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Reinaldo Polito

Discurso na Itália mostra que oratória não é mesmo a praia de Dilma

Dilma esquece discurso durante palestra na Itália

UOL Notícias

31/01/2017 04h00

Dilma não tem jeito. Entra dia, sai dia e ela continua cometendo equívocos elementares ao falar em público. Quando ela era presidente, cheguei a escrever artigos e gravar vídeos tentando explicar e justificar seus desacertos oratórios. Afinal, suas funções não permitiam que ela se preparasse de maneira conveniente. Chegou a proferir um discurso a cada dois dias.

Agora, não há desculpa. Fora da Presidência, com todo o tempo do mundo para fazer, refazer e ensaiar exaustivamente seus discursos, não se admite que, em um evento internacional, como esse em que participou na Itália, pudesse meter os pés pelas mãos.

Dilma aceitou o convite para participar, na sexta-feira (27), do seminário "La solitudine della democrazia", realizado na Universidade de Salento, na cidade de Lecce, localizada na região da Púglia, Itália. Nesse evento, Dilma discorreu sobre a erosão das democracias contemporâneas e, como não podia deixar de ser, aproveitou para falar do “golpe” orquestrado para tirá-la do poder.

Falou também que o povo brasileiro não deixará que outro golpe seja impetrado no Brasil em 2018. Afinal, segundo ela, querem impedir a candidatura de Lula à Presidência. Afirmou que acredita na democracia como arma para combater a desigualdade. E que essa prática só é possível pelo voto direto.

Ou seja, o mesmo discurso que repetiu “ad nauseam” quando lutava na tentativa de se manter como presidente. O “não vai ter golpe” tão bem treinado de antes é o mesmo pregado agora. Por isso, Dilma deveria ter domínio total da mensagem que transmitia. Imagina-se que conheça esse texto de cor e salteado.

Pois bem, conversa vai, conversa vem e, lá pelas tantas, Dilma mostrou que continua sendo a mesma “presidenta” de sempre quando precisa falar em público. Protagonizou mais uma escorregadela em tribunas internacionais. Pronunciava frases tão sem sentido que ela mesma se esqueceu do que estava dizendo. Foi assim:

“Ninguém só constrói o presente. Sem estar um pouco de olho no futuro. E é esse o processo que eu acho que nós temos de olhar, temos de olhar na Europa, na América Latina, nos Estados Unidos, somos todos irmãos nessa. E nunca, nunca...ah, esqueci o que eu tava falando...”

Eta, Dilma que não se emenda! O que pesaria ter preparado-se melhor para fazer um discurso de acordo com a relevância de uma apresentação internacional? Mais: se não sabe falar de improviso, por que insistir? O que custaria colocar um teleprompter na frente e, com tranquilidade, ler a mensagem? Ou, simplesmente, fazer a leitura em folhas de papel?

Vamos imaginar que, mesmo não tendo lá tantas atividades, não tivesse tempo de arredondar a fala. Numa circunstância como essa, do evento italiano, se desse branco, em vez de dizer ao mundo que não sabia mais o que estava dizendo, poderia lançar mão de um recurso bastante simples e que dá ótimos resultados. Dizer: "na verdade, o que eu quero dizer é..."

Essa frase permite que o orador refaça o caminho da apresentação e encontre um rumo diferente para o seu discurso, e se livre assim daquela saia justa. Se Dilma tivesse adotado essa estratégia, provavelmente teria se safado do desconforto que enfrentou. O problema de Dilma, entretanto, é mais grave.

No lugar de pensar e depois encontrar as palavras que vistam seu raciocínio, ela costuma inverter essa ordem natural e joga palavras para tentar construir a sequência do pensamento a partir delas. É quase um suicídio, pois deixa de ter o domínio do discurso e passa a se sentir refém dele.

Lógico que as palavras não têm o sentido apenas em si. Elas possuem força de expressão e de valor relacional. A partir de uma palavra, às vezes, conseguimos encontrar uma boa sequência para a mensagem. Esse recurso, entretanto, deve ser reservado para situações especiais. Dilma é useira e vezeira nessa prática. Vira e mexe lá está ela se jogando no trapézio sem rede de proteção. E dá no que deu.

Um dia ela aprende. E, se não aprender, pelo menos servirá de exemplo para aprendermos como NÃO fazer. Aprendemos a falar em público observando os acertos dos oradores, mas também seus erros. Ah, e, principalmente, aprendemos com os nossos próprios erros e acertos.

Superdicas da semana

  • Ensaie o discurso o máximo que puder para evitar o branco
  • Em ocasiões importantes, se tiver dificuldade para falar de improviso, leia o discurso
  • Mesmo a leitura precisa ser exaustivamente treinada
  • Pense. E, com calma, vista suas ideias com as palavras adequadas
  • Na emergência, se as ideias sumirem, jogue uma ou duas palavras para tentar encontrar um pensamento

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
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