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Reinaldo Polito

Informe-se melhor na crise para fugir de especialista com previsões furadas

11/02/2016 06h00

Crise. Crise. Crise. Quantas vezes você disse, escreveu, ouviu ou leu essa palavra nos últimos meses? Não dá para calcular, mas sabemos que foram em número sem fim.

Observe as rodas de conversa, basta alguém abrir a boca para mencionar que estamos vivendo uma crise que a turma se alvoroça com exemplos de toda ordem.

Estudos realizados pelos pesquisadores Irving Janis, da Universidade de Yale, e Peter Field demonstraram que pessoas inibidas e com dificuldades de adaptação social são mais facilmente persuadidas.

Por possuírem, de maneira geral, baixa autoestima, são propensas a aceitar mais as opiniões alheias a considerar suas próprias reflexões.

Em momentos de crise, muitas pessoas se sentem fragilizadas, inseguras e inaptas para avaliar os aspectos intrincados e nem sempre claros dos problemas. Por isso, tendem a basear suas ações a partir das opiniões daqueles que consideram mais bem informados e preparados.

O tamanho da crise, portanto, está intimamente ligado à comunicação. Os problemas em si são agravados pela repercussão que naturalmente produzem.

O risco é o de imaginar que todos os comentários sobre a crise se baseiam em princípios bem fundamentados.

Crises existem há muito tempo. E sempre existirão. Alguns estudiosos afirmam que passamos por pelo menos cinco crises todos os anos, entre as grandes, mais persistentes, e as pequenas, passageiras.

Só para refrescarmos um pouco a memória vamos citar algumas das mais importantes crises dos últimos tempos.

  • 1929 - queda da Bolsa de Nova York 
  • 1971 -  fim do padrão-ouro nos Estados Unidos e a desvalorização do dólar
  • 1973, 1979 e 1980 -  aumento do preço do petróleo
  • 1987 - Bolsa americana despenca mais de 22% em um único dia

Nem mencionei aí as consequências da segunda guerra mundial entre 1939 e 1945.

Agora nos aproximamos mais dos momentos atuais, com situações presentes na memória da nova geração.

  • 1994 - desvalorização da moeda mexicana; desemprego aumenta mais de 60%
  • 1997 - na Ásia
  • 1998 - na Rússia
  • 2000 - empresas de internet e telecomunicação em crise
  • 2001 - ataque terrorista às Torres Gêmeas
  • 2001 e 2002 - crise da Argentina
  • 2008 e 2009 - bolha imobiliária norte-americana
  • 2009 e 2010 - na Europa
  • 2015 e 2016 - nossa crise brasileira, com todos os problemas econômicos agravados pelas questões políticas e policiais

Crise das tulipas

Vale a pena recordar também como essa história toda começou. 

Parece que o caso das tulipas holandesas foi mesmo a primeira grande crise de que se tem notícia.

Ganância, comunicação persuasiva e falta de análise lógica e racional talvez tenham sido os maiores ingredientes que levaram muitos habitantes da região da Holanda à quebradeira.

A história é conhecida. No início do século 17, seduzidos pelo canto da sereia que prometia ganho fácil em curtíssimo prazo, as pessoas deixaram de lado o cuidado com a análise e a reflexão e correram atrás dos cifrões comprando bulbos de tulipa para revendê-los em pouco tempo com lucros exorbitantes.

Só para dar uma ideia do descontrole reinante na época, no momento mais agudo dos negócios, entre os anos de 1636 e 1637, com o preço de um único bulbo de tulipa seria possível comprar uma boa casa na cidade de Amsterdã.

Para estabelecer uma comparação concreta, pesquisadores históricos dizem que esse mesmo bulbo atingia o preço equivalente a 24 toneladas de trigo.

Como a colheita das tulipas ocorria em determinados períodos do ano, as pessoas começaram a comercializar títulos que garantiam o recebimento da planta assim que fosse colhida. Esses títulos passaram a ser negociados a partir de intensa procura e inflacionaram.

Quando desconfiaram de que a entrega da planta não seria cumprida e que os títulos estavam com valores superestimados, deixaram de aceitá-los. Os preços despencaram e seus detentores amargaram prejuízos. Alguns foram à falência.

Toda crise acaba

Em época de crise, como esta que estamos enfrentando, é comum bater um pessimismo quase generalizado.

Motivos não faltam: taxa de juros elevada, "pibinho", desemprego, dólar subindo, Bolsa caindo, empresas quebrando, lojas fechando. Não dá para não ver.

Assim como há pouco tempo havia otimismo quase eufórico. Muita gente comprando imóveis, viajando, empreendendo em novos negócios.

Nossa economia chegou a ser motivo de admiração e inveja em vários países. Era difícil duvidar de que as iniciativas não dessem certo. Bastava olhar os dados estatísticos.

Embora os indicadores se mostrem irrefutáveis em sua fisionomia periférica, tanto para os momentos de otimismo quanto de pessimismo, a verdade é que em todos os casos há no embrulho suposições e evidências que podem turvar o raciocínio e levar a conclusões equivocadas.

E por não saberem bem como agir as pessoas embalam nas previsões dos “especialistas”.

Meu avô descendia de italianos, mas gostava de usar um provérbio português: não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe.

Impressionante que décadas após décadas essa verdade se confirma com frequência. O que tudo isso tem a ver com a comunicação?

Um precioso ensinamento: por mais evidentes que possam parecer as previsões dos analistas, nem todas são verdadeiras ou se sustentam em fatos consistentes. Podem ser apenas evidências ou suposições que talvez não levem às conclusões que julgamos inevitáveis.

Se estivermos conscientes dessa realidade, podemos nos proteger.

Podemos sustentar nossas opiniões com base em ângulos distintos. E avaliar melhor quando e se devemos ou não comprar imóveis ou ações. Deixar ou não o dinheiro quieto no banco.

Tomar ou não dinheiro emprestado. Investir ou não em um novo negócio. E deduzir que títulos que prometem a entrega de boi gordo, avestruz ou tulipas podem não passar de uma perigosa armadilha.

Superdicas da semana

  • Mais cedo ou mais tarde, todas as crises são superadas.
  • Cuidado com os avisos alarmistas. Podem ser falsos.
  • Não sejamos como a personagem Poliana, com otimismo ingênuo e até irresponsável.
  • Mas também não sejamos como a personagem Cassandra, só pregando desgraças.

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Como Falar Corretamente e Sem Inibições" e “Assim é que se fala” publicados pela Editora Saraiva; e "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
Escolha um curso adequado as suas necessidades (link encurtado: http://zip.net/bnrS3m)

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Exportação pode ser uma das saídas para superar a crise

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