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Reinaldo Polito

Eduardo Cunha usa tática retórica para combater ideia de impeachment

20/04/2015 11h32

Governo, aliados e opositores se valem de táticas sofisticadas de comunicação para defender suas posições. São estratégias retóricas que permitem a eles ora partir para o ataque, ora reforçar suas trincheiras defensivas. Os artifícios vão desde o uso de premissas que se embaralham com intuito de chegar à conclusão que desejam, até sofismas arquitetados em bases inconsistentes.

Agora foi a vez de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Sempre elogiado pela extraordinária competência oratória, com língua afiada e respostas prontas e contundentes, mostrou mais uma vez por que chegou à presidência da Câmara dos Deputados fazendo oposição ao candidato apoiado pelo governo de Dilma.

Cunha usou os conselhos dados pelo pensador Arthur Schopenhauer, que viveu de 1788 a 1860 (nasceu em Danzig, Prússia – atual Gdansk, Polônia). Em sua obra “Dialética erística”, ou “Como vencer um debate sem precisar ter razão” o autor desenvolve 38 estratagemas enganosos para se vencer um debate ou uma discussão. Schopenhauer sustentou sua tese especialmente nos Tópicos de Aristóteles.

A estratégia número 33 de Schopenhauer mostra que, para vencer uma contenda verbal, o debatedor pode invalidar a teoria pela prática. Diz que: “O que pode estar certo na teoria, na prática está errado”, e vice-versa. 

É um artifício que leva as pessoas a acreditar que havendo contradição entre os conceitos teóricos e sua aplicação prática a conclusão pode ser negada mesmo que a premissa seja verdadeira.

Foi o que fez Eduardo Cunha ao participar no sábado, dia 18, do Fórum de Comandatuba, no Sul da Bahia. Primeiro afirmou que a irregularidade das manobras fiscais promovidas pelo governo de Dilma Rousseff em 2014 não coloca em risco o atual mandato da presidente.

Depois ponderou que “O que chamam de pedalada eu acho que é uma má prática das contas públicas, de adiar pagamentos para fazer superávits primários que não correspondem à realidade (teoria). Isso vem sendo praticado ao longo dos últimos 10 a 15 anos e não tinha nenhuma punição (aplicação prática)”. 

Ora, se a teoria está certa, deveria valer também para a prática. Como a prática não considerou a teoria nesses anos todos, a teoria agora também não pode ser considerada.

Como diz a propaganda – palmas para ele com chapeuzinho de festa. Schopenhauer deve estar sorrindo em seu descanso eterno ao constatar que sua tese está sendo aplicada com tanta competência. E, talvez, sussurrando: ei, turma, essa é apenas uma das táticas argumentativas, há mais 37 lá na minha obra esperando por vocês.

E como desmontar essa estratégia argumentativa? Simples: uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

SUPERDICAS DA SEMANA

- Todo argumento pode ser contestado. Em todos os casos considere sempre a ética
- Separar a prática da teoria é uma boa tática para vencer debates
- Desestabilizar o adversário é um bom recurso para vencê-lo
- E quando o adversário usa argumentos sólidos e complexos, o que fazer?
- Ironize e diga que não entendeu. Dará a impressão de que ele está equivocado

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: “Assim é que se fala”, “Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas”, “Como falar corretamente e sem inibições”, “Superdicas para falar bem” e “As melhores decisões não seguem a maioria”, publicados pela Editora Saraiva.