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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Planalto ignora perda de valor da Petrobras e vê situação como reversível

Jair Bolsonaro participa de acionamento das comportas do Ramal do Agreste no reservatório de Barro Branco, em Sertânia, no Sertão de Pernambuco - Adalberto Marques/MDR/Divulgação
Jair Bolsonaro participa de acionamento das comportas do Ramal do Agreste no reservatório de Barro Branco, em Sertânia, no Sertão de Pernambuco Imagem: Adalberto Marques/MDR/Divulgação

Do UOL, em Brasília

22/02/2021 18h43Atualizada em 22/02/2021 20h39

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O clima nesta segunda-feira (22) no Palácio do Planalto era bem diferente da realidade da Bolsa de Valores, com investidores nervosos e se desfazendo de ações da Petrobras. Os papeis da empresa fecharam o dia com uma queda de mais de 21%.

Enquanto alguns auxiliares tentavam argumentar que a intervenção do presidente Jair Bolsonaro "não foi exatamente uma intervenção", outros até arriscaram previsões otimistas da recuperação da empresa. "É algo pontual, reversível", disse uma fonte.

A realidade, porém, mostra que não foi algo pontual neste primeiro momento. Além da queda da Petrobras, houve forte desvalorização de outras estatais e também empresas privadas de outros setores, de infraestrutura a varejo.

À Folha, o sócio-fundador da Empiricus, Felipe Miranda, disse que a interferência do presidente na Petrobras poderia ter repercussões econômicas que podem comprometer a reeleição. "No momento em que ele faz o que fez, ele perdeu o apoio de parte do empresariado e do mercado financeiro", diz Miranda.

Timing político

A relação entre Bolsonaro e o ainda presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, já vinha de um período de desgastes. O quarto aumento de preços dos combustíveis neste ano "foi inadmissível" para o presidente, dizem.

Como pano de fundo há um fato importante: Bolsonaro acionou cada vez mais o modo candidato à reeleição e quer falar justamente para o seu eleitorado. Os caminhoneiros, por exemplo.

Além das divergências da política de preços da estatal, Bolsonaro, "que nunca deu muita intimidade" a Castello Branco, também criticou a falta de tato político do presidente da estatal.

Bolsonaro deixou claro que em seu governo as decisões políticas têm que vir antes de anunciar qualquer medida, mesmo que seja positiva para o mercado, por exemplo. Afinal, o presidente quer dominar o "timing político" e deixa isso cada vez mais evidente.

Por onde anda Guedes?

Desde a última sexta-feira, quando o presidente anunciou pelas redes sociais de que iria trocar o comando da estatal, o ministro da Economia optou pelo silêncio. Nenhuma declaração pública até o momento.

Guedes é o padrinho da indicação de Castello Branco. A saída de um dos seus indicados é uma derrota ao ministro, que teme uma nova debandada possa acontecer em sua equipe.

O Posto-Ipiranga tem mais uma razão para optar pelo silêncio: ainda não há solução de como o governo compensará a promessa de Bolsonaro de zerar imposto federal sobre o Diesel. Essa resposta poderia ajudar quem saber a acalmar um pouco mercado.

Para não dizer que vai jogar a toalha, o ministro busca uma saída via Congresso. Aproveitando a boa vontade dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, Guedes quer dar a eles o protagonismo em relação ao auxílio.

Justamente por isso, a ordem é trabalhar com o Congresso pela aprovação da PEC emergencial, a que será capaz de criar mais rodadas do pagamento do auxílio emergencial.

A esperança é o general

Além de tentarem minimizar o resultado negativo da Petrobras na Bolsa, interlocutores do presidente fizeram questão de destacar o perfil de Silva e Luna. Além disso, afirmam que o trabalho do general nos dois anos no comando da Itaipu trouxe resultados positivos ao país.

Segundo um interlocutor do presidente, a avaliação é que Silva e Luna é "capaz" para a missão e que não chegará na estatal alterando a sua política da água para o vinho. "Ele é um cara responsável", disse um militar de alta patente, que despacha no Palácio.