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"Cannabusiness": por que a maconha é assunto em eventos pelo mundo?

A maconha foi uma das trilhas de conteúdo do SxSw deste ano - Lúcio Freitas/Talent Marcel
A maconha foi uma das trilhas de conteúdo do SxSw deste ano Imagem: Lúcio Freitas/Talent Marcel
Lúcio Freitas

28/03/2019 17h32

Um relatório da consultoria Whitney Economics apontou que a força de trabalho ligada ao mercado da maconha cresceu 44% nos Estados Unidos em 2018. São mais de 210 mil pessoas por lá trabalhando em tempo integral na indústria da cannabis.

Assim, grandes eventos que tratam de inovação têm abordado o assunto constantemente --e com certa propriedade. Não foi diferente com o South by Soutwest (SxSw), que tem se firmado como o maior evento de tendências do mundo.

Umas das grandes novidades da edição deste ano, realizada neste mês em Austin, no Texas (EUA), foi a abordagem do "Cannabusiness" como uma das 25 trilhas oficiais de conteúdo do evento. Mas por que a cannabis recebeu tanto destaque em um festival como o SxSw, ao lado de assuntos como inteligência artificial e blockchain?

Antes de mais nada, é importante lembrar que o SxSw leva a sério o seu compromisso com a inovação (e não importa qual a sua natureza, literalmente). Por isso, fica mais fácil entender o interesse do festival por um novo comportamento de consumo quando vemos os números do mercado da maconha.

Números que impressionam

Segundo a consultoria Brightfield Group, o "cannabusiness" deve faturar US$ 5,7 bilhões (R$ 22,7 bilhões) em 2019 só nos Estados Unidos.

Os impressionantes números não param por aí: no evento, em um dos painéis mais francos sobre o tema, Troy Dalton, empresário referência do setor e CEO da Arcview (empresa que atua como fundo de investimentos e desenvolve pesquisas sobre o assunto), divulgou que, até 2022, o mercado americano deve faturar US$ 31,6 bilhões com maconha.

Segundo ele, é quase inevitável assistirmos aos 50 estados americanos aprovarem o uso legal da maconha. O que faz bastante sentido, se considerarmos a latente demanda e a obsessão dos americanos por mercados promissores.

Medmen - Reprodução - Reprodução
A MedMen não vende só maconha: também conta com agasalhos, camisetas e bonés
Imagem: Reprodução

Diante de um cenário cada vez mais otimista, começam a surgir grandes empresas nessa indústria. É o caso da MedMen, a maior rede de varejo do segmento, carinhosamente chamada de "Apple da maconha". Ela já conta com 19 estabelecimentos, entre lojas e fazendas.

Adam Bierman, fundador da MedMen, esteve no SxSw. Lá, fez questão de reafirmar que a sua empreitada tem propósito, palavra-chave nos dias de hoje. Segundo ele, a maconha é um produto que proporciona qualidade de vida e, embora ainda existam garotos que queiram "apenas ficar chapados", 90% das pessoas usam a droga para o bem-estar. Ou seja: bem-estar importa.

Gigantes estão de olho

Gigantes de outros segmentos, como bebidas e cosméticos, já estão investindo em pesquisas e no desenvolvimento de produtos à base de maconha.

É o caso da Coca-Cola, que vem discutindo com a canadense Aurora Cannabis o desenvolvimento de bebidas com o ingrediente, e da AB InBev, que acertou um acordo com a empresa norte-americana Tilray para pesquisar o desenvolvimento de bebidas não alcoólicas que incluam componentes da substância.

A Constellation Brands, dona da marca Corona e um dos maiores grupos cervejeiros dos EUA, investiu US$ 4 bilhões na Canopy Growth, uma empresa do ramo de cannabis do mercado canadense.

O fato é que, independentemente das razões, não é todo dia que se vê ascender um novo padrão de consumo de proporções como essas.

Para um festival que se propõe a discutir novas formas de estar em um novo mundo, seria incoerente não abrir portas para revisitar um status quo tão relevante e urgente quanto esse.

E, mesmo que esse novo status quo seja quase um resgate, de acordo com a precisa declaração de Bierman: "Cannabis: from normal to criminal and back to normal" (traduzindo: "Maconha: de algo normal para criminoso e de volta a algo normal").