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Reinaldo Polito

Como saber se você é mesmo um líder de verdade?

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Imagem: iStockphoto

25/12/2017 04h00

Obras e conceitos sobre liderança surgiram aos borbotões. É interessante que, alguns desses estudos, quanto mais tentam explicar, mais nos confundem. O melhor livro sobre liderança que já li foi publicado por Paulo Gaudencio: "Superdicas para se tornar um verdadeiro líder". Um pocket com 60 dicas de, no máximo, duas páginas cada uma.

Publicado também em espanhol e italiano, fez tanto sucesso no exterior quanto no Brasil. Gaudencio pega o leitor pelas mãos e vai explicando, passo a passo, tudo o que é preciso saber sobre liderança e, principalmente, como aplicar esse conhecimento na vida corporativa.

A importância da comunicação está impregnada em cada orientação deste grande psiquiatra. A maneira como o líder deve se comportar diante de seus liderados, tanto para falar quanto para ouvir, é de fundamental importância para que obtenha sucesso em suas empreitadas. Como alguém pode, por exemplo, dar "feedback" correto se não souber se expressar?

De todos os pontos relevantes abordados no livro, alguns me chamaram a atenção de maneira especial: "O que é ser líder?", "A importância de ouvir", "Aprenda a delegar" e "Estilos de liderança". São apenas algumas gotas no mar de ensinamentos revelados em sua obra. Vamos analisar cada um desses pontos para que possamos fazer uma autoavaliação da nossa própria capacidade de liderança.

O que é ser líder

Gaudencio resume assim o papel do verdadeiro líder:

1. O líder sabe o que quer. Ele tem um sonho.

2. O líder quer o que sabe.

O líder tem consciência do que deseja, ele tem um sonho que pretende realizar. Afinal, qual é o seu sonho? Criar uma equipe competitiva para enfrentar as crises que surgem com frequência cada vez maior? Levar a empresa ao patamar mais alto do mercado, transformando-a na protagonista do setor? Tornar a organização uma das mais admiradas e eleita entre as melhores para se trabalhar?

Bem, cada um tem um sonho que gostaria de ver concretizado. E não precisa --talvez nem deva mesmo-- ser apenas um único objetivo a ser alcançado. De maneira geral, são vários planos que, em alguns momentos, caminham sozinhos, envolvendo todos os esforços do líder, da sua equipe e até de toda a organização. Em outras circunstâncias, caminham juntos, entrelaçados, dependendo uns dos resultados dos outros.

Tendo consciência do que pretende, chegou o momento de se empenhar para conquistar o que deseja. Aqui reside, talvez, a mais relevante de todas as explicações para o papel do líder: o importante para ele não é apenas a concretização do sonho ou ser visto como responsável pela sua realização.

O segredo está no fato de o líder envolver e comprometer outras pessoas com seu sonho e, depois de algum tempo, os liderados se empenharem na busca de caminhos para que essa grande aspiração seja concretizada, independentemente da participação do líder.

Reconheça a importância de ouvir

Sem dúvida, a oratória é fundamental para o bom exercício da liderança. Mas o conceito deve aqui ser ampliado: a comunicação, em seu sentido mais abrangente, é essencial, sim, para que se exerça bem a liderança. Não bastará que o líder apenas fale do seu sonho, mas que conheça também o sonho de seus liderados. Para isso, é preciso saber ouvir.

Ao dar atenção e levar em conta as aspirações de quem o segue, o líder demonstra, de forma autêntica, como valoriza as ideias daqueles que estão à sua volta. E, quando um liderado percebe que foi levado em consideração e que suas sugestões ajudaram a compor um plano maior, estará comprometido com aquele objetivo, pois, a partir desse momento, esse sonho também passa a ser seu.

Quando o líder está confiante e empenhado na realização de um sonho, consegue ouvir, sem resistência, as ponderações de seus liderados todas as vezes que tiver de envolver e comprometer alguém nesse objetivo. Não se incomodará de ser questionado sobre a importância de seus planos nem a respeito das estratégias utilizadas para sua concretização.

Aprenda a delegar

Se perguntarmos a um grupo de gestores o que pensam sobre a importância de delegar, provavelmente a maioria dirá que o processo de liderança passa necessariamente pela capacidade de delegar. Só que, se observarmos bem, poucos desses gestores que assim se manifestam conseguem abrir mão de algumas tarefas que julgam ser relevantes.

Portanto, saber que delegar é importante quase todos sabem, mas deixar que outros deem andamento às atividades que permitiriam a concretização dos planos estabelecidos é atitude de poucos.

Ao contrário do que pensa a maioria, Gaudencio tem uma opinião peculiar sobre esse comportamento centralizador. Segundo ele, a questão é mais emocional e menos racional.

O psiquiatra vê o controlador como alguém que reprime as emoções e, por isso, as teme. Ele compara esse comportamento com o de "alguém que tenta segurar dez rolhas no fundo de um barril cheio de água. Se uma delas escapar, ele se perde, porque, para recuperá-la, permitirá que todas as outras escapem. Por esse motivo, amarra todas no fundo do barril, impedindo sua natureza, que é flutuar".

Talvez o seu liderado não execute todas as tarefas com a mesma competência que a sua. É quase certo que o resultado não seja tão bom como o que você atingiria se realizasse pessoalmente cada etapa do processo. Mas a importância do comprometimento desse liderado por ter a autonomia de realizar essas atividades, sem interferência direta, compensaria largamente qualquer preciosismo técnico que não fosse atendido. O importante é o resultado final e, para que seja bom, o líder precisa aprender a delegar.

Estilos de liderança

Qual é o seu estilo de liderança? São inúmeros os estilos. Alguns são tão próximos dos outros, de distinção tão tênue, que considerá-los para o nosso estudo talvez fosse até excesso de preciosismo. Você é coercitivo, afiliativo, democrático, treinador? Vamos verificar as características de cada um deles para que você possa tomar consciência de como tem agido, ou pretende agir, no seu papel de líder.

Antes, é conveniente refletirmos sobre o que afirma Daniel Goleman [autor de "Inteligência Emocional"]: os executivos mais eficientes utilizam uma coleção de estilos distintos de liderança, na medida certa e no momento certo. Esse é um ponto importante a ser observado: a aplicação de estilos diferentes por um mesmo líder.

E, já que mencionamos Goleman, vale a pena expandirmos um pouco mais sua análise sobre o processo de liderança. Ele diz que a flexibilidade de estilos de liderança apresenta grandes resultados de atuação e que liderança é algo que se pode aprender.

Estilo coercitivo

Conforme o próprio termo sugere, tem estilo coercitivo aquele que atua com coerção. Esse estilo de liderança reprime, intimida, inibe, limita a atuação da equipe. De maneira bem simplificada, é aquele que manda fazer e não admite contestação. Não é preciso pensar muito para concluir que esse tipo de atuação produz consequências negativas no ânimo do grupo.

Os comandados agem com medo, com receio de serem repreendidos ou afastados de suas funções. Quando o líder age dessa maneira por períodos prolongados, o risco é que até os resultados sejam afetados. Além dessa consequência no desempenho profissional, em alguns casos verificam-se, ainda, sérios efeitos emocionais.

Por outro lado, em situações excepcionais, de crises ou emergenciais, é um estilo que pode produzir excelentes resultados. Há gestores que, mesmo não possuindo esse perfil, chegam a interpretar o estilo coercitivo para que objetivos de curto prazo possam ser alcançados.

Estilo afiliativo

É um estilo que considera as pessoas acima de tudo. É o líder agregador, que, para atingir resultados, se vale da capacidade de comunicação, da empatia, do bom relacionamento. É mais indicado para resolver disputas nas equipes e motivar pessoas em situações estressantes.

Estilo democrático

É o estilo que pressupõe a participação, a troca de informações, o respeito às opiniões contrárias. Para essa liderança, é preciso ter boa capacidade de comunicação e elevado grau de empatia. Só assim terá a colaboração e a confiança da equipe.

O estilo democrático funciona principalmente para obter consenso, conquistar a aceitação mais rápida das propostas apresentadas e a colaboração dos comandados. Quando bem executado, consegue o comprometimento e a motivação dos liderados.

Estilo treinador

Para aplicar esse estilo, o líder precisa ter bastante empatia, consciência dos objetivos pretendidos e boa comunicação. O grande mérito desse estilo é o desenvolvimento e crescimento dos liderados para que atuem na concretização das aspirações da organização.

Como você pode agir

Ainda que você tenha um estilo próprio e definido, o ideal é que desenvolva e tenha à disposição um pouco de cada um deles. Dessa forma, poderá se adaptar com mais facilidade às necessidades das circunstâncias. Sem contar que, em uma mesma situação, é preciso, às vezes, ter essa flexibilidade para transitar rápido entre um e outro.

Faça uma autoanálise e procure perceber como tem se comportado como líder. Observe sua capacidade de ouvir, de delegar, e descubra qual é o seu estilo predominante. Verifique se é mais centralizador ou democrático, e se consegue alternar de um para o outro de acordo com a situação.

Analise, ainda, o que precisaria fazer para aprimorar e ter à disposição as características de outros estilos de liderança. Não se atenha apenas às questões que foram estudadas aqui. Pesquise e descubra outros fatores que poderiam se encaixar mais à sua maneira de ser.

Superdicas da semana:

  • Não existe apenas um estilo de liderança
  • Qualquer estilo, desde que aplicado à circunstância apropriada, pode funcionar
  • Aprenda a transitar de um estilo para outro
  • Saiba falar, ouvir e delegar para exercer bem a liderança

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta. Leia também “Superdicas para ser um verdadeiro líder”, de Paulo Gaudencio, publicado pela Editora Saraiva.

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