Saiba brincar e evite confusões, como na briga entre Serra e Kátia Abreu

Depois de a ministra da Agricultura Kátia Abreu despejar uma taça de vinho na cara do senador José Serra, ele se desculpou: "Foi uma brincadeira com intenção de elogio", disse. "Me desculpei. Sempre tive respeito pela Kátia". Afinal, que brincadeira com intenção de elogio foi essa que provocou reação tão explosiva?

Vamos reavivar os fatos de forma resumida: o senador Eunício Oliveira promoveu, no dia 9 de dezembro, um jantar em sua residência. Além do vice-presidente Michel Temer, estavam presentes também uns 40 parlamentares. Reunião de gente graúda.

Pois bem, segundo relato da própria ministra, o senador “chegou numa roda em que não tinha sido convidado, sem mais nem menos e disse: Kátia, dizem por aí que você é muito namoradeira”. Antes de despejar a taça de vinho na cara de Serra, Kátia reagiu com indignação:

“Você é um homem deselegante, descortês, arrogante, prepotente. É por isso que você nunca chegará à Presidência da República. Nunca lhe dei esse direito nem essa ousadia. Por favor, saia dessa roda, saia daqui imediatamente”.

Afinal, quem está certo e quem está errado nessa história? Para o objetivo da nossa reflexão, essa resposta talvez não seja tão relevante. Precisamos aproveitar episódios como esse para tirar lições que poderão ser úteis nas nossas relações, tanto na vida corporativa como nos contatos sociais.

Por mais inconveniente que tenha sido o senador Serra com seu comentário, se ele fosse uma pessoa mais próxima, mais íntima da ministra, provavelmente a reação dela não tivesse sido tão intempestiva. Imagino que para um amigo ela diria que é uma mulher casada e que não gosta desse tipo de brincadeira. Sem jogar a taça de vinho na cara.

Embora ela e Serra tenham sido parceiros de campanha na época em que o senador se candidatou à Presidência, eles não são amigos. E hoje estão em posições antagônicas. Ela no governo e ele, na bancada da oposição.

O que podemos aprender? Primeiro, temos de identificar bem quem são as pessoas com as quais vamos brincar. Devemos reservar essas atitudes para circunstâncias adequadas e com pessoas da nossa convivência, que não nos surpreendam com suas reações. Será sempre arriscado fazer brincadeiras com quem não temos tanta intimidade.

Outro cuidado importante é determinar onde está a linha que separa o humor da vulgaridade. Essa linha imaginária não é fixa e se desloca de um ponto a outro, estreitando ou alargando a margem de tolerância de acordo com a circunstância, o contexto e as características de quem fala e de quem ouve.

Há pessoas com jeito inofensivo que, mesmo fazendo brincadeiras mais pesadas, não são vistas como agressivas. Parece não ser bem o caso de Serra. Outras, entretanto, por mais sutis que sejam, basta abrirem a boca para arrumar confusão. Temos de saber como somos vistos e ter consciência das nossas limitações.

Alguns poderão censurar a atitude do senador José Serra, outros poderão condenar a reação da ministra Kátia Abreu. Independentemente da sua opinião, o certo é que esses fatos podem ocorrer conosco e as pessoas com as quais nos relacionamos. Por isso, refletir um pouco antes de agir ou de reagir pode nos livrar de muitas situações embaraçosas.

Superdicas da semana

• Só brinque com quem conhece muito bem
• As brincadeiras que você faz com amigos talvez não possam ser feitas na vida corporativa
• Evite brincadeiras que possam ser tomadas como humilhantes ou desrespeitosas
• Mesmo sabendo onde está a linha da vulgaridade, mantenha margem de segurança para evitar riscos

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões Não Seguem a Maioria", publicado pela Editora Saraiva, e "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante.

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