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Corram, distraídos: Coronavírus acelera chegada da transformação digital

Fábio Vieira/Fotorua/Estadão Conteúdo
Imagem: Fábio Vieira/Fotorua/Estadão Conteúdo
Bruno Rebouças

08/04/2020 04h01

Estávamos distraídos. Distraídos com tantas opções, comportamentos altamente viciantes e automatizados, algoritmos de busca (Google Search e similares) e de redes sociais (Facebook, Instagram, entre outras), que foram moldados para mostrarem exatamente o que queremos ver. Espécies de máquinas de alimentar nossas crenças individuais.

Estávamos distraídos rolando feeds infinitos, distraídos com uma cultura de esconder imperfeições e de não saber lidar com as faces não tão belas e instagramáveis da, às vezes, dura realidade.

Pela primeira vez em muito tempo, deixamos um pouco as distrações de lado e, independente de classe social, partido político, nacionalidade, raça, filtro utilizado nas fotos ou quantidade de seguidores nas redes sociais, estamos todos (ou quase todos?) juntos por uma mesma causa: lutar contra o vírus. E diga-se de passagem, uma causa bastante grande.

Gestores também estariam distraídos?

Nos rendemos à importância e à gravidade da pandemia que estamos enfrentando e, em escala global, iniciamos um movimento em massa de renúncias pessoais. Um acontecimento único.

Renunciamos a muitas coisas que, aquele nosso egoísmo interno tanto adorava (e que as redes sociais promovem com sucesso). As quarentenas nos fizeram ter de renunciar a férias marcadas, viagens, banhos de mar, corridas no parque e abraços em pessoas queridas. E como é difícil renunciar. Especialmente quando já tínhamos assumido essas ações como naturais.

Deixando a filosofia do comportamento humano de lado, e voltando atenções ao mundo dos negócios, acredito que os gestores de marketing, com os quais tenho um contato bastante frequente, de forma geral, também andavam meio distraídos.

Estavam distraídos com a repetição de processos legados antigos, com a replicação de métodos de medição totalmente obsoletos.

Sim, ainda tem gente utilizando número de impressões, cliques e modelos "de último clique" como métrica de sucesso em pleno 2020. Isso com a contratação de inúmeros fornecedores com promessas vazias de aumento de eficiência rápida. Que ilusão.

Mudanças num ritmo acelerado

O atual cenário de crise tem feito empresas tomarem ações drásticas de forma muito veloz.

Não falo apenas do trabalho remoto forçado e das infinitas horas de videoconferências por dia, mas da preocupação em focar apenas em linhas de negócio que de fato gerem valor, em revisitar custos, rever fornecedores e repensar toda a comunicação com os clientes (que já tinham mudado suas expectativas bem antes da pandemia).

Tudo buscando mais eficiência. Aparentemente existia muita gordura para ser otimizada.

Diretores de Marketing, CMO's, CIO's, diretores de tecnologia, diretores de analytics...a cúpula que lidera toda a estratégia de marketing, comunicação, vendas e tecnologia das empresas mais relevantes da nossa era tem levantado da cama com uma postura bastante diferente nas últimas quatro semanas.

A tal da "transformação digital" chegou

As conversas que tenho tido ultimamente mudaram drasticamente de tom. Do dia para a noite parece que a tal da "transformação digital" deixou de ser um tema de revista/palestras e virou caso de vida ou morte. Está acontecendo.

Chegou a hora de tirar do papel os planos para um uso mais estratégico de dados para tomada de decisões rápidas e precisas, revisão de modelos de medição de canais, corte de desperdícios nas compras de mídia, comunicação mais customizada e pensada no usuário, entre outras ações.

Sabe todas essas iniciativas que fazem bastante sentido, mas que sempre "estavam na fila de TI" e nunca aconteciam? Sei lá o que aconteceu com essas tais filas, mas pela primeira vez, elas começaram a andar, e em velocidade mais exponencial que a inclinação das curvas do COVID-19 que vemos na TV.

Sim, estávamos distraídos e perdemos tempo

Nunca vi tanta mudança acontecendo em tão pouco tempo. A pergunta que tenho me feito é: por que não tomamos estas ações antes? Estávamos distraídos.

Finalmente acordamos (e estou otimista). Acredito que, como pessoas, temos que evoluir diante de tudo que está acontecendo.

O mesmo vale para a nossa indústria de marketing e tecnologia. Tenho certeza de que vamos sair dessa muito melhores, com estruturas mais eficientes e com uma consciência bem maior de que já era hora de deixar ir muitos dos vícios antigos que nos perseguiam.

Ao que parece, finalmente vamos falar de eficiência e focar no usuário. Adoro uma frase de um futurista americano, chamado Brian Solis, que diz que "digital transformation is not about digital, is about humans" (transformação digital não é sobre digital, é sobre pessoas, em inglês).

Parece que nós, humanos, estamos mesmo (finalmente) mudando. Talvez agora a tal transformação digital de fato aconteça, assim como a nossa transformação como seres humanos. E, por isso, ainda estou otimista.

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