abraçar uma carreira que exija boa formação escolar e preparo intelectual, não tenha dúvida de que deslizes elementares de gramática poderão ser fatais para o seu sucesso profissional. Trate de estudar e se aprimorar o máximo que puder. Nunca será tarde demais para aprender.

Por outro lado, se estiver envolvido com atividades que exigem principalmente a conquista do coração das pessoas e a emoção tiver de ser o ponto alto de sua atuação, a correção gramatical pode ser importante, mas, como no caso do Lula, valerá mais ainda sua competência emocional.

Nos dois casos, o resultado positivo deverá ser sempre o maior objetivo a ser conquistado. De nada vale agir com toda correção e esmero técnico se no final a vitória não for conseguida. Essa deve ser uma preocupação permanente: envolvimento e determinação nas causas que abraçarmos. Aí está como exemplo a história bem-sucedida de Lula.

Esses casos, entretanto, são as exceções. Quase sempre vence quem se atira de forma determinada na conquista de seus objetivos, mas que não negligenciou o preparo intelectual. Podem até dizer que se trata de preconceito linguístico, mas, certo ou errado, justo ou não, também somos julgados pela forma como falamos e escrevemos.  

SUPERDICAS DA SEMANA

- Entre falar e escrever de forma correta e atingir objetivos, prefira conquistar as vitórias
- Não pense que as vitórias são alcançadas sempre apesar do despreparo gramatical
- Nunca é tarde demais para aprender gramática. Depende só de estudo e dedicação
- Todos nós podemos cometer deslizes gramaticais. Até Rui os cometeu
- Deslizes gramaticais grosseiros, entretanto, precisam ser afastados

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: “Como falar corretamente e sem inibições” e “Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas”, publicados pela Editora Saraiva