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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Offshore: Guedes mantém agenda, evita imprensa e crê em apoio de Bolsonaro

27 set. 2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em evento da Caixa, em Brasília - Mateus Bonomi/AGIF - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo
27 set. 2021 - O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em evento da Caixa, em Brasília Imagem: Mateus Bonomi/AGIF - Agência de Fotografia/Estadão Conteúdo

Do UOL, em Brasília

07/10/2021 15h37

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Quem conhece o ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que ele está cada vez mais acostumado "a apanhar", mas admite que ele se abala com críticas, principalmente as que considera injustas. A revelação, no domingo (3), de que o ministro possui conta no exterior em um paraíso fiscal e a repercussão do caso incomodaram Guedes nos últimos dias.

"Indignado" e "chateado" foram alguns dos termos usados por pessoas próximas ou que estiveram com o ministro durante essa semana. Outros destacaram que ele "apanha todo dia" e está acostumado com o que chamou de "factoides políticos".

Nesta quinta-feira (7), Guedes já estava no Ministério quando manifestantes fizeram um protesto contra o ministro. Segundo auxiliares, ele manteve sua agenda normalmente.

A argumentação para explicar a perplexidade de Guedes com o caso é de que estariam tentando taxar o ministro de bandido por algo "completamente legal" e feito dentro das leis. Além disso, salientam que o patrimônio de Guedes — como empresário e investidor— foi construído antes de ele entrar no governo e que esse constrangimento de expor a vida pessoal do ministro seria desnecessário.

A abertura de uma empresa no exterior não é ilegal, desde que declarada à Receita Federal. Funcionários públicos de alto escalão, porém, estão proibidos de manter aplicações financeiras que possam ser afetadas por políticas governamentais. Por isso, devem declarar à Comissão de Ética Pública quais investimentos têm, num período de dez dias antes de assumir os cargos. Guedes disse ter feito todos os devidos comunicados às autoridades competentes.

Mesmo se não houver ilegalidade, uma das críticas que estão sendo feitas é que seria imoral o ministro da Economia manter parte do seu patrimônio fora do país, em um paraíso fiscal, livre de impostos e crescendo enquanto o dólar dispara.

Quem defende Guedes diz que, como alguém rico, é natural que seus investimentos sejam diversificados. Dizem também que não houve movimentação da conta durante sua gestão como ministro.

Uma pessoa próxima a Guedes disse que querem "tornar crime o fato de uma pessoa ser rica" e que não há nada ilegal. Outra fonte afirmou que o ministro está "tranquilo", que tem uma empresa legal e declarada, sem nenhum conflito.

Na quarta-feira (6) à noite, depois de evitar declarações à imprensa, Guedes comentou a sua convocação para depor no Plenário da Câmara e disse justamente que estava "tranquilo, supertranquilo".

A suposta tranquilidade de Guedes na verdade esconde pelo menos uma frustração. Fontes admitem que o ministro gostaria de falar com o Congresso para avançar em pautas de interesse da área econômica, mas terá que ir explicar o que, na avaliação dele, já está mais do que elucidado.

Além disso, há o receio de que o desgaste com os parlamentares seja ainda maior, já que além de ser alguém que se ressente com as críticas, o ministro já demonstrou um lado impulsivo, reativo e coleciona frases polêmicas, que podem ampliar ainda mais a crise.

Agenda incluiu advogados

Guedes manteve a maior parte de sua agenda de trabalho da semana, mas incluiu, logo na segunda-feira, um dia depois das revelações, uma reunião com seus advogados Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso, para cuidar de sua defesa.

No encontro, ficou acertado que Guedes entregaria de forma voluntária uma documentação à PGR (Procuradoria-Geral da União) para comprovar que não há nada de ilícito em suas contas em offshore, o que foi feito ontem de manhã.

Os mesmos advogados passaram, inclusive, a acompanhar a situação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e irão defendê-lo também das acusações de irregularidades por uso de offshore.

Na terça-feira (5), Guedes foi ao Senado para uma cerimônia privada de entrega do relatório da reforma tributária ampla (PEC 110/2019). Não falou com a imprensa, mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, logo após o encontro minimizou o caso.

Silêncio é apoio do presidente?

Uma das poucas agendas canceladas por Guedes nesta semana foi justamente um evento público no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Jair Bolsonaro. O ministro compareceria a uma cerimônia de recepção aos atletas olímpicos e paralímpicos, mas acabou ficando na Economia, já que a agenda anterior com representantes do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) acabou se estendendo.

Até agora, o presidente Jair Bolsonaro não fez comentários sobre as revelações que envolvem Guedes e Campos Neto.

Segundo auxiliares do presidente, a primeira reação de Bolsonaro é de apoio aos membros do seu governo, "que deram e darão as explicações devidas".

Apesar disso, já há quem reconheça que sempre que Guedes está enfraquecido cresce uma pressão do Congresso sob o cargo do ministro. A possibilidade de Guedes deixar o governo, no entanto, pelo menos até o momento, não está na mesa do presidente, dizem.

Para fontes próximas a Guedes, o presidente continua confiando no ministro e reforçando seu apoio à condução da política econômica. "O presidente também apanha todo dia. Não há nada de errado, e o ministro segue trabalhando", disse um auxiliar.