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Reinaldo Polito

Citar autores famosos e fazer comparações ajuda na hora de falar em público

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Imagem: Thinkstock

21/02/2017 04h00

No dia 23 de fevereiro se comemora o nascimento de um dos maiores gênios da humanidade, Arthur Schopenhauer. Nasceu em Danzig, Prússia --atual Gdansk, Polônia-- em 1788, e morreu em Frankfurt em 21 de setembro de 1860.

O autor de “O mundo como vontade e representação” foi considerado um pensador pessimista. Em uma de suas tantas frases célebres afirma expressando em essência a natureza de suas ideias sobre o mundo, a vida, o homem: “Quanto mais elevado é o espírito mais ele sofre”.

Essa data comemorativa me fez lembrar do dia em que convidei Nei Gonçalves Dias, um dos mais brilhantes comunicadores brasileiros de todos os tempos, para participar como paraninfo das turmas de formandos do nosso curso de Expressão Verbal. Eram alunos que haviam concluído um exaustivo treinamento para aprender a falar em público.

Discurso de Nei Gonçalves Dias é usado como exemplo para falar bem; ouça:

Essa característica pessimista de Schopenhauer foi um dos pontos mais relevantes em que Gonçalves Dias apoiou a tese do seu discurso. Sua fala seria a última mensagem, a aula derradeira para aqueles formandos. Em determinado trecho da sua mensagem o paraninfo cita Schopenhauer para valorizar a conquista daqueles que se formavam.

Era um evento singular, pois todos os formandos tinham a oportunidade de fazer um discurso e pôr em prática o que haviam aprendido ao longo de vários meses. Era na verdade a última aula do curso. Como disse o próprio Nei Gonçalves Dias em seu discurso como paraninfo: “É a única formatura em que o formando recebe o certificado de conclusão e precisa mostrar que merece o diploma, falando diante de um público numeroso”.

Aquela formatura se constituía, na verdade, em um bom artifício para que todos pudessem falar para uma grande plateia.

De improviso, o paraninfo fez comparações excepcionais citando Nietzsche, Shakespeare, Vinícius de Moraes, Camões, Bocage, Bilac e, especialmente, Schopenhauer. Uma demonstração espontânea da sua cultura, sensibilidade e preparo intelectual. Seu discurso é um exemplo magnífico de como elaborar uma mensagem.

Começou comparando a preparação do orador com o trabalho do poeta. Disse que “a poesia é muito bonita, porque nós a recebemos sem os andaimes que a construíram. Quando o poeta nos apresenta a poesia ela é sonora, bonita, inspiradora, mas nós não conhecemos os momentos de sofrimento, nós não conhecemos os momentos de dúvida, nós não conhecemos as insistências de métrica que o poeta exercitou para chegar à conclusão daquele verso”.

Após descrever com perfeição como o poeta se dedica para elaborar e concluir sua poesia, de maneira brilhante compara essa atividade com o preparo do orador, especialmente com a dedicação daqueles que estavam recebendo o certificado de conclusão e se apresentando em público naquela manhã de sábado.

“Assim é o homem que fala em público. Nós assistimos aqui, pessoas, homens e mulheres falando com desenvoltura. É evidente que atrás desse desempenho existem andaimes que hoje não apareceram. Vimos apenas pequenos traços de adrenalina no sangue, manifestado por um pouco de suor, e que a gente identifica num processo normal de quem se apresenta em público”.

Em seguida Nei Gonçalves Dias valoriza ainda mais o que presenciou naquele encontro. Enfatiza que aquela conquista é uma demonstração de que a vida não é uma eterna tragédia como nos ensinou Shakespeare. Nem aquela presença continuada da angústia que Schopenhauer anunciava em suas dores do mundo, comparando-a a um oceano cheio de rochedos e ciclones”.

Sim, Nei deixava claro que ali não estavam as dores do mundo. Nada que pudesse ser comparado a um oceano cheio de rochedos e ciclones. Era um momento de alegria, de superação e comemorações. Após mencionar Schopenhauer deu continuidade ao recurso das comparações.

Ele se valeu de uma das mais perfeitas para aquela circunstância. Ao invés de usar um batido chavão, lançou mão de sua criatividade para fazer o encerramento. Com pequenas alterações, dependendo da circunstância, diz o conhecido chavão:

“Esta solenidade provoca, ao mesmo tempo, o sentimento de alegria e o sentimento de tristeza; de alegria pela conclusão de uma etapa importante na vida de todos os alunos, recebendo o certificado de conclusão do curso; de tristeza pela despedida de colegas que se tornaram amigos tão caros”.

Assim se expressou o paraninfo: “ Friedrich Nietzsche, o grande filósofo e pensador alemão, desenvolveu uma tese que retrata fielmente os momentos vividos pelos alunos deste curso. Segundo ele, a vida apresenta momentos semelhantes ao da criança quando está na praia e ri e pula de alegria quando as ondas trazem as conchas coloridas para a areia, e chora de tristeza quando as ondas levam as conchas coloridas para o mar. Esta solenidade de formatura trouxe as conchas coloridas de cada um, dando a alegria a todos pelo simbolismo da conquista da comunicação, mas deu também a tristeza, porque, assim como o mar leva as conchas coloridas, no final do último discurso, levará embora o convívio desta amizade tão bonita (...)”.

Genial! Ah, por onde andará Nei Gonçalves Dias?

Superdicas da semana:

  • Faça citações para enriquecer sua mensagem
  • Faça comparações para facilitar a compreensão dos ouvintes
  • Valorize todo esforço feito pelos envolvidos num evento
  • Todas as citações e comparações precisam estar bem contextualizadas

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

Para outras dicas de comunicação, entre no meu site (link encurtado: http://zip.net/bcrS07)

Escolha um curso adequado às suas necessidades (link encurtado: http://zip.net/bnrS3m)

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