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Carla Araújo

Marinho avança com acordos e apoio militar, e agenda de Guedes perde força

O secretário Rogério Marinho (à esq.) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante audiência na comissão especial da Previdência - Renato Costa/Framephoto/Estadão Conteúdo
O secretário Rogério Marinho (à esq.) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, durante audiência na comissão especial da Previdência Imagem: Renato Costa/Framephoto/Estadão Conteúdo

Do UOL, em Brasília

06/05/2020 17h00

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A nomeação do novo diretor do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, além de inaugurar o relacionamento do presidente Jair Bolsonaro com o chamado centrão, foi uma vitória do ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), que tem vivido em atritos com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Desde que o ministro da Casa Civil, Braga Netto, começou a organizar o lançamento do programa Pró-Brasil, Marinho e Guedes explicitaram desavenças com o rumo que o programa do governo deveria tomar.

De um lado, Marinho —conhecido articulador do Congresso— defende a retomada de obras paradas e também articula com o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, a liberação de emendas que, segundo auxiliares, "estão travadas".

De outro lado, Guedes —que ainda entoa o mantra da responsabilidade fiscal— tem sido obrigado a fazer concessões por conta da pandemia e em nome da governabilidade do presidente. O ministro da Economia defende que é preciso buscar recursos privados.

Marinho tem trânsito livre no Planalto e é recebido com frequência pelos ministros militares. Guedes também é assíduo frequentador do quarto andar, mas sua passagem sempre é carregada pelo "humor difícil do ministro", dizem auxiliares palacianos.

O dia do racha

No lançamento do plano Pró-Brasil, dia 22 de abril, o ministro Braga Netto mostrou uma "carta de intenções", sem detalhes, e teve que administrar reclamações de Guedes e sua equipe, que acusaram a Casa Civil de se precipitar. Na ocasião, para arrefecer os ânimos, o general destacou que o teto dos gastos, defendido veementemente por Guedes, não seria alterado.

Marinho, que também foi surpreendido pelo anúncio antecipado do plano, já estava com sua apresentação de retomada de obras praticamente pronta e decidiu começar a trabalhar.

O desgosto de Guedes acabou evidente e, na esteira da saída do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, aumentaram as especulações de que Guedes poderia deixar o cargo. Os rumores não foram bons para o governo e obrigaram o presidente Jair Bolsonaro a vir a público dizer que quem mandava na economia era Guedes.

No dia 29 de abril, com troca de elogios, Guedes e Braga Netto concederam juntos uma entrevista coletiva. O ministro da Economia aproveitou a ocasião para explicitar a contrariedade com discussões de aumento do gasto público e deu uma indireta —que, para muitos auxiliares do governo, foi muito direta— a Marinho.

"A crise é da saúde. Não pode alguém achar, no momento em que fomos baleados, caímos no chão, está uma confusão danada e temos que ajudar a saúde, alguém vem correndo, bate nossa carteira e sai correndo. Isso não vai acontecer", declarou Guedes, no Palácio do Planalto.

Na época, procurado, Marinho evitou a imprensa e minimizou o desgaste com Guedes. Interlocutores do ministro diziam que a intenção era "submergir por pelo menos duas semanas".

Agora, uma semana depois, Marinho começa a mostrar que continua como o articulador que levou o ex-presidente Michel Temer a negociar com o Congresso a reforma trabalhista. "Ele não mudou, perdeu a eleição por isso, mas continua um bom articulador", disse uma fonte, ressaltando que o ministro não é contra a responsabilidade fiscal.

Alguns auxiliares do presidente seguem tentando apaziguar os ânimos e procuram "não mexer muito com o Guedes". "Ele tem um temperamento difícil, mas está no governo para ajudar e precisamos muito dele. Não é hora para mais crises", afirmou uma fonte, que também fez afagos a Marinho. "Os dois são importantes".