IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Reinaldo Polito

Ser bravo ou suave no trabalho? Depende da situação da sua empresa na hora

Getty Images
Imagem: Getty Images

20/02/2018 04h00

Em conferência realizada na Academia Brasileira de Letras, Josué Montello faz importante citação sobre a eloquência: “Se a sociedade mergulha numa fase de crise, logo a eloquência dá de si, com sua impetuosidade, a sua ira, o seu destemor e o seu fulgor verbal”. E para exemplificar o acerto de sua afirmação menciona fatos que marcaram a história:

“E é Cícero contra Catilina, e é Danton pregando a revolução, e é Rui Barbosa ateando a coluna de fogo da Campanha Civilista”. Se quisermos trazer para os nossos dias, não será difícil constatar que na fase em que o Brasil vivia seu momento de esplendor, elogiado pelas mais importantes economias mundiais, não havia praticamente nenhuma voz “eloquente” que se opusesse ao governo.

Escrevi nesta mesma coluna, sem que houvesse contestação dos leitores, como a oposição se comportava naquela fase de bonança. Transcrevo: Há algum tempo, o senador amazonense Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado e um dos mais ferrenhos e competentes opositores do governo Lula, disse nas Páginas Amarelas de "Veja":

"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é um líder de massas, o maior que o país já teve desde Getúlio Vargas. Ele sempre foi identificado com as causas populares. É o principal protagonista da história das eleições presidenciais. O carisma dele é inegável”.

Menciono também o que disse seu principal opositor, Fernando Henrique Cardoso, que havia levado, sem piedade, durante dois mandatos como presidente, bordoadas de Lula. Em uma de suas palestras, FHC revela que seu maior mérito político havia sido o de vencer Lula, um líder carismático.

O próprio José Serra, durante debates e entrevistas quando concorreu com a então candidata Dilma Rousseff, sabendo que Lula gozava de enorme popularidade, ao invés de atacar o governo elogiava o adversário. O mesmo não se deu no momento em que a economia estava em frangalhos sob o governo de Dilma – foi fácil para a oposição partir para o ataque.

A veemência dos opositores foi tão aguerrida e eloquente que destituíram Dilma do cargo de presidente poucos meses após ter sido reeleita. Tenha você simpatia ou antipatia por determinados políticos ou governos, esses fatos são reais. Ratificam em épocas diferentes as pregações de Josué Montello a respeito do discurso eloquente em época de crise.

Para trazermos mais próximo ainda de nós, por mais que critiquem Michel Temer, e criticam muito, não se veem grandes movimentos populares nas ruas, já que a economia respira com a queda da inflação, a diminuição da taxa de juros, o crescimento do PIB e a retomada dos níveis de emprego. Tivesse a economia vivendo dias mais dramáticos, talvez, o governo já seria outro.

Portanto, as pessoas se expressam elogiando, criticando, ou mantendo neutralidade de acordo com as circunstâncias em que vivem. Um velho chavão pode ser aplicado nesse contexto – “em casa que não tem pão todo mundo grita e ninguém tem razão”.

Não chega a ser diferente na vida corporativa. Quando a empresa está nadando em lucro, conquistando e mantendo seu mercado e sendo procurada pelos melhores talentos profissionais até faz corte de gastos aqui e ali, mas dificilmente toma decisões radicais. Os discursos são amenos e conciliadores.

Por outro lado, quando o momento é de penúria, com os credores batendo à porta e os estoques repletos por falta de venda o que mais se ouve nos corredores e nas salas de reunião é gritaria. E aquele que não falar alto, não se inflamar em suas apresentações, correrá o risco de ser visto como desinteressado e alheio aos problemas enfrentados pela empresa. Nesse caso, os discursos são eloquentes e combativos.

Por isso, não se comporte na fartura da mesma forma como age na escassez. Seja um observador permanente. Quando as nuvens escuras prenunciam que dias amargos se aproximam, seja dos primeiros a demonstrar que crise se combate com luta, determinação e atitude. Ao perceber, entretanto, que os momentos são promissores, tenha um comportamento adequando à situação, diminuindo a veemência e se integrando à harmonia do time para aproveitar esses instantes.

Haverá situações, porém, em que na crise a prudência exigirá que se afaste da turbulência, pois o desespero pode cegar aqueles que obrigados a agir, sem saber como se comportar, colocarão a guilhotina no primeiro pescoço que tiverem pela frente.

Assim como é fácil deduzir ainda que debaixo de águas, aparentemente mansas, pode haver correntes irrefreáveis, que carregam quem se colocar de forma indolente em seu caminho. Somente a lucidez e a observação constante mostrarão que adaptações devem ser feitas a cada momento, ora se expressando com eloquência, ora com serenidade. E em determinados instantes nem de um jeito nem de outro.

Superdicas da semana:

  • Fale com eloquência nos momentos de crise
  • Fale com serenidade nos bons momentos
  • Saiba quando se afastar nos instantes de turbulência
  • Seja um eterno observador para identificar qual o momento vivido

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta. Leia também “Superdicas para ser um verdadeiro líder”, de Paulo Gaudencio, publicado pela Editora Saraiva.

Siga no Instagram - @reinaldo_polito
Siga pelo Facebook - facebook.com/reinaldopolito
Pergunte para saber mais contatos@polito.com.br