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Reinaldo Polito

Evite plágio em sua carreira para não ser acusado como Alexandre de Moraes

André Dusek/Estadão Conteúdo
Imagem: André Dusek/Estadão Conteúdo

14/02/2017 04h00

De vez em quando aparece alguém sendo acusado de plágio. Há alguns meses a esposa de Donald Trump, Melania Trump foi acusada de copiar trechos de um discurso de ninguém mais ninguém menos que Michelle Obama, esposa do então presidente norte-americano, o arquirrival de seu marido na campanha presidencial dos Estados Unidos. Esse episódio deu o que falar.

Trump esperneou, Melania tentou explicar, mas parece que ninguém engoliu muito bem essa “coincidência” nos discursos das duas esposas. Como havia intermináveis fatos que se sucederam durante a campanha o assunto foi deixado de lado. Mas que houve confusão, houve.

Há poucos dias a imprensa revelou com grande alarde que Alexandre de Moraes, prestes a ocupar a vaga de Teori Zavascki no STF (Supremo Tribunal Federal), havia copiado em uma de suas obras trechos de um livro do ex-magistrado espanhol Francisco Rubio Llorente.

Não há problema em copiar trechos de livros, desde que a cópia não ultrapasse a três linhas, ou, se ultrapassar, que a parte copiada seja colocada entre aspas, e que a obra e o autor sejam devidamente creditados.

Essa é a orientação da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para os trabalhos acadêmicos. Indicar que o autor copiou determinado trecho de um livro não é nenhum demérito. Ao contrário, indica seu trabalho de pesquisa e a procura de opiniões ou que corroborem a linha da sua tese, ou que a contrariem.

Nos dois casos o trabalho acadêmico é valorizado, pois se o autor teve a grandeza de mencionar uma forma de pensar que se opõe à sua, demonstra que está em busca de respostas, e que havendo ideias divergentes, ele está interessado em apresentar argumentos para que a verdade prevaleça.

Creio, por isso, ter havido equívoco na maneira como o ministro se referiu à obra de Rubio Llorente. Como Moraes se valeu de um grande número de citações, preferiu fazer referência às obras citadas apenas na bibliografia. Portanto, não pode ser tomado literalmente como um plagiador. Que cometeu um deslize acadêmico, entretanto, cometeu.

Eu e a Rachel Polito estamos publicando neste mês, pela Editora Planeta, a obra “Oratória para líderes religiosos”. Como a Rachel se especializou na orientação e correção de trabalhos acadêmicos, não deixa passar uma vírgula que possa, mesmo que remotamente, resvalar no plágio.

Na época em que era orientadora de TCC (trabalho de conclusão de curso), teve muitos atritos com pais poderosos de alunos que haviam cometido plágio em seus trabalhos. Não contemporizava. Percebia a presença do Ctrl C/Ctrl V e reprovava. Ouvia os pais, as explicações dos alunos, os pedidos da direção da faculdade para que relevasse, mas não mudava sua decisão. Mais ou menos assim: tem razão, mas vai preso.

Ao concluirmos o livro “oratória para religiosos” houve um impasse. Chegamos a discutir muito sobre uma parte da obra. Em vários capítulos recomendamos aos pregadores que não copiassem sermões de outros pregadores. Alertamos que hoje possuímos infindáveis meios de pesquisa para que um sermão seja bem elaborado.

Um pregador pode copiar outro pregador?

Resolvi, todavia, fazer um contraponto com base nos ensinamentos de Santo Agostinho, uma recomendação que consta no seu livro “Doutrina cristã”. O grande teólogo afirma em um dos capítulos que se o pregador tiver ótima capacidade oratória, mas for desprovido de competência para elaborar o sermão, não haveria problema em fazer uso de um bom sermão feito por outro pregador.

Agostinho de Hipona diz: “Certamente, existem homens capazes de pronunciar muito bem um discurso, mas incapazes de o compor.  Se eles tomam de outros um discurso escrito com sabedoria e eloquência, e tendo-o aprendido de cor, pronunciam-no diante do povo, não fazem nada de repreensível”.

Seu argumento se sustenta no fato de que a palavra de Deus não pertence a quem elaborou o sermão: “As ideias expressas pelo que compôs o discurso são da propriedade de Deus. E são também de Deus os que não souberam compor por si próprios, mas vivem conforme essas ideias”.

A mim convenceu. Rachel, porém, não se dobrou a esses argumentos de Santo Agostinho. Dá para imaginar as discussões acaloradas e infindáveis madrugada adentro para saber se o trecho participaria ou não do nosso livro. Ela fechou questão. E eu também. Fato raríssimo no nosso relacionamento.

A solução foi fazer um comentário complementar ao texto da “Doutrina cristã”. Um novo alerta ao pregador: “Se você fizer uso do sermão de outro pregador, tenha o compromisso ético de mencionar a fonte”. Nada que nos levasse à concordância completa, mas o suficiente para preservar essa preciosidade de Santo Agostinho, sem deixar de dizer que a ética intelectual é “obrigatória”.

Alexandre de Moraes poderia ter sido um pouco mais zeloso. As aspas teriam evitado esses dissabores todos. Quem o conhece sabe do seu valor intelectual, mas os opositores, com certa má vontade, não perderão oportunidade de atirar algumas pedras.

Na vida corporativa esse cuidado deve ser redobrado. A disputa profissional é intensa, e um deslize dessa natureza pode pôr a perder toda uma trajetória profissional. Nos projetos que elaborar, nas propostas que apresentar, nos relatórios que fizer tenha sempre o cuidado de deixar claro pelas aspas que as ideias que copiou não são suas, mas do autor que mencionou.

Essa precaução construirá uma boa reputação profissional, que será sempre admirada e respeitada. Lembre-se de que com o avanço da tecnologia as faltas de hoje serão descobertas amanhã, e mesmo tendo transcorrido muito tempo, serão avaliadas como se o erro tivesse sido cometido no momento da descoberta.

Superdicas da semana

  • Nunca plagie um texto
  • Sempre cite a fonte de onde tirou as informações que usar
  • Se a citação for literal, use aspas
  • Para não haver dúvida, recorra às normas da ABNT

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)
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