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Reinaldo Polito

Orador grego que não se corrompeu é exemplo para os políticos brasileiros

05/01/2016 06h00

Demóstenes foi, sem dúvida, o maior orador da antiguidade. Com certeza não teve voz tão melodiosa e vocabulário mais sofisticado quanto seu desafeto Esquines, contra quem debateu em uma de suas mais memoráveis contendas, “A Oração da Coroa”.

Talvez não tenha dominado os segredos técnicos da oratória como Cícero. Conseguiu, entretanto, suplantar a todos com a força da sua comunicação e do seu caráter. Dizem que a diferença entre Cícero e Demóstenes é que quando Cícero falava o povo exclamava: “Que maravilha!”, e, quando Demóstenes falava, o povo marchava.

Demóstenes passou para a história por sua comunicação, mas foram o seu exemplo e coerência que sustentaram cada uma de suas palavras e cada um de seus discursos.

Ao discursar em sua própria defesa, contra as acusações de Esquines, que não concordava com o fato de Demóstenes receber uma coroa de ouro pelos seus feitos, o grande orador ateniense lança mão de argumentos que poderiam servir para orientar a conduta de alguns dos nossos políticos.

Demóstenes enfrentou Esquines com competência e a grandeza de um orador extraordinário. Seus argumentos se tornaram invencíveis: “Felipe conseguiu a vitória, a Grécia inteira responderá por mim. Por suas armas que invadiram tudo e por seu ouro que a tudo corrompeu”.

Nesse instante Demóstenes mostra como deve ser a conduta de uma pessoa correta: “Não estava em meu alcance combater contra tais meios; não possuía nem tesouros nem soldados. Mas, em tudo quanto dependia de minhas forças, atrever-me-ei a afirmar que sempre venci Felipe. Sabeis como?”.

Demóstenes mostra agora a força de sua integridade: “Recusando suas dádivas e recusando seus oferecimentos sedutores. Quando um homem se deixa comprar, o comprador pode dizer que triunfou sobre ele; porém aquele que permanece incorruptível pode dizer que venceu o corruptor. Por conseguinte, em tudo quanto dependeu de Demóstenes, Atenas permaneceu invencível e vitoriosa”.

Podemos imaginar que força interior precisava uma pessoa para resistir aos apelos fáceis da riqueza e do poder que lhe eram oferecidos por alguém tão poderoso quanto Felipe. Somente seu caráter e a crença em uma causa maior, que beneficiasse a coletividade, poderia levá-lo a se manter fiel às suas convicções.

Na obra “A Corrosão do Caráter”, o sociólogo norte-americano Richard Sennett afirma: “Caráter é o valor ético que atribuímos aos nossos próprios desejos e às nossas relações com os outros. Caráter são os traços pessoais a que damos valor em nós mesmos, e pelos quais buscamos que os outros nos valorizem”.

Que falta faz um Demóstenes na vida política brasileira! Chega a ser inacreditável que o STF (Supremo Tribunal Federal) tenha de decidir se uma votação deva ser aberta ou fechada. Ou seja, se for aberta, um político vota de um jeito, se for fechada, esse mesmo político vota de outra maneira.

É a constatação de que alguns representantes do povo não votam de acordo com sua consciência e o interesse da população, mas sim de acordo com suas conveniências. Já que, se esses políticos agissem em benefício do povo, o voto seria sempre o mesmo, aberto ou fechado.

Para garantirem suas regalias, entretanto, alguns políticos votam de acordo com seus interesses pessoais. Em muitos debates a que assistimos recentemente, não foi possível vislumbrar uma nesga de atitude que visasse a melhoria das condições do país.

Com voto aberto ou fechado, não se preocupando com os benefícios e favores que adviriam da sua decisão, apenas objetivando o bem-estar do nosso país e dos brasileiros, não se corrompendo com oferendas passariam pela vida pública como grandes vitoriosos.

Pode parecer ingenuidade da minha parte, mas se Demóstenes conseguiu essa proeza e atravessou os séculos com seu exemplo de caráter, por que não imaginar que outros Demóstenes estejam dispostos hoje a esse comportamento exemplar?! Precisamos urgentemente de mais Demóstenes na política brasileira.

Superdicas da semana

  • É vitorioso aquele que recusa favores para defender uma causa digna
  • Fala bem não apenas quem tem voz bonita, vocabulário amplo e gestos elegantes
  • Fala bem quem sustenta suas palavras com ações, exemplos e caráter
  • Os exemplos nos ensinam, vale a pena ler os discursos de Demóstenes

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como Falar Corretamente e Sem Inibições", publicado pela Editora Saraiva, e "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
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