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Alexandre Pellaes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dinheiro, aprendizado e mais 3 fatores por trás dos movimentos de carreira

Zan/Unsplash
Imagem: Zan/Unsplash

Colunista do UOL

14/04/2022 04h00

Uma parte importante do nosso processo de amadurecimento profissional está ligada a conhecer os mecanismos e motivações que influenciam nossa trajetória de carreira e as decisões para mudar ou começar um novo emprego.

Embora haja carreiras parecidas, cada história é uma construção única, cheia de significado e propósito, cuja movimentação rumo a novos desafios parte de interesses particulares e estímulos especiais para cada pessoa, certo?

Errado.

Tá bom... Fui muito direto. Ajusto: certamente, existe alguma verdade no parágrafo acima. Ufa!

No entanto, a visão da movimentação de carreira como ação consciente e customizada é uma falácia. Ao menos, historicamente, e para a maioria dos trabalhadores(as). Na verdade, a capacidade de questionamento intencional e identificação de necessidades complexas a serem atendidas por meio do trabalho é algo recente. Ou seja, ao longo do tempo e até aqui, as pessoas têm buscado movimentações de carreira e novas oportunidades de emprego por motivos bastante parecidos e, muitas vezes, sem clareza sobre eles.

Neste artigo, apresento brevemente os cinco principais fatores de influência para as movimentações de carreira - e explico como vamos alterando o peso de cada um deles ao longo das nossas vidas.

No começo da carreira, queremos aprender um ofício ou uma profissão. Ainda não temos consciência dos nossos talentos, capacidades e das possibilidades de ação que podemos explorar. Por essa razão temos foco em?

Aprendizado

É comum iniciarmos a trajetória profissional com atenção para aprender uma ou algumas atividades, e desenvolver competências que ampliem as possibilidades de evolução. Assim, na carreira organizacional tradicional, a entrada no mercado começa como estagiário, jovem aprendiz ou como assistente, que ajuda e aprende "on the job" (em inglês, que é chique). Por um tempo, nossas decisões de carreira estarão concentradas em oportunidades que oferecem oportunidade para aprendermos mais, pois sabemos que é necessário um nível de proficiência para ter acesso e base de negociação para o próximo passo, agora guiado por um novo interesse?

Dinheiro

A partir do momento em que temos um nível positivo de qualidade na entrega e não precisamos de tanto suporte para performar, começamos a direcionar nossas decisões de carreira com foco financeiro.

É comum pensar "não estou aqui só pra aprender, já consigo contribuir bastante", "mereço ganhar mais", "acho que consigo um pacote melhor em outra empresa" etc. Então, buscamos promoções e aumentos financeiros na própria organização, ou saímos para o mercado, em busca de mais grana.

Conforme o nível de especialização e competência aumenta, tem gente que pipoca entre algumas empresas, enquanto outros(as) ficam na mesma instituição, buscando movimentações e melhores condições de remuneração. Essa dinâmica pode durar bastante tempo (bastante mesmo)...

Depois de tantos anos de esforço, trabalho e contribuição, grande parte de nós começa a sentir a necessidade de receber reconhecimento diferenciado. Chegou a hora de ter uma evolução de?

Status

Sabe como é: na pirâmide organizacional, é necessário ter cargos especiais para demonstrar o alcance das suas entregas e sua capacidade de gerenciar negócios, liderar pessoas e ter responsabilidades ampliadas. É o momento daquele incômodo para virar coordenador(a), gerente ou algo do gênero.

Enquanto lutamos por esse tal cargo ou responsabilidade, é comum passarmos anos melhorando a performance e negociando valores e resultados. Um período pesado, de longas horas de trabalho e sobrecarga, no qual reconhecemos como é difícil liderar e influenciar pessoas. Experimentamos um pezinho no caos... Não dormimos bem, não comemos bem, não cuidamos do corpo, a cabeça não para; e, então, começa a se destacar uma nova necessidade?

Qualidade de vida

Entendemos que a escalada da nossa carreira cobra um preço individual pesado para nossa saúde e relações pessoais... Começamos a buscar maneiras e estratégias para guiar nossas ações profissionais, considerando fortemente o conceito de qualidade de vida, bem-estar, saúde mental e física. Os outros motivadores de carreira têm sua importância relativizada, e decisões de movimentação profissional se tornam mais complexas.

Enquanto acontece esse movimento, para muitas pessoas torna-se inevitável fazer um mergulho mais aprofundado e refletir sobre "por que eu faço tudo isso?", ou "qual é o propósito das minhas ações?". Neste momento, identificamos um novo interesse a ser atendido?

Impacto

Qual é o impacto do meu trabalho? O que estou construindo? Qual é o meu legado?

Esta fase pode ser penosa e trazer um sentimento de culpa e tempo perdido. "Fiz tudo isso e sou apenas um analista...". "De que adianta essa diretoria, se meu trabalho não tem significado?". Cuidado. Não caia na armadilha de medir impacto de fora pra dentro. Sua reflexão de hoje só é possível, devido a toda história que você escreveu ao longo dos anos. Ou seja, parte do seu impacto já aconteceu sobre si mesmo(a).

Para a maioria dos trabalhadores(as), esse nível de consciência foi conquistado com muito suor e chegou por volta dos 40 e poucos anos. Gerações anteriores nem tiveram a chance de alcançar esse ponto, pois lutavam pela sobrevivência no meio dos outros motivadores.

Já as gerações mais jovens vivem a inquietude de busca por impacto desde cedo. É um privilégio oferecido por quem veio antes "na fila do pão". Essa é uma das características da mudança do mundo do trabalho e uma das raízes do conflito de gerações - que abordarei em artigos futuros.

Conhecer a dinâmica que acontece na evolução de carreira por meio do composto aprendizado-dinheiro-status-qualidade de vida-impacto vai ajudar você a ter mais propriedade sobre o que busca no trabalho. Esse conhecimento é fundamental para pesquisar e negociar sem cair em armadilhas (ou tentações) como aceitar uma vaga que pague o dobro do salário quando você estiver precisando, na verdade de equilíbrio e qualidade de vida, por exemplo; ou como se iludir em viver de impacto, propósito e luz, já que os boletos ainda são pagos com dinheiro.

Lembre-se, para um motivador ganhar destaque, os outros não precisam desaparecer. A questão é sobre consciência e equilíbrio em determinados momentos da vida.

Se você tivesse que listar os motivadores acima por ordem de prioridade na sua vida hoje, qual seria sua sequência?

Você identifica esse movimento ao longo da sua carreira?

Um abração e muito bom trabalho.

Lugares Incríveis Para Trabalhar

Alexandre Pellaes é colunista do Lugares Incríveis Para Trabalhar, uma iniciativa do UOL e da FIA para reconhecer as empresas que têm as melhores práticas em gestão de pessoas. Os vencedores do prêmio são definidos a partir da pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), que mede a qualidade do ambiente de trabalho, a solidez da cultura organizacional, o estilo de atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. As inscrições para a edição 2022 estão abertas e vão até 30 de maio.