Fidel Castro pode ser questionado na política, mas é um orador a se admirar

O técnico Tite protagonizou um dos momentos mais hilários na comunicação dos treinadores de futebol. Na semifinal do Campeonato Paulista de 2011, durante uma discussão que Tite teve à beira do gramado com o então técnico palmeirense Felipão, o treinador corintiano disse: fala muito, fala muito.

Essa troca de farpas ficou para a história. Hoje é comum ouvir essa frase quando uma pessoa quer dizer que alguém está falando demais. Se tem alguém, entretanto, que falou muito, mas muito mesmo foi o líder e ditador cubano Fidel Castro.

Fidel Castro reapareceu duas vezes na última semana. Estava sumido do público havia mais de um ano. Sua última aparição havia sido em 8 de janeiro de 2014. Seu folclore oratório faz falta. Vou me referir a ele como orador no passado, pois com 88 anos não voltará a frequentar as tribunas.

Fico impressionado como as pessoas se lembram dele com frequência, mesmo tendo deixado o poder em 2006. A comunicação de Fidel Castro ficou marcada especialmente por causa dos seus longos discursos. Não me lembro de outro orador que tenha falado tantas vezes por tanto tempo.

Por isso, todos que se referem a ele mencionam a duração de seus discursos. E sempre com a intenção de criticar. Só em uma ou outra situação as pessoas fizeram comentários elogiosos, destacando sua apurada técnica oratória. Fidel podia ser prolixo, é verdade, entretanto, ninguém pode negar que foi um craque nos palanques.

A impressão que as pessoas têm é a de que a plateia ouvia seus discursos por obrigação. Grande engano. O público ficava maravilhado e ouvia suas mensagens durante horas. Não há dúvida de que Fidel sempre será lembrado como um dos maiores oradores de todos os tempos.

Fidel Castro usava ironia como ninguém. Tinha ótima expressividade e, às vezes, até chegava a ser debochado e caricato. Quem analisa a comunicação do líder cubano sem levar em conta as questões políticas destaca sua eloquência e extraordinária capacidade para magnetizar e envolver plateias, dentro e fora de seu país.

À medida que os anos passavam ia aumentando o tempo de seus discursos. A primeira vez que falou muito foi em 1956. Discursou durante cinco horas, para dizer que a História o absolveria. Rompeu essa marca em 1959. Dessa vez segurou a atenção do público durante sete horas, logo após ter derrubado o poderoso Fulgêncio Batista.

Fidel bateu seu próprio recorde em 1998. Falou em pé durante sete horas e quinze minutos. Você não se enganou na leitura não. É Isso mesmo - sete horas e quinze minutos de discurso! Não consigo imaginar outro orador que tenha a capacidade de manter a atenção de uma plateia durante tempo tão prolongado.

Um dos episódios mais famosos da sua vida como orador ocorreu em setembro de 2000, na Cúpula do Milênio, em Nova York. Ao se dirigir à Tribuna da Assembleia da Organização das Nações Unidas, havia na plateia uma enorme expectativa para saber como Fidel, que gostava de falar tanto, poderia restringir seu discurso ao tempo máximo determinado de cinco minutos.

Nesse dia Fidel foi genial. Ao chegar diante do público e deparar-se com a lâmpada amarela localizada sobre o pódio, com a finalidade de indicar que o tempo do discurso estava terminando, de maneira espetacular, retirou um lenço branco do bolso e a cobriu ostensivamente. Esse gesto improvisado e espalhafatoso revelava, de maneira irônica, que a questão do tempo para ele não seria considerada.

As personalidades mais importantes do mundo, como presidentes, reis, ministros não resistiram àquela cena e caíram na gargalhada. Um show! A maneira como Fidel Castro conduziu a vida de Cuba e dos cubanos poderá ser questionada, mas sua competência oratória e sua habilidade para liderar as plateias serão sempre motivo de admiração. Sem dúvida, esse falou muito.