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Reinaldo Polito

Futebol brasileiro execrado

O zagueiro  David Luiz deixa o gramado chorando após a derrota do Brasil por 7 a 1 para a Alemanha - AFP PHOTO / GABRIEL BOUYS
O zagueiro David Luiz deixa o gramado chorando após a derrota do Brasil por 7 a 1 para a Alemanha Imagem: AFP PHOTO / GABRIEL BOUYS

10/07/2014 12h50

Estou triste. Muito triste com o resultado da partida em que o Brasil perdeu para a Alemanha por 7 a 1. Durante o tempo todo fiquei me beliscando para confirmar se não estava tendo um pesadelo. Imaginei o desespero dos jogadores levando 4 gols em apenas 6 minutos.

Bem, até aqui acho que estou refletindo como a maioria do povo brasileiro. Daqui para frente suponho que terei poucas pessoas comungando com a minha forma de pensar. Terminado o jogo, passeei pelos comentários das emissoras de rádio e de televisão. Todos execrando a seleção brasileira.

De incompetentes a burros, ouvi todos os adjetivos possíveis. Até alguns impublicáveis. Jogadores, técnico, comissão técnica, dirigentes. Não sobrou pedra sobre pedra. A impressão que tive é a de que estavam todos estirados no chão sendo pisoteados e achincalhados.

Não ouvi uma voz tentando defender ou pelo menos explicar o que ocorreu. Foi mais ou menos o que presenciamos quando o Brasil perdeu da Holanda na última copa. Queriam apedrejar o Dunga. Talvez eu tenha sido um dos poucos a sair em sua defesa. Não só para defender por defender, mas para expor um lado que talvez não estivesse sendo avaliado.

Mesmo ganhando o Tetra, Parreira até hoje recebe críticas por não ter apresentado um futebol vistoso. Há pouco num programa de televisão perguntaram a Cannavaro, grande capitão do selecionado italiano, o que achava de o Parreira ainda ser criticado. Ele disse: "Se não gostaram, deem o título para nós. Aceitamos de bom grado".

Quando a campeã mundial, Espanha levou uma sapatada de 5 a 1 no início da Copa ouvi muita gente dizendo que foi apenas um acidente. Principalmente jornalista baba-ovo que vive enaltecendo o toque de bola mágico dos espanhóis. Agora não. Os 7 a 1 se constituíram num vexame, numa marca que vamos carregar para o resto da vida. Ninguém falou em acidente.

Criticar e apontar erros depois da tragédia é fácil. Alguns dirão: "ah, desde o princípio foi avisado que o time não estava consistente, que ficou dependente apenas do Neymar, que o meio de campo não atuava bem, que o Felipão devia ter treinado mais". E tantos outros argumentos que poderiam ser considerados.

Perder ou ganhar faz parte do jogo. Passar por um apagão e levar 4 gols em 6 minutos é a tragédia que ninguém poderia prever. Quando o jogo começou, ouvi comentaristas dizendo que haviam gostado da escalação. Pouco depois se esqueceram do que disseram e com a faca nos dentes passaram a vociferar.

Tentando entender a motivação de tantas críticas, talvez a explicação esteja na falta de outras conquistas a comemorar. Já não temos mais Senna aos domingos. Nem Guga ganhando Roland Garros. Muito menos estamos felizes com a política ou com o desenvolvimento econômico.

O futebol de tantas glórias e vitórias, inclusive com Felipão e Parreira, parece ser a única fonte de alegria. Sem ela, ficamos sem esperanças. Se tivéssemos a mesma indignação, por exemplo, com os governantes que décadas após décadas negligenciam o que mais precisamos para a felicidade e bem-estar do nosso povo, aí sim poderíamos vislumbrar dias melhores. Quanto ao hexa, vamos comemorar na Rússia.

SUPERDICAS DA SEMANA

- As maiores derrotas nos dão os melhores ensinamentos
- Os erros são úteis quando nos ensinam
- Devemos criticar os erros, mas não podemos nos esquecer dos acertos
- Por maior que seja uma tragédia, a vida continua. Devemos seguir em frente

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: “O que a vida me ensinou” e “Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas”, publicados pela Editora Saraiva