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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Guedes perde poder após ala do governo culpá-lo por protesto de servidores

Presidente Jair Bolsonaro e ministro da Economia, Paulo Guedes, durante evento no Palácio do Planalto - ADRIANO MACHADO
Presidente Jair Bolsonaro e ministro da Economia, Paulo Guedes, durante evento no Palácio do Planalto Imagem: ADRIANO MACHADO

Do UOL, em Brasília

13/01/2022 16h15

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O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (13), que deu mais poder à Casa Civil para a execução do Orçamento de 2022, foi visto por aliados políticos do presidente como uma reação às falas públicas do ministro da Economia, Paulo Guedes, principalmente na questão do reajuste dos servidores.

Segundo apurou a coluna, parte desses aliados convenceu o presidente de que Guedes teria criado um "atrito midiático" entre os servidores ao ser contra a concessão de aumentos salariais. Com isso, Bolsonaro decidiu dar uma sinalização de que Guedes precisa melhorar seu tato político.

No fim do ano passado, quando Bolsonaro se comprometeu com o Ministro da Justiça, Anderson Torres, a valorizar a carreira dos agentes de segurança, Guedes deu declarações públicas de que era contra reajuste para os servidores em ano eleitoral e, nos bastidores, avisou Bolsonaro de que haveria reação na Receita Federal e no Banco Central.

A avaliação feita no Planalto é de que o ministro da Economia tentou sinalizar ao mercado o seu compromisso com o rigor fiscal e acabou dando munição para a máquina do funcionalismo e para parte da esquerda, principalmente o PT. Segundo uma fonte, o ministro deveria ter discutido o assunto apenas internamente, mas cometeu uma "trapalhada".

Auxiliares palacianos disseram ainda que a ideia de que as decisões do Orçamento tenham um aval prévio do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, é para diminuir ruídos das medidas adotadas por Guedes, que desagradam principalmente a base aliada, como a liberação de emendas.

O objetivo com o novo decreto, segundo auxiliares do governo, é deixar o Planalto com maior protagonismo em relação às decisões econômicas, incluindo justamente a liberação das emendas parlamentares.

Na prática, segundo uma fonte, o decreto é mais simbólico, para dar um recado de que é preciso tato político também para as questões econômicas.

Ministério da Economia minimiza

Auxiliares de Guedes, por sua vez, tentaram minimizar a questão, negando que o decreto signifique um revés para Guedes. Eles afirmam que a decisão foi consensual. Rechaçam ainda que a medida tenha alguma relação com a situação dos servidores.

Guedes e Ciro Nogueira teriam acertado ao longo da semana os ajustes no controle do Orçamento e concordaram que o ideal era que se aliasse às imposições da economia uma visão mais política.

Apesar de já fazer parte da JEO (Junta de Execução Orçamentária), agora o ministro da Casa Civil terá prerrogativa de dar ou não aval na distribuição dos recursos orçamentários.

Com isso, Ciro —que é um importante cacique do Centrão— também terá mais poder sobre as execuções de emendas parlamentares. Incluindo aqui as do chamado Orçamento secreto, que têm sido usadas como forma de o governo conseguir apoio no Parlamento.

E o aumento dos servidores?

Auxiliares do presidente dizem que ainda não há uma decisão final sobre o que será feito com o valor de R$ 1,7 bilhão do Orçamento de 2022, que foi incluído para garantir aumento aos policiais.

O governo segue acompanhando a mobilização das categorias de servidores para tentar minimizar os danos. E, apesar de o presidente já ter dado sinais de que poderia recuar no aumento para policiais, ainda há quem aposte que Bolsonaro vai dar um jeito de agradar a categoria, que é uma de suas principais bases eleitorais.