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Reinaldo Polito

Discurso de Dilma é tão desconexo quanto os do ovo de "Através do Espelho"

12/11/2015 06h00

Oscar Wilde foi genial ao dizer: “A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”. Todos os dias vemos exemplos que confirmam a afirmação desse escritor irlandês. Dilma, por exemplo, de vez em quando mete os pés pelas mãos e fala o que não conseguimos entender. Suas atitudes nos fazem lembrar o ovo Humpty Dumpty, da obra “Através do Espelho”, escrita por Lewis Carroll.

Humpty Dumpty é prepotente, arrogante e despreparado. Fala de maneira contundente sobre o que não tem a menor ideia do que seja. Seus discursos são irônicos, desdenhosos e incompreensíveis. E quando é confrontado para justificar o que acabou de falar, dá explicações ainda mais sem nexo.

Num diálogo com Alice, Humpty Dumpty joga palavras que não têm pé nem cabeça, como se fossem frutos da mais elevada filosofia. Em seguida lança mão de argumentos que também não fazem o menor sentido. Não percebe que assim demonstra despreparo e destrói sua autoridade e credibilidade.

Como eu disse que Dilma tem sido um exemplo de que a vida imita a arte, antes de reproduzir as pérolas de Humpty Dumpty, vejamos algumas preciosidades produzidas pelos discursos da nossa presidente, que se transformaram numa língua toda particular, o dilmês.

Em São Petersburgo, você não poderia ter certeza de que Dilma falava português ou se expressava em algum dialeto antigo de uma região remota da Rússia. Não falou coisa com coisa: “Qual é o rombo? Eu vou dizer para vocês qual é o rombo. Eu quero saber o que há. Eu não sei o que há, não sei. Vocês sabem o que há? Vou fazer um só raciocínio: como vocês sempre sabem isso primeiro do que eu, por que está vindo através de jornalistas, como eu não sei o que há” (Folha de S.Paulo).

Quer mais um bom exemplo? Veja esse discurso proferido em Bauru, interior de São Paulo: “Todos nós aqui sabemos que cada um escolhe – a vida faz a gente escolher – alguma das datas em que a gente nunca vai esquecer dessa data” (Folha de S.Paulo). Ah, bom. Agora ficou claro. Se não fosse essa explicação lógica, como poderíamos entender a questão da data?!

Veja se o dilmês não é o retrato exato das frases de Humpty Dumpty. Nesse diálogo com Alice, o Ovo argumenta que seria mais interessante comemorar desaniversários (364 ao ano), que aniversários (apenas um ao ano). Suas frases, proferidas em tom de firme convicção, são contaminadas por palavras que não permitem a compreensão do seu sentido:

- E isso mostra que existem trezentos e sessenta e quatro dias em que você poderia ganhar presentes de desaniversário.
- É verdade – disse Alice.
- E apenas um para presentes de aniversário, portanto. Há glória para você!
- Não entendo o que você quer dizer com glória – diz Alice.

Humpty Dumpty desdenhou com um sorriso.

- É claro que não sabe...até que eu lhe diga. Eu quis dizer: Há um belo argumento demolidor para você.
- Alice retrucou – Mas glória não significa “um belo argumento demolidor”.
- Humpty Dumpty fala com tom de desprezo – Quando eu uso uma palavra, ela significa o que eu quiser que ela signifique... Nem mais nem menos.
- A questão é – diz Alice – se você pode fazer as palavras significarem tantas coisas distintas.
- A questão – diz Humpty Dumpty – é saber quem manda... E isso é tudo.

A questão é que tanto no caso das falas de Humpty Dumpty quanto nos discursos de Dilma as frases desconexas demonstram linguagem inadequada e desarticulada que podem ser prejudiciais a qualquer um, especialmente para o presidente de um país. Humpty Dumpty é caso perdido, pois Lewis Carroll se foi em 1898.

Dilma ainda tem chance. Basta planejar e ensaiar bem o que vai dizer, ou ler seus discursos. Se soubesse como esse cuidado tão simples ajudaria sua imagem e reforçaria sua autoridade, com certeza se dedicaria ao desenvolvimento e aprimoramento da arte de falar. E pensar que até nós poderíamos nos beneficiar com sua capacitação oratória.

Superdicas da semana

  • Faça com que suas frases tenham começo, meio e fim
  • Analise se as palavras dão sentido correto às frases
  • Se tiver dificuldade para entender o que diz, os ouvintes também não entenderão
  • Pense antes e fale depois. Não pronuncie palavras sem pensar no que está dizendo

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como Falar Corretamente e Sem Inibições", publicado pela Editora Saraiva, e "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante.

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