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Reinaldo Polito

Discutir política é o prato do dia, mas fuja de confrontos desnecessários

Getty Imagens
Imagem: Getty Imagens

06/06/2017 04h00

Com os acontecimentos políticos dos últimos anos, especialmente dos últimos meses, e, sem medo de cair no exagero, mais enfaticamente, das últimas semanas, os brasileiros passaram a conversar sobre política em todos os ambientes.

A política virou prato do dia na mesa de bar, nas reuniões familiares, nas reuniões corporativas. Sem contar com as trocas de mensagens que pululam de manhã à noite nas redes sociais.

Bom. Muito bom esse civismo e essa consciência crítica que andavam adormecidos nas preocupações da maioria dos brasileiros. O que mais se ouvia quando alguém “ousava” mencionar fatos políticos era “ah, detesto política”. E assim a conversa mudava de rumo, indo resvalar para temas ligados ao futebol, viagens e questões econômicas, que, para alguns, nada tinham a ver com política.

Afinal, é bom mesmo discutir política?

Sim. E não. Tenho observado em casos extremos amigos e familiares se desentendendo por posicionamentos políticos contrários. De maneira geral, a conversa começa tranquila, mas vai esquentando até o ponto de não haver mais razão nas discussões. Cada um querendo lutar para fazer prevalecer seu ponto de vista, independentemente de estarem certos ou não.

Desde garoto ouço os mais velhos dizerem que “não se discute política, futebol e religião”. Escrevi dois livros que contemplam capítulos sobre a arte de conversar: “Superdicas para falar bem em conversas e apresentações” e “Conquistar e influenciar para se dar bem com as pessoas”. Neste último especialmente, recomendo diversas vezes ao leitor que dê um jeito de abandonar a conversa quando alguém inicia discussões desnecessárias.

São questões universais, já que estas obras foram editadas sem nenhuma alteração em países como Itália, Suíça, Portugal, Colômbia e Rússia. Com mais ou menos veemência, as conversas seguem em todos os cantos do mundo praticamente os mesmos princípios. Ou seja, é necessário que haja bom senso para que alguém não fale tanto de si, não critique pessoas ausentes nem as elogie em demasia.

Autores sugerem cautela nas discussões

Tenho no meu acervo diversos livros que tratam da arte de conversar. Peguei dois de épocas diferentes para mostrar como esse cuidado sempre esteve presente nas reflexões dos estudiosos desse tema: “Como se aprende a conversar”, de José Guerreiro Murta, publicado em 1925, e “A arte de conversar”, de Cruz Malpique, publicado em 1950. Os dois autores, em épocas tão distintas, sugerem cautela nas discussões.

Murta dá interessante conselho, com vistas à harmonia e paz para convivência: “As pessoas, que fazem visitas de cerimônia, evitam com cuidado os assuntos que podem dividir opiniões. Quando abordam assuntos dessa natureza, dissimulam o mais possível a contradição e chegam muitas vezes até a sacrificar as suas ideias para mostrar que estão de acordo”.

Querer ganhar discussões é, quase sempre, característica dos tolos. Se parassem para pensar no tipo de vantagem que teriam com essa tentativa de fazer com que sua opinião prevaleça, depois de ouvir os argumentos contrários, diriam simplesmente “talvez tenha razão”. Essa expressão poderia ser ótima oportunidade para mudar de assunto.

Malpique, por sua vez, cita elevada reflexão de La Bruyère: “Pobre daquele que não tem espírito bastante para falar bem, nem o discernimento suficiente para saber quando se há de calar! Não é outra a causa da impertinência”.

Por isso, podemos e até devemos discutir política. É salutar. Como afirmou Aristóteles, naturalmente o homem normal é um zoon politikon, isto é um animal (zoon) político (politikon). Somos seres políticos por excelência. Todas as nossas ações são guiadas pelas decisões políticas.

Nosso emprego, nossa segurança, nossa saúde, nossa qualidade de vida, tudo depende do que os políticos decidem. Enfiar a cabeça num buraco e ficar alheio ao que nos rodeia é deixar por conta dos outros o destino que deveríamos ter em nossas mãos.

Daí, entretanto, a estabelecer confrontos desnecessários, discutindo questões políticas, guiados pela emoção, é insensato. Correr o risco de romper relacionamentos duradouros apenas por querer ganhar discussões dessa natureza é decisão que precisa ser refletida e ponderada com tranquilidade e inteligência.

E já que vamos pensar nas consequências de discutir desnecessariamente as questões políticas, coloquemos no pacote também a religião e o futebol. Não é para deixar de conversar sobre esses temas, mas, sim, para avaliar se vale a pena discutir essas questões na tentativa de tornar nossa maneira de pensar vitoriosa. Tenho me esforçado nesse sentido. E aprendendo cada dia mais.

Superdicas da semana

  • Converse sobre política, mas não estabeleça confrontos desnecessários.
  • Se o assunto caminhar para a discussão, evite temas ligados à política, ao futebol e à religião.
  • Às vezes, é preferível deixar que o interlocutor pense ter vencido a discussão.
  • Devemos ter cuidados nas conversas – não falar mal de quem está ausente. Também não o elogiar em demasia. Não falar tanto de si. Deixar que os outros falem.

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", “Superdicas para falar bem”, "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva, e “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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