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Reinaldo Polito

Para falar em público você precisa ser mais interessante que os celulares

Moacyr Lopes Junior/Folhapress,
Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folhapress,

05/07/2016 06h00

Sabe quem são os ouvintes das palestras hoje em dia? Pessoas que desenvolvem simultaneamente inúmeras atividades e vivem com o celular na mão.

Só para dar uma ideia de como as pessoas estão concentradas em seus smartphones, basta citar curiosos levantamentos, de 2015, feitos pela agência We Are Social (WAS) e pelo instituto de pesquisa Statistics Brain (SB-RI). Um brasileiro passa cerca de quatro horas por dia em redes sociais (WAS), e um usuário chega a checar seu celular 150 vezes por dia (SB-RI). 

Não dá para imaginar que durante uma apresentação desinteressante esse ouvinte não recorrerá ao celular.

Entre outros motivos, esse comportamento dos ouvintes alterou de forma significativa a maneira como os oradores devem se apresentar em público.

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Se as pessoas insistirem em se comunicar como faziam há alguns anos, vão fracassar.

Assim como os ouvintes mudaram seus hábitos, também os oradores se apresentam com perfis muito diferentes.

Como as características dos ouvintes e dos oradores se modificaram, a maneira de falar em público também precisa ser outra.

Vamos a alguns fatos que mostram bem essa transformação.

Jovens estão mais preocupados com oratória

polito - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Curso de oratória: um homem e 28 mulheres, quase todos com pouco mais de 20 anos
Imagem: Arquivo pessoal

A faixa etária dos alunos que frequentam o nosso curso de Expressão Verbal caiu de forma impressionante. Quando comecei a dar aulas de oratória, em meados dos anos 1970, a maioria dos alunos tinha entre 35 e 45 anos. Como comecei nessa carreira muito jovem, era raro encontrar um aluno que fosse mais novo que eu. Hoje a maioria está abaixo dos 30 anos.

Durante muito tempo eu só aceitava inscrições de alunos acima dos 18 anos. Os mais jovens ainda não tinham maturidade suficiente para se apresentar diante de colegas com o dobro da idade deles. Essa restrição ficou no passado.

Tenho exemplos de alunos com idade entre 13 e 14 anos que obtiveram resultados excepcionais. Chega a ser emocionante ver essa garotada falando numa tribuna.

No início dos anos 1980, menos de 5% dos alunos eram mulheres. Hoje, em muitas turmas temos maioria.

Encerramos há pouco mais uma turma de oratória no curso de pós-graduação em Gestão Corporativa na ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). Dos 29 alunos, 28 eram mulheres.

E tem sido assim: alunos cada vez mais jovens e muitas mulheres.

Com a mudança no perfil dos alunos, o método de ensino também teve de se adaptar. Se continuássemos a dar aulas como fazíamos há 40 anos, não prepararíamos oradores para as necessidades dos dias atuais.

Embora tenhamos tido sempre a preocupação de que os alunos aprendessem a falar de maneira natural e descontraída, o conceito de naturalidade e descontração hoje já não é o mesmo.

Tecnologia pode ser distração

As tiradas espirituosas, a interação com a plateia, a maneira de se vestir, os exemplos ilustrativos atendem a uma dinâmica diversa. Gerentes e diretores de empresas precisam estar preparados para as mudanças cada vez mais bruscas e frequentes, incluindo aí a maneira como se comunicam.

A tecnologia passou a ser uma fonte de distração para os ouvintes e importante concorrente para quem fala em público. Fazer com que os ouvintes deixem o celular no bolso e prestem atenção na mensagem desde o princípio até o final é um desafio cada vez maior.

O espetáculo da apresentação, a capacidade de criar expectativas renovadas na plateia, a forma clara de mostrar os benefícios da mensagem que o público efetivamente deseja obter são ingredientes que os novos oradores precisam dominar.

Falar bem em público, de acordo com o contexto do momento em que vivemos, deve estar entre as prioridades de todos os profissionais, independentemente da atividade que exerçam.

Por incrível que pareça, há pessoas ainda que pensam ser a oratória competência necessária apenas para políticos, advogados e pregadores religiosos.

Quem se prender a esse equívoco e não buscar o aprimoramento da comunicação terá uma lacuna na sua formação profissional que talvez o impeça de aspirar a voos mais altos em sua carreira.

Lembre-se de que a garotada está aí no mercado com a faca nos dentes.

Alguns dando verdadeiro show de comunicação em suas apresentações. É com eles que você será comparado. É com eles que vai concorrer.

Superdicas da semana

  • Se muitos ouvintes consultarem o celular, há algo errado com sua comunicação
  • Sua apresentação precisa ser mais atraente que o fascínio exercido pelo celular
  • Observe sempre as mudanças no comportamento e no interesse dos ouvintes
  • Ao falar crie expectativa, mostre os benefícios da mensagem e seja interessante

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante, e "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
Escolha um curso adequado as suas necessidades (link encurtado: http://zip.net/bnrS3m)
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