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Reinaldo Polito

Michel Temer falou pouco, disse muito e mostrou que é do ramo

Davi Ribeiro/ Folhapress
Imagem: Davi Ribeiro/ Folhapress

15/04/2015 06h00

O discurso curto e objetivo de Michel Temer, falando sobre as manifestações do último dia 12, em uma de suas primeiras aparições como articulador político do governo já fez contraponto com a comunicação dos ministros que falaram logo após a manifestação do dia 15 de março. Mostrou que falar bem não significa necessariamente falar muito. 

Logo após as manifestações de março, os ministros José Eduardo Cardozo (da justiça) e Miguel Rossetto (da Secretaria-Geral da Presidência) foram para a arena tentar defender o governo e acabaram cutucando a fera com vara curta. Falaram numa entrevista coletiva e provocaram um panelaço como resposta às suas palavras.

Aquela não era hora de falar em terceiro turno, golpismo e manifestações feitas por quem não votou em Dilma. Teriam sido mais bem-sucedidos se evitassem o confronto verbal com os manifestantes, não defendendo o governo de maneira tão ostensiva. Agiriam melhor se dessem a entender que o governo havia assimilado as reivindicações das ruas.

O resultado dessa entrevista coletiva foi tão desastroso que o governo decidiu não dar declarações depois das manifestações desse domingo (dia 12). Sabiam que se escalassem alguém para falar diante das câmeras, outras batidas de panelas seriam ouvidas. Como o velho ditado diz que cachorro que leva garrafada não passa na frente de bar, ficaram calados.

Aí entra em cena alguém que é realmente do ramo, Michel Temer. Com poucas palavras conseguiu fazer o que os dois ministros não conseguiram na entrevista coletiva. O vice-presidente mostrou que com boa comunicação tudo pode ser resolvido com mais eficiência.

Ao sair do velório do ex-ministro Paulo Brossard, que faleceu neste domingo (dia 12), Temer gastou apenas duas ou três frases para comunicar tudo o que precisava e da forma mais apropriada possível.

Disse: "Nós temos que estar muito atentos a estas manifestações. O governo está prestando atenção. Elas revelam, em primeiro lugar, vou dizer o óbvio, uma democracia poderosa. Mas, em segundo lugar, o governo precisa identificar quais são as reivindicações e atender as reivindicações. É isso que o governo está fazendo”.

Alguns críticos até chegaram a dizer que ele quis dar uma cutucada nos manifestantes. Disseram que ao mencionar que “o governo precisa identificar quais são as reivindicações” estava fustigando os manifestantes, insinuando que não sabiam o que estavam reivindicando.

Tudo o que dissesse além dessa curta e óbvia declaração, entretanto, poderia ir de encontro ao sentimento da população, que ainda estava com a faca nos dentes, morrendo de vontade de tirar as panelas do armário. Não sei se o discurso foi planejado ou se saiu de improviso, mas foi o mais adequado para o momento. Coisa de profissional.

Ao aceitar a função de articulador político do governo, Temer assumiu uma das mais difíceis tarefas da sua carreira. Dilma está com a aprovação popular ladeira abaixo, batendo de frente com os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados e até com alguns companheiros do próprio partido. Sem contar que as perspectivas econômicas do país são extremamente negativas.

Como articulador político Temer vai perambular num verdadeiro inferno. Vai ter que gastar muito verbo para pôr a casa em ordem. Independentemente das questões políticas, teremos uma excelente oportunidade para observar na prática a aplicação das técnicas de comunicação.

Se Temer acertar, saberemos como agir em circunstâncias semelhantes. Se errar, o aprendizado poderá ser ainda mais valioso, pois, às vezes, aprendemos mais com os erros que com os acertos. Vamos acompanhar. A declaração desse domingo foi só o primeiro round.. 

SUPERDICAS DA SEMANA

- Poucas frases podem, às vezes, transmitir a mensagem completa
- Em situações emocionais delicadas, para não se comprometer diga só o óbvio
- Quando enfrentar opiniões formadas evite o confronto. Concorde com o que puder
- O interlocutor sai da defensiva quando percebe que temos opiniões coincidentes

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: “Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas”, “Como falar corretamente e sem inibições”, “Superdicas para falar bem” e “As melhores decisões não seguem a maioria”, publicados pela Editora Saraiva.