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Reinaldo Polito

Ministro de Temer foi demitido por enfrentar chefe; cuidado no seu trabalho

Getty Images
Imagem: Getty Images

09/09/2016 16h39

Michel Temer deu o bilhete azul para o advogado-geral da União, Fábio Medina Osório. Entre alguns motivos alegados, o mais importante foi o fato de ele ter batido de frente com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha. Parece que os dois tiveram um enfrentamento e a corda arrebentou do lado mais frágil.

Esses entreveros não são tão raros. Quando tudo dá a impressão de caminhar bem, um subordinado roda a baiana diante do superior hierárquico, e é obrigado a pegar seu boné e cantar em outra freguesia. Tudo normal, desde que aquele que enfrenta o chefe saiba que o desfecho possa ser desfavorável para ele.

Um caso que ficou para a história ocorreu em passado mais ou menos distante no governo de Fernando Henrique Cardoso. Clovis Carvalho era ministro do Desenvolvimento de FHC. Cargo bom, que lhe proporcionava as alegrias do poder. A história se deu mais ou menos assim.

O então ministro da Fazenda, Pedro Malan, homem forte do governo, se sentiu ofendido com declarações de Carvalho. Não gostou nada quando seu colega disse que havia “conformismo com resultados medíocres” e que “o excesso de cautela será outro nome para covardia”.  Revelou sem reservas o que pensava. Não deu outra. Malan reclamou com Fernando Henrique, e este sem titubear pediu que o ministro se demitisse.

Esses fatos que parecem estar tão distantes, só nos altos escalões do jogo político, na verdade rondam nossa vida profissional mais do que imaginamos. São lições que precisam ser aprendidas e levadas em conta. Já diziam meu avô do alto da sua sabedoria: “Quem fala o que quer, pode ouvir o que não quer”.

Cada um deve agir no ambiente de trabalho da maneira que julgar mais conveniente, mas é preciso medir bem as ações e ponderar sobre as consequências das decisões que tomar. Já ouvi profissionais afirmando: “Ah, eu sou assim mesmo. Não me dobro só porque o cara é meu chefe”.

Depois se surpreende com o aviso de que foi despedido.

Então devo engolir sapo o tempo todo e me manter calado, só porque o chefe falou? Lógico que não, mas tem de saber que ele possui autoridade para demiti-lo ou mantê-lo no cargo.

E, se não demitir, poderá ter influência na sua carreira. Se ele não quiser, talvez você nunca seja promovido.

Portanto, deve refletir bem sobre o que você deseja. É mais importante manter o emprego e disputar as possibilidades profissionais contando com o respaldo dos seus méritos, ou correr o risco de peitar o superior hierárquico, mantendo seu posicionamento, com a expectativa de que ele tenha bom senso e concorde com sua linha de pensamento? Especialmente quando os chefes são confrontados em público, costumam não levar desaforo para casa.

Sou presidente da ONG Via de Acesso. Capacitamos jovens para que entrem no mercado de trabalho. Um dos cuidados que temos sempre é o de alertar para a forma como os jovens devem se comportar na empresa: Cuidado, você será admitido por competência, ou potencial de conquista dessa competência, mas, provavelmente, será demitido por causa do comportamento.

São avisados para não tratarem os superiores hierárquicos com desconsideração, como alguns tratam os pais e os coleguinhas no dia a dia.

A margem de tolerância para o desrespeito é limitada, e em certas organizações muito próxima de zero. Com centenas, às vezes milhares, de jovens querendo uma oportunidade profissional, por que suportariam aquele que começa a dar trabalho?!

Ninguém prega o servilismo imbecil, nem que as pessoas se submetam a pressões pessoais que não gostariam de tolerar na vida, especialmente na vida profissional. É preciso saber, entretanto, que um pouco de diplomacia e jogo de cintura valem muito para o progresso na carreira. É pensar e escolher o que deseja fazer.

Superdicas da semana

  • Algumas pessoas são contratadas por causa da competência, e demitidas por causa do comportamento
  • Se tiver de discordar do chefe, prefira que a conversa seja isolada, longe de outras pessoas
  • Só defenda uma posição contrária ao superior hierárquico se for muito importante para sua carreira e o resultado da empresa. Nunca na frente dos outros
  • Não acredite quando o chefe diz que gosta de ser contrariado. Geralmente é só retórica

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante, e "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
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