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Reinaldo Polito

Na empresa, no clube e até na família: tem sempre um invejoso ao seu lado

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

05/12/2017 04h00

Você sente inveja de alguém? Não? Se não somos invejosos, por onde andará essa turma de olho grande e cotovelos doídos?

Aí é que está. Além de muitos de nós sentirmos inveja, esse sentimento está ainda mais presente nas pessoas que nos rodeiam.

Verdade. Quanto mais próximas forem as pessoas, maior será a possibilidade de que se incomodem com o sucesso e o bem-estar de quem está ao lado delas. Por isso, sentem inveja aqueles que trabalham na mesma empresa, frequentam o mesmo clube e, por incrível que possa parecer, vivem na mesma família, debaixo do mesmo teto.

Nada novo. Há quatro séculos antes de Cristo, Aristóteles identificava e expunha de forma magistral, em "Arte Retórica", quais os motivos que nos levam a sentir inveja. O entendimento dessas causas nos ajuda a compreender esse sentimento naqueles que estão à nossa volta e em nós mesmos.

Por que sentimos inveja? O que disse Aristóteles

Antes de mais nada, é preciso saber que todos os que têm pares ou imaginam tê-los sentirão inveja. Segundo Aristóteles, sentimos inveja daqueles que nos são chegados pelo tempo (vivem na mesma época), lugar, idade e reputação.

Você não sentirá inveja de quem viveu no Império Romano nem daqueles que habitarão o mundo daqui a várias gerações. Também não invejará quem habita uma região remota na Ásia, se morar na América do Sul ou no continente americano. Muito menos de quem nós ou os outros julgamos muito inferiores.

Vamos refletir sobre os motivos relacionados por Aristóteles:

  • Sentimos inveja daqueles com quem rivalizamos, isto é, que estão próximos pelo tempo, lugar, idade e reputação;
  • As pessoas que buscam honra são mais invejosas do que as que não a buscam;
  • Também são tomados por esse sentimento os que desejam se passar por sábios, pois ambicionam a reputação que a sabedoria dá;
  • A inveja atacará ainda quem for mesquinho, pois, para esses, tudo parecerá grande e inatingível.

Veja como a sabedoria de Aristóteles vai descortinando os meandros desse sentimento e nos permite compreender melhor porque ele ataca a nós e às pessoas com as quais convivemos. É quase certo que você tivesse essa percepção, mas, quando somos alertados, nossa compreensão aflora com mais facilidade.

Vamos identificar outras causas da inveja a partir dos conceitos aristotélicos:

  • Sentimos inveja das pessoas com quem disputamos no amor, no esporte, e com quem busca os mesmos bens que almejamos;
  • Invejamos aqueles que facilmente conseguiram os bens que nós tivemos de trabalhar duro para obter;
  • Invejamos aqueles que conquistaram êxitos, se nós, ainda que possuíssemos as mesmas condições, falhamos --muito comum dentro da família, pois se há dois irmãos, criados pelos mesmos pais, frequentando as mesmas escolas e tendo as mesmas oportunidades, um se sentirá diminuído diante daquele que triunfou onde ele foi derrotado, e o invejará;
  • A inveja aparecerá naquele que vê outros de posse das vantagens que um dia foram ou deveriam ser dele.

Como detectar a inveja no ar

Analise suas reações. Se, por exemplo, se surpreender fazendo críticas a uma pessoa ausente, sem que ela tenha feito nada para merecer esses comentários desairosos, é quase certo que o motivo seja a inveja. Sem contar ainda que, se você demonstrar um comportamento invejoso, as pessoas de sua convivência perceberão. Essa consciência poderá ajudá-lo a combater esse sentimento e passar a agir de maneira diferente.

Da mesma forma, se notar que alguém o agride com palavras, ou o desconsidera com deboche, silêncio premeditado ou com qualquer outro comportamento frio ou descortês, sem que você merecesse essa atitude, há boa chance de que seja inveja.

Nesse caso, tente descobrir, dentro dos motivos que analisamos até aqui, se você não o está diminuindo ou levando alguma vantagem que ele pudesse supor ser dele. Quem sabe se, com essa descoberta, você não possa, com jeito e diplomacia, mostrar que não é seu adversário?

E, se de toda maneira, não conseguir neutralizar esse sentimento, com certeza estará em melhores condições para compreender e enfrentar a situação.

Ah, e tome cuidado para não imaginar inveja onde não existe. Ao tentarmos aprender mais sobre o comportamento das pessoas, corremos o risco de supor causas inexistentes. Pode ser que o que parece ser inveja seja, na verdade, outro sentimento. E essa será mais uma oportunidade de aprendizado. Basta deixar os olhos abertos e o espírito desarmado.

Superdicas da semana:

  • A inveja existe entre os iguais
  • A inveja existe entre os que ambicionam os mesmo bens
  • A inveja existe quando alguém conquista com muito trabalho o que outro obteve facilmente
  • A inveja existe mais naqueles que ambicionam reputação

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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