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Reinaldo Polito

Leão teria dado uma bola fora com sua ausência em homenagem do Palmeiras

02/09/2017 04h00

Ao ler a notícia publicada no UOL por Danilo Lavieri tive um calafrio. Ele disse que o presidente do Palmeiras, Mauricio Galiotte, teve de convencer Leão a receber uma homenagem na comemoração dos 103 anos de fundação do clube.

Imagine que situação delicada essa, o Palmeiras tendo preparado uma homenagem àquele que, na opinião do presidente, foi o melhor jogador alviverde de todos os tempos, e o homenageado simplesmente não comparece.

Não teria sido a primeira vez na história do futebol. Certa vez, Ricardo Teixeira preparou uma grandiosa festa para a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) homenagear João Havelange. Tudo acertado, os cartolas todos presentes, e o homenageado não deu as caras. Na melhor das hipóteses, poderíamos dizer que ficaram ali com cara de bobos. Talvez não exista desfeita maior que prestar uma homenagem, e o homenageado não comparecer ao evento.

Com certeza um dos momentos mais eloquentes da oratória brasileira ocorreu em situação semelhante. Os abolicionistas de São Paulo promoveram uma homenagem estrondosa a José Bonifácio de Andrada e Silva, o grande nome do abolicionismo.

Para prestar a homenagem, convidaram um dos melhores oradores da época, Brasílio Machado, conhecido como o "paladino do Direito". O orador preparou seu discurso, mas teve uma desagradável surpresa: José Bonifácio não compareceu para receber a homenagem.

Avalie a situação do orador: com o discurso pronto, a festa preparada, as pessoas ansiosas e nada do homenageado. O desafio era grande, pois precisava prestar a homenagem, mas não poderia fechar os olhos para o descontentamento da plateia.

Ele foi genial. Começou colocando o dedo na ferida, mencionando a ausência do homenageado e a revolta do público. Em seguida, citou a humildade de José Bonifácio. Finalmente, usou sua inteligência e presença de espírito para contornar aquele momento tão delicado:

"Senhores, se não me fora permitido dominar as revoltas do pesar, que uma circunstância do momento instiga, mas que a reflexão modera, e eu pudesse, numa síntese enérgica, condensar as interrogações que mal se calam na boca de quantos me escutam, sob cada palavra minha eu deveria sentir as palpitações de uma surpresa amarga, e em cada gesto deveria adivinhar o constrangimento.

Por que nos reunimos? Para afirmar. E o que afirmamos? Uma pessoa. Mas quem pressuroso acode recebê-la? Ninguém!

Pois que o eminente cidadão, em cuja honra se organiza essa homenagem, não pode vencer as travadas linhas da solidão e da modéstia em que se isolou, e destarte se esquiva às exclamações que o esperavam.

Não, senhores, o que afirmamos não é um homem, é um princípio; não é a estátua, é a significação; não é o foco, mas a irradiação; não é a pessoa, mas a propaganda.

Ausente, José Bonifácio se distancia, mas pela elevação; a luz, quanto mais sobe, mais se aproxima; a ideia quanto mais domina, mais se eleva. Senti-lo ausente é mais significativo que o saudar de perto."

Brasílio Machado conseguiu demonstrar com bonito jogo de palavras que a homenagem à distância era ainda mais significativa do que se realizada com a presença do homenageado.

Não foi preciso nenhum Brasílio Machado para salvar a festa palmeirense. Leão compareceu, se emocionou e disse palavras que envolveram a plateia: "O Palmeiras me deu uma joia rara. Foi lá que conheci minha mulher, com quem sou casado há 41 anos."

Superdicas da semana

  • Ao receber uma homenagem, fale antes da sua emoção e alegria
  • Em seguida, agradeça às palavras do orador
  • Depois, agradeça às pessoas presentes e a quem o ajudou
  • Associe o motivo da homenagem a uma causa nobre

Livros de minha autoria sobre oratória: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas", "Superdicas para falar bem" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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