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Reinaldo Polito

Boa liderança pede comunicação de qualidade; veja 6 regras para liderar bem

Getty Images
Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

16/09/2020 04h00

Conte-me e eu esqueço. Mostre-me e eu apenas me lembro. Envolva-me e eu compreendo.
Confúcio

A boa liderança exige comunicação de qualidade. E comunicação no seu sentido mais amplo, pois implica os mais diversos aspectos de interação com os liderados. O líder competente não fala apenas com as palavras, mas também, e às vezes mais até, com o silêncio e com a expressão corporal. A maneira como reage com o semblante, a forma como olha, como gesticula; a suavidade ou a energia no tom da sua voz podem ser de fundamental importância para que a sua mensagem seja compreendida e praticada. Vamos analisar seis regras básicas de comunicação que podem melhorar o desempenho do líder.

1 - Usar a palavra mágica "nós"

Um de meus alunos mais marcantes foi o tetracampeão brasileiro de futebol Mauro Silva. Na elaboração de sua palestra, ele contou um fato bastante curioso. Mauro teve um técnico que só pensava no próprio umbigo. Se o time terminava o jogo vitorioso, ele dizia: "Nós ganhamos". Se o resultado fosse negativo, ele culpava os jogadores: "Vocês perderam". Nem é preciso dizer que o treinador não durou muito tempo no comando do time.

O verdadeiro líder sabe como demonstrar que participa do grupo. Por isso, "nós" é uma palavra mágica. Quando o líder utiliza o "nós" para ensinar, aconselhar, orientar, quebra a barreira que poderia separá-lo de seus liderados. É como se ensinasse e, ao mesmo tempo, recebesse o ensinamento. Seria diferente se dissesse "vocês" —por exemplo, se aconselhasse dizendo "vocês precisam agir com determinação". Poderia passar a impressão de que é o único sabichão e os outros, um bando de desavisados, que precisariam seguir os seus conselhos. Ao se comunicar com a frase "nós precisamos agir com determinação", dá a entender que efetivamente faz parte do grupo.

2 - Saber ouvir com interesse verdadeiro

Todo grupo gosta de ser ouvido e de se mostrar útil no planejamento e na implantação dos projetos e na realização das tarefas. Uma boa forma de o líder demonstrar que se interessa pela opinião dos liderados é ouvir com bastante atenção, especialmente as pequenas sugestões. Essas são mais fáceis de serem implementadas. À medida que ocorre o aproveitamento de várias ideias, o sentimento de participação do grupo aumenta e se solidifica.

3 - Conhecer as características de cada liderado

O líder não pode tratar seus liderados como se todos fossem iguais. Não são. Uns gostam de receber orientações detalhadas para desempenhar suas tarefas. Outros, ao contrário, preferem apenas ter uma noção geral do que deve ser feito, e usar suas habilidades e até sua criatividade para levar a cabo sua missão.

Há pessoas que precisam ser tratadas com firmeza para sentirem autoridade no comando. Outros, de forma diferente, se mostram resistentes diante desse tipo de atitude, pois aspiram a receber tratamento mais amistoso, cordial, quase paternalista. Se o líder não atentar para essas diferenças, provavelmente incorrerá em equívocos. O líder precisa dedicar boa parte do seu tempo para identificar o perfil de cada um de seus liderados.

4 - Aplicar a técnica maiêutica socrática

Mesmo sabendo exatamente o que deve ser feito, o líder obterá melhores resultados se souber fazer as perguntas adequadas às pessoas certas. Com habilidade, deverá encaminhar as respostas para o rumo a ser seguido. Quando participam, os liderados se mostram mais comprometidos e satisfeitos por sentirem que suas opiniões são ouvidas.

Essa técnica idealizada por Sócrates —trazer as informações à tona a partir das respostas da própria pessoa que deseja obter o conhecimento— encontra perfeita aplicação no processo de liderança. O método consiste em fazer perguntas sucessivas a partir das respostas obtidas até que surja a informação desejada.

Sem contar que, na maioria das vezes, entre uma e outra resposta, poderão surgir opiniões que o líder não havia imaginado e que podem ser ainda mais vantajosas. Com essa prática, todos ganham: o líder, por desempenar bem o seu papel, e os liderados, por estarem mais dispostos e motivados na execução dos trabalhos.

5 - Determinar funções

Se cada liderado agir de acordo com a sua cabeça, por mais competente que seja, não apresentará o melhor resultado desejado. Por esse motivo, cabe ao líder esclarecer quais são os objetivos a serem atingidos e qual o papel de cada um nesse processo.

Dessa forma, os esforços se somarão, e as competências e habilidades se complementarão para um resultado mais produtivo. Ao deixar claro o que espera do trabalho de cada liderado, estará contribuindo para que o grupo como um todo tenha sua capacidade explorada em sua plenitude.

6 - Duvidar de suas atitudes

Se determinado profissional sempre atuou de forma correta, entregando os resultados esperados, e em certo momento passa a agir com desempenho abaixo do esperado, antes de criticar ou tentar corrigir, o líder deve se perguntar: será que dei a esse profissional as funções adequadas? Ou seja, deve duvidar do acerto da atitude que tomou.

Se uma pessoa não estiver habilitada para uma tarefa, mesmo que seja muito competente em outras atividades, não renderá o máximo que poderia render. Essa autoavaliação do líder poderá mostrar que não foi feliz naquela escolha, em tempo ainda de fazer as modificações, sem precisar mencionar o fraco desempenho do liderado.

Superdicas da semana

  • Use o "nós" sempre que tiver de orientar, aconselhar, ensinar
  • Ouça com interesse as opiniões dos liderados
  • Dê a cada um a função para a qual o profissional esteja mais habilitado
  • Conheça as características de cada liderado
  • Faça perguntas para que cada um compreenda os objetivos da tarefa e se sinta participativo

Livros de minha autoria que ajudam a refletir sobre esse tema: "29 Minutos para Falar Bem em Público", publicado pela Editora Sextante. "Superdicas para escrever uma redação nota 1.000 no ENEM", "Como falar de improviso e outras técnicas de apresentação", "Oratória para advogados", "Assim é que se Fala", "Conquistar e Influenciar para se Dar Bem com as Pessoas" e "Como Falar Corretamente e sem Inibições", publicados pela Editora Saraiva. "Oratória para líderes religiosos", publicado pela Editora Planeta.

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