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Reinaldo Polito

Criticam você pelas costas no trabalho? Pode ser só inveja ou insegurança

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Imagem: Thinkstock

18/02/2016 06h00

Quando vejo alguém descendo o sarrafo em alguma pessoa sempre me lembro da frase atribuída a Sigmund Freud, criador da psicanálise: quando Pedro fala de Paulo sei mais de Pedro que de Paulo. Sem dúvida, ao elogiar ou criticar alguém, especialmente pelas costas, a pessoa revela muito de quem ela é efetivamente.  É como se abrisse um livro interior contando seus segredos mais íntimos.

No mundo corporativo, quem critica colegas de trabalho, sem perceber, pode estar ingerindo o próprio veneno. Sendo o comentário maledicente verdadeiro ou não, a imagem de quem se dispõe a falar mal da vida dos outros pode ser mais arranhada que a da sua vítima. Em suas palavras talvez estejam camufladas a própria inveja, insegurança e fraquezas.

Como evitar essa vontade quase irresistível de abrir a boca para criticar? Um bom ensinamento pode ser buscado nas palavras do padre Manuel Bernardes, um dos mais extraordinários escritores e pregadores da língua portuguesa em todos os tempos. Ao tratar do tema “conhecimento próprio”, o autor de “Nova floresta” conta uma pequena história.

“Perguntado um santo monge que remédio pronto haveria para expelir os pensamentos de julgar as faltas alheias, respondeu: Quando o anjo precursor matou em uma noite os primogênitos do Egito, cada família tinha o seu morto em casa, e a esse lamentava, sem atender à desgraça de seus vizinhos. Cuide, pois, cada um de si e lamente o seu morto, e deixará de cuidar nos outros”.

Essa reflexão de Bernardes ultrapassou séculos. Dos anos 1700, quando sua obra foi produzida, até os dias atuais, são conselhos que continuam a orientar pessoas de todas as gerações. Tomar cuidado com os próprios problemas, que são inúmeros, pelo simples fato de se tratarem de seres humanos, já será um grande passo na direção da boa atitude.

Críticas negativas, feitas na coxia, ou no pé de escadas, distantes do criticado são atitudes que beiram a covardia. Se o criticado estivesse presente, talvez o crítico não tivesse a coragem de fazer os mesmos comentários. Por outro lado, críticas diretas, de maneira geral, também agridem, prejudicam e produzem mal-estar.

Segundo o médico psiquiatra Flávio Gikovate, há diversos tipos de críticos. Quase todos negativos. Um deles é o que não aceita o meio termo. Ou é certo ou errado. Nem sempre são pessoas maldosas, mas não deixam passar uma falha, por menor que seja, sem criticar. Agem assim com as pessoas da família, com os amigos e colegas de trabalho.

Os que se acham superiores. Criticam com a intenção deliberada de rebaixar as pessoas. Quanto mais inferiorizados se sentirem os alvos de suas críticas, mais superiores se sentirão esses críticos. São vaidosos, e sentem prazer em mostrar e fazer prevalecer seu conhecimento e experiência.

Segundo Gikovate, a crítica se justifica quando solicitada, ou o crítico, mesmo sem ser solicitado, tiver posição hierárquica ou profissional que o obrigue a essa atitude. Assim, alguém na posição de comando na vida corporativa, que tenha de corrigir comportamentos e atitudes para se chegar a resultados melhores.

Outro profissional liberado para criticar é o professor, pois tem como incumbência da própria atividade ensinar. Mesmo assim, o renomado psiquiatra alerta para que a crítica seja sempre cuidadosa e bem fundamentada. De uma forma ou de outra, a crítica quase sempre incomoda e pode ser negativa para a autoestima.

O psiquiatra chama a atenção também para o fato de que mesmo sendo a crítica maldosa, quem a recebe deve ponderar bem sobre o que poderá aproveitar daquele comentário. Em meio a tantos aspectos positivos, o crítico pega, às vezes, uma pequena falha para criticar. E essa pode ser uma oportunidade de crescimento.

Ao longo dos últimos 40 anos o que mais faço é ouvir pessoas falando. Impressionante como algumas, que até falam bem, são criticadas por quem não consegue dizer duas frases diante do público. Os críticos carregam nas cores e procuram defeitos que nem são importantes no conjunto da apresentação.

E quando me perguntam se seria possível melhorar a comunicação de quem criticam, minha vontade é de dar o endereço da nossa escola de oratória para que ele mesmo, que faz a crítica, aprimore suas apresentações. Entretanto me contenho e digo simplesmente: “pois é”.

Superdicas da semana

  • Quando pensar em fazer uma crítica, avalie se não seria melhor fazer um elogio
  • Se falar mal de alguém pelas costas, você poderá ser mais prejudicado que o criticado
  • Ainda que tenha de fazer críticas, tome cuidado para não magoar
  • Se alguém costuma criticar os outros por trás, cuidado, você poderá ser a próxima vítima dele

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", publicados pela Editora Saraiva; e "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
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