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Reinaldo Polito

Se depender dos discursos, Dilma tem poucas chances

18/09/2015 06h00

Dilma está num mato sem cachorro. Para se defender dos problemas econômicos e políticos enfrentados pelo seu governo foi obrigada a lançar mão de um recurso que passa distante da sua praia: os discursos. Todos nós sabemos que, em situações normais, a presidente não é muito habilidosa para falar em público. Pressionada, então, é quase um desastre.

Para não correr riscos de ser vaiada, já que bater panelas virou esporte nacional quando alguém do governo faz discurso, tem se apresentado diante de plateias amistosas, que se beneficiam das ações governamentais, ou em momentos festivos que não oferecem perigo de reações adversas. Falou na entrega do 28º Prêmio Jovem Cientista, no Palácio do Planalto, e na entrega de casas no programa Minha Casa, Minha Vida.

A estratégia até que é interessante. Quando a presidente faz um discurso, o objetivo não é o de transmitir a mensagem apenas para as pessoas que estão ali na plateia. Ela sabe que os meios de comunicação irão retransmitir suas palavras para todo o país. Portanto, como todos vão saber o que ela falou, fica mais confortável discursar diante um público amigável.

Como sabe que tudo o que disser nessa época de turbulência será analisado com lupa, não arrisca uma vírgula, joga uma ficha no preto e outra no vermelho.  Quando pode ler, não hesita em levar o discurso pronto, com palavras perfeitamente medidas. Nas situações em que tem de falar “de improviso”, repete frases curtas, como se fosse uma ladainha.

Público percebe quando falta coerência

Embora alguns discursos tenham ajudado certos políticos a se safar de situações em que se encontravam encurralados, de maneira geral não têm muita utilidade quando a opinião pública está mais ou menos cristalizada. A fama do orador o precede. Ao se dirigir à tribuna, toda sua reputação é levada em conta antes mesmo de pronunciar a primeira frase.

Quem fala em público não é avaliado apenas por suas palavras, mas sim -e principalmente- pelo que fez ou deixou de fazer. Por mais extraordinário que seja o seu discurso, não conseguirá atingir a plateia se as palavras não encontrarem respaldo em suas ações. Um dos principais requisitos para a credibilidade de quem fala em público é a coerência.

A interpretação, o teatro e a dissimulação serão percebidos pelos ouvintes. Por isso, mesmo que Dilma se supere na arte de se apresentar em público, o que dificilmente ocorrerá, seus discursos serão infrutíferos. Suas pausas planejadas, suas repetições medidas, suas ênfases programadas serão vistas como artifício retórico.

Ainda que fale de otimismo, mesmo que afirme estar entusiasmada, sua maneira de se expressar poderá traí-la. Principalmente o público que está fora daquela plateia organizada para aplaudir e homenagear perceberá, na hesitação do gesto, na contração do semblante, no titubear da voz, que o discurso é um, mas que a realidade pode ser outra.

Será que os discursos vão surtir efeito?

A presidente subiu o tom. Não poupou críticas àqueles que desejam apeá-la do poder. Disse que “qualquer forma de encurtar o caminho da rotatividade democrática é golpe, sim. É golpe. Principalmente quando esse caminho é feito só de atalhos”.  E ressaltou: “Tem muita gente no nosso país que aposta no quanto pior melhor. Mas isso prejudica a população”.

Em outros momentos, talvez essas palavras fossem recebidas com boa vontade. O discurso seria analisado apenas pela mensagem em si. Na circunstância atual, entretanto, quando a maioria supõe que o objetivo do discurso parece ser apenas a defesa do seu mandato, provavelmente seja recebido com desconfiança.

A política é dinâmica. Há momentos em que a opinião pública muda como se fosse uma biruta na ventania. Há muitos interesses em jogo. Como dizia Jânio Quadros, em política não existe amizade, mas sim conveniências. Até diante de um quadro tão adverso, nada é impossível. A oposição já se equivocou quando achou que “Lula sangraria até acabar” na época do mensalão.

Vamos acompanhar se essa ousadia de Dilma, se atirando a fazer discursos (que não é das suas principais capacitações), poderá ajudá-la a se manter como presidente. Melhor: que ficando ou saindo do cargo ajude o Brasil a encontrar as soluções para os graves problemas que enfrentamos. Esse objetivo deve estar acima de qualquer discurso.

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse assunto: "Assim é que se fala", "Como falar corretamente e sem inibições", "Oratória para advogados e estudantes de direito", "Superdicas para falar bem", "Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas" e "As melhores decisões não seguem a maioria", publicados pela Editora Saraiva.

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