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Reinaldo Polito

Quem segura a crise corintiana?

Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians
Imagem: Daniel Augusto Jr/Agência Corinthians

15/02/2014 06h00Atualizada em 16/02/2014 06h45

As organizações têm um grande temor: serem envolvidas em uma crise. Por isso a maioria das grandes empresas possuem departamentos que atuam na prevenção de crises. O pior que poderia acontecer seria tentar resolver a crise apenas quando ela já estivesse instalada, por isso a prevenção.

Profissionais das áreas de relações Públicas e da alta administração preparam com bastante antecedência e critério ações preventivas e emergenciais para fatos que possam prejudicar a imagem da empresa. Quando a crise aparece a força tarefa entra em ação para não deixar que os problemas saiam do controle.

Exemplos de crise é que não faltam. Todos nós podemos nos lembrar de pelo menos um caso que tenha abalado a imagem de uma empresa, ou mesmo que a tenha levado à falência. Hotéis que serviram comida estragada aos hóspedes, incêndio em casa de show, executivos que falsificaram documentos, remédios que provocaram doenças em vez de curar.

Todos os funcionários são importantes na gestão de uma crise, desde aqueles que atuam na base da pirâmide hierárquica até o presidente da empresa. Ninguém pode ser apenas observador, cada um precisa estar comprometido, agindo e torcendo pelo sucesso das ações de combate à crise.

Embora o papel de cada um seja fundamental, há um em particular que não pode cometer deslizes, o porta-voz. Além de conhecer todas as operações da empresa e estar ciente das estratégias planejadas, deve ser excelente comunicador.

O porta-voz precisa ter inquestionável habilidade para falar em público, saber enfrentar as câmeras de televisão com tranquilidade, ter domínio para falar diante dos microfones das emissoras de rádio e conversar com desenvoltura com jornalistas da imprensa escrita.

Uma palavra distorcida, uma frase mal encaminhada, uma reação fisionômica inadequada pode prejudicar o trabalho de todos os profissionais que se envolveram nos procedimentos de combate à crise. Por isso, o porta-voz deve ser escolhido a dedo e preparado com todo o critério para que desempenhe sua tarefa com competência.

Recentemente o Corinthians, um dos mais populares clubes da história do país, e um dos maiores vencedores dos últimos anos perdeu a mão e passou a viver uma das crises mais fortes da sua existência. Por causa dos maus resultados um grupo de torcedores invadiu o Centro de Treinamento e chegou a agredir alguns dos seus jogadores mais importantes.

Esse fato tirou ainda mais a tranquilidade da comissão técnica e do plantel fazendo com que outros resultados negativos fossem contabilizados. Nervosos os jogadores perderam o equilíbrio emocional e acumularam outras derrotas. Alguns atletas, como Paulo André, resolveram deixar o time tornando a crise ainda mais grave.

O presidente Mário Gobbi, comandante do clube durante as mais extraordinárias conquistas corintianas, tentou explicar a difícil situação que estavam atravessando, mas seu coração de torcedor falou mais alto e chegou a abandonar uma entrevista na metade, sem dar resposta ao jornalista.

E olha que ele se preparou para essas situações. Eu me lembro de quando apareceu na minha escola dizendo que queria aprender a falar melhor para assumir a presidência do Corinthians e voltar a ser campeão com o time que tanto amava. Atingiu seus objetivos, mas no momento atual o pavio estava muito curto para esses confrontos.

Aí é que entra a habilidade de comunicação do técnico Mano Menezes. Um craque no uso da palavra e na arte de enfrentar e contornar momentos de crise. Não é de hoje que Mano dá mostras da sua competência. Quando foi técnico na última vez tinha sempre uma boa resposta na ponta da língua.

Se um jornalista afirmava que o Ronaldo estava fora de forma e não se movimentava em campo, ele dizia com tranquilidade que o jogador era tão excepcional que bastavam apenas três ou quatro bolas para resolver a partida e dar a vitória ao time. Ronaldo não decepcionava. Mesmo acima do peso, de vez em quando fazia um golaço e continuava andando em campo.

Na crise corintiana atual Mano se superou. Faz o papel do porta-voz com tanta competência que chega a dar inveja aos mais tarimbados especialistas. Nunca foge das perguntas e raras, raríssimas vezes chega a se alterar diante das perguntas mais agressivas. Defende os atletas, explica as táticas, justifica os resultados, dá razão à torcida, critica os torcedores que agrediram os jogadores.

Mano fala com voz pausada, gestos moderados, palavras bem escolhidas. Usa argumentação lógica, sempre chegando à conclusão a partir de premissas bem elaboradas. Provavelmente o Corinthians não contratou Mano Menezes com a intenção de transformá-lo num para-raios, mas nessa pressão emocional que é a paixão no futebol, usando uma linguagem da própria atividade, ele está tirando de letra.

SUPERDICAS DA SEMANA

- Não deixe para se preparar apenas quando a crise bater à porta
- Se atuar como porta-voz, ensaie bastante as respostas
- Durante uma crise aja rápido, mas sem precipitação
- Aprenda com o exemplo dos bons profissionais que atuam nas crises

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: “Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas”, “Como falar corretamente e sem inibições” e “Oratória para advogados e estudantes de direito”, publicados pela Editora Saraiva