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Reinaldo Polito

Quem se saiu melhor, os senadores que leram ou os que falaram de improviso?

12/05/2016 12h19

Nessa quarta-feira (11), na abertura do processo de impeachment, os senadores se apresentaram ora lendo os discursos, ora falando de improviso, e em alguns casos se valendo apenas de anotações. Afinal, quem acertou na técnica que elegeu?

Antes de responder, porém, gostaria de contar duas pequenas e curiosas histórias. Com autorização. Há alguns anos recebi em minha escola um empresário muito preocupado com sua comunicação. Ainda em pé na porta da sala, rapidamente me revelou o seguinte:

"Professor, sou empresário bem-sucedido. Há muito tempo a classe empresarial insiste para que eu seja candidato ao cargo de prefeito de Ji-Paraná, em Rondônia. Sempre me esquivei alegando que não levo jeito para falar em público. Consegui assim contornar essa insistência e continuar tranquilo nas minhas atividades. Dessa vez não foi um pedido, mas sim uma intimação. Querem porque querem que eu seja o candidato. Fecharam questão dizendo que não aceitam resposta negativa. Combinei o seguinte -vou naquele tal de Polito, em São Paulo, se sair de lá falando, eu me candidato."

Fizemos o treinamento, saiu animado e aceitou o desafio. Ganhou a eleição e nunca mais abandou a política. Encontrou coragem para se candidatar depois ao governo do Estado, e hoje Acir Gurgacz é senador por Rondônia. Outra história não menos interessante teve como protagonista o senador Garibaldi Alves Filho.

O senhor já foi prefeito, governador, senador por vários mandatos, presidente do Senado, o que o motiva a fazer um curso de oratória nesse momento da sua vida?

Assim que me procurou indaguei: "O senhor já foi prefeito, governador, senador por vários mandatos, presidente do Senado, o que o motiva a fazer um curso de oratória nesse momento da sua vida?"

Ele fez uma pausa prolongada, fixou o olhar em meus olhos e respondeu: "A responsabilidade com a minha gente. Há um eleitorado novo que ainda não me conhece bem. Preciso mostrar a essa juventude como era e como é hoje o nosso Estado."

Assim, um político novato e outro muito experiente em circunstâncias diferentes preocupados com o aprimoramento da comunicação. Pois é, os dois estavam no dia 11 de maio ocupando de maneira admirável a tribuna do Senado. Os dois com estilos distintos leram o discurso. E o fizeram de forma exemplar.

Terminaram o discurso e foram cumprimentados de forma efusiva por Renan Calheiros. Para Acyr, o presidente do senado disse que ele teve a competência se ser objetivo e colocar apenas uma palavra onde não havia necessidade de duas. Garibaldi também recebeu congratulações de Renan por causa de sua atuação na tribuna.

Por que esses dois senadores se saíram tão bem em suas apresentações? No caso de Acyr, foi a correção técnica. Manteve postura impecável o tempo todo. Usou todas as oportunidades para olhar a plateia, demonstrando assim que texto era mesmo destinado aos ouvintes.

A cada final de informação relevante, promoveu pausas expressivas e criou expectativa para a sequência do pensamento

A cada final de informação relevante, promoveu pausas expressivas, valorizando a mensagem transmitida em certos momentos, e criando expectativa para a sequência do pensamento em outros.

Garibaldi, sempre simpático, bem-humorado, seguro e expressivo. Sua leitura também seguiu todas as recomendações técnicas, mas foi além, falou com eloquência. Os gestos firmes acompanhavam com harmonia o ritmo e a cadência da fala.

Sua voz meio arrastada, que sempre o caracterizou, transpirava a experiência de um político que atravessou inúmeras crises e estava consciente do momento histórico do país.

Lindberg Farias falou de improviso de forma tão eloquente, que arrancou aplausos de pé de seus pares

Além desses dois oradores, outros poderiam ser destacados por usarem recursos distintos. Ronaldo Caiado, que se valeu de algumas poucas anotações e apoiou sua mensagem com ilustrações em pequenos cartazes. E, já no começo da madrugada, Lindberg Farias, que falou de improviso de forma tão eloquente, que arrancou aplausos de pé de seus pares.

Por isso quando você tiver de fazer uma apresentação, e ficar em dúvida se pode ler, se deve falar de improviso, ou ainda fazer uso de um recurso com o qual possa se sentir mais confortável, saiba que estará livre para decidir. A responsabilidade pelo sucesso ou fracasso de sua apresentação será sempre sua.

Mesmo que a circunstância recomende um ou outro recurso, faça o que julgar mais conveniente. Por exemplo, como orador de turma de formandos, ou para assumir a presidência de uma entidade, a leitura seria a técnica recomendada. Mesmo assim, se sentir que ficaria mais à vontade falando de improviso, essa deverá ser sua opção.

Improvisar ou ler? Use o que for de sua preferência, mude de acordo com a circunstância e atinja os objetivos pretendidos

Assim como alguns senadores, que vivem da oratória, que precisam da eficiência da palavra para conquistar os votos para suas eleições, valeram-se de recursos tão distintos e se saíram tão bem em seus discursos, use o que seja de sua preferência, mude de acordo com a circunstância e a necessidade.

O importante é que transmita bem a mensagem. Mais importante ainda, que atinja os objetivos pretendidos.

Superdicas da semana

  • Use a técnica de apresentação que julgar mais conveniente.
  • Qualquer que seja sua opção, treine muito para estar bem preparado.
  • Independentemente da técnica, fale sempre com energia e envolvimento.
  • Uma leitura bem feita pode ter a mesma eficiência da fala de improviso

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante, e "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)

Escolha um curso adequado as suas necessidades (link encurtado: http://zip.net/bnrS3m)

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