Indignação sem se exaltar: segredos da oratória de Janot para se reeleger
Rodrigo Janot foi aprovado pelo Senado na quarta-feira (27) para exercer mais um mandato como chefe do Ministério Público. O resultado foi folgado, com 59 votos a favor, apenas 12 contra e uma abstenção. Antes do resultado do plenário, Janot havia se submetido à sabatina da CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania), conseguindo 26 votos a favor e somente um contrário. A posse para o segundo mandato será no dia 17 de setembro.
A sabatina de Janot foi concorrida principalmente porque 13 senadores estão sendo investigados na Operação Lava Jato, em inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal). Um dos senadores que mais tem criticado a atuação do procurador-geral é Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Em duas oportunidades, Collor se valeu da tribuna do Senado para criticar Janot, chegando mesmo a usar expressões chulas para atacá-lo. A arguição do senador alagoano era, portanto, esperada com grande expectativa.
Durante a sabatina Collor foi veemente e se municiou de farto material para encurralar o procurador-geral. Usou a ironia, o deboche e até certa agressividade na tentativa de desestabilizar e desqualificar Janot. Tomou todo o tempo disponível para sua participação na sabatina e voltou à carga durante a fase da réplica, sempre insistindo nas questões mais delicadas.
O procurador-geral foi firme nas respostas. Demonstrou certo nervosismo apenas no momento em que precisou falar do irmão que havia falecido. Nessa circunstância, ao refutar as acusações de Collor, disse: “Não vou me referir (ao caso do irmão) em respeito aos mortos e não participarei de exumação pública de um homem que nem sequer pode se defender”. Fora esse episódio rebateu cada um dos ataques com segurança e determinação.
Manteve esse comportamento durante todas as longas dez e tantas horas em que foi sabatinado. Falou de maneira pausada, com frases completas, bem articuladas e concatenadas, sem se exaltar em nenhum momento. Essa atuação equilibrada e serena foi uma expressiva demonstração de autoridade, que lhe conferiu a credibilidade exigida pelo cargo pleiteado.
Além de responder a todas as questões formuladas e rebater as acusações de alguns dos senadores, aproveitou para fazer afirmações que não poderiam ser refutadas, pelos princípios elevados que encerravam como, por exemplo, “todos são iguais perante a lei”, ou “não há futuro viável se condescendermos agora com a corrupção”.
Esse foi um bom exemplo de boa comunicação. Agiu com naturalidade. Usou a veemência e a indignação na medida certa. Conseguiu se valer de argumentos elevados que não poderiam encontrar objeções, para fortalecer ainda mais sua credibilidade. Passou a imagem de seriedade, respeitabilidade, preparo e muita competência.
Janot demonstrou na prática o que as boas técnicas da oratória recomendam a quem precisa se apresentar em público, tendo ou não de responder a perguntas ou de se defender de acusações como ocorreu na sabatina a que se submeteu para conquistar sua reeleição ao cargo de chefe do Ministério Público.
Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: “Assim é que se fala”, “Como falar corretamente e sem inibições”, “Oratória para advogados e estudantes de direito”, “Superdicas para falar bem”, “Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas” e “As melhores decisões não seguem a maioria”, publicados pela Editora Saraiva.
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