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Reinaldo Polito

Lição de grande criminalista: escolha carreira por paixão, não por dinheiro

04/04/2018 13h26

Independentemente da carreira que você tenha abraçado ou que ainda venha a abraçar, saiba que só será feliz profissionalmente se estiver efetivamente apaixonado pela atividade que desenvolve. Quem se preocupa exclusivamente com a remuneração correrá o risco de chegar ao final da vida arrependido por ter se dedicado a uma profissão sem nenhum sentimento. E não terá como recuperar o tempo perdido –a vida já foi.

Uma das maiores demonstrações de amor, de paixão, de fidelidade à profissão, talvez, tenha sido deixada pelo insuperável advogado criminalista Waldir Troncoso Peres, chamado de “O Príncipe dos Advogados”. Incontáveis advogados, que hoje militam na área criminal, foram inspirados pelo seu exemplo.

Troncoso Peres foi um dos mais competentes oradores da história da advocacia brasileira em todos os tempos. Seus grandes amigos o idolatravam, como o advogado Luiz Flávio Borges D’Urso, ex-presidente da OAB, que o comparou a grandes nomes da advocacia criminal, como Evaristo de Moraes e Manoel Pedro Pimentel.

Até os adversários de tribunal reconheciam sua incomparável eloquência. Um deles, Márcio Thomaz Bastos, que o enfrentou como assistente de acusação no lendário julgamento de Lindomar Castilho, afirmou: “O seu problema é que a gente não sabe se você pensa antes de falar ou fala antes de pensar”. Era o respeito e a admiração pelo homem e pelo profissional.

Troncoso nos deixou no dia 12 de abril de 2009, ou seja, está fazendo agora nove anos que a advocacia brasileira perdeu um de seus filhos mais diletos. Uma lacuna que jamais poderá ser preenchida. Por isso, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e a OAB-SP (Ordem dos Advogados de São Paulo) se uniram para prestar a ele uma justíssima homenagem.

No dia 2, terça-feira, promoveram a entronização do busto do advogado Waldir Troncoso Peres, na sala Desembargador Paulo Costa do Tribunal de Justiça. Uma das solenidades mais emocionantes que tive a oportunidade de assistir. Compareceram seus familiares e as mais altas autoridades do mundo jurídico do Brasil.

Todos que discursaram, sem exceção, enalteceram o amor, a paixão que Troncoso Peres tinha pela profissão. E eu sou testemunha disso. Estava presente no dia 19 de dezembro de 1989, quando ele recebeu da OAB-SP o Prêmio da Espada e da Balança. Ao agradecer a homenagem disse:

“Eu pedi aos meus filhos, como última vontade, que me enterrem de beca. Porque se a vida for contingente e eu amanhã tiver apenas que me mineralizar, pelo menos eu estarei envolto no suor da minha beca, com a qual eu honrosamente eu ganhei a minha vida.

Mas se o transcendental existe e do outro lado alguma coisa nos espera, ainda assim eu quero ser enterrado de beca. Porque ela, que me ensinou a abrir a porta da cadeia, haverá de me ensinar a abrir a porta do céu”.

Ouça abaixo um exemplo de discurso de Troncoso Peres:

Falaram na solenidade de entronização do seu busto o seu filho Moacir Andrade Peres, Carlos Augusto Lorenzetti Bueno, o Conselheiro Federal da OAB Luiz Flávio Borges D’Urso, O Presidente da OAB – SP Marcos da Costa e o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo Manoel de Queiroz pereira Calças.

D’Urso, que possui estilo de oratória semelhante a de seu grande mestre Troncoso, fez um discurso que emocionou a todos. Relembrou momentos particulares de sua convivência com o homenageado, mencionou passagens curiosas de seus julgamentos e, principalmente, como aquela figura franzina, levemente encurvada se agigantava quando falava na tribuna do júri.

Encerrou sua peroração imitando o grande Troncoso abrindo e levantando os braços, fazendo aparecer sua beca plissada, como se fosse um ser alado que, com sua eloquência, impressionava tantos quantos o viam e o admiravam pela incomparável capacidade oratória.

Uma curiosidade mencionada nas homenagens que recebeu foi o fato de ter frequentado durante 50 anos a mesma mesa do Restaurante Itamarati, localizado nas proximidades da Faculdade de Direito do Largo São Francisco. E que após o seu desaparecimento, ali foi colocada uma placa em sua homenagem:

“Sentava-se nesta mesa o Príncipe dos Advogados”. Durante mais de meio século o saudoso advogado Waldir Troncos Peres (1923 – 2009) escolheu esta mesa, compartilhando afetos com amigos e companheiros da Faculdade de Direito. Troncoso Peres foi considerado um dos mais importantes criminalistas do Brasil, exercendo a especialidade com brilho invulgar. Sua atuação no júri o tornou conhecido como “Príncipe dos Advogados”. Homenagem da Acrimesp – Associação dos Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo e OAB-SP.

Quem não gostaria de chegar ao final da vida recebendo esse reconhecimento?! Essa conquista nada tem a ver com dinheiro, com poder, com cargo, mas sim com competência, dedicação e amor incondicional à profissão. Tomara que todos nós encontremos esse caminho e possamos nos orgulhar do trabalho que desenvolvemos e da profissão que abraçamos.

Polito e D'Urso com busto de Troncoso Peres - Acervo pessoal - Acervo pessoal
Reinaldo Polito (esq.) e Luiz Flávio Borges D'Urso com busto de Waldir Troncoso Peres
Imagem: Acervo pessoal

Superdicas da semana:

  • Seja apaixonado pela atividade que desenvolve
  • Tenha coragem de buscar sua vocação, independentemente de qualquer vantagem financeira
  • Dedique-se a uma profissão da qual possa se orgulhar.
  • Pense – no final da vida, ficarei feliz pela profissão que abracei?

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "As Melhores Decisões não Seguem a Maioria", “Oratória para advogados”, "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. “Oratória para líderes religiosos”, publicado pela Editora Planeta.

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