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Carla Araújo

REPORTAGEM

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Guedes tenta ganhar tempo para evitar subsídios e celebra queda do petróleo

10.fev.2022 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro Paulo Guedes, durante cerimônia no Palácio do Planalto - Adriano Machado/Reuters
10.fev.2022 - O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro Paulo Guedes, durante cerimônia no Palácio do Planalto Imagem: Adriano Machado/Reuters

Do UOL, em Brasília

15/03/2022 17h12Atualizada em 15/03/2022 19h16

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Mesmo com a crescente pressão da chamada ala política por soluções que possam minimizar o impacto do aumento nos preços dos combustíveis, o ministro da Economia, Paulo Guedes, continua defendendo que uma política de subsídios só deve ser usada em "último caso".

Para tentar conter o apetite de ministros chamados internamente como "os fura-teto", a equipe de Guedes tem desenhado algumas alternativas, como um aumento temporário no Auxílio Brasil ou a elevação do vale-gás, que hoje custeia cerca de 50% do preço do botijão e poderia aumentar para 100%.

As ideias que estão sendo estudadas pela equipe de Guedes, no entanto, são vistas no próprio governo como uma forma de o ministro "ganhar tempo" nas discussões.

Segundo uma fonte da equipe econômica, Guedes tenta convencer o presidente Jair Bolsonaro de que "qualquer precipitação na criação do subsídio à gasolina pode ser um enorme erro", inclusive com efeitos negativos para a sua campanha à reeleição.

Além de furar de vez o teto dos gastos, a concessão de recursos do Tesouro para subsidiar a gasolina, nas palavras de um auxiliar de Guedes, "quebra" a lei de responsabilidade fiscal e teria impacto no aumento do dólar, da inflação e dos juros.

A avaliação feita por membros da equipe econômica é de que há uma baixa efetividade neste tipo de política e que é preciso aguardar os desdobramentos da guerra da Rússia na Ucrânia antes de afrouxar as regras fiscais. O próprio ministro ressaltou publicamente a necessidade de aguardar os desdobramentos do conflito.

"Vamos nos movendo de acordo com a situação", afirmou na semana passada, após o anúncio da Petrobras de reajuste nos preços. "Se isso [guerra] se resolve em 30 ou 60 dias, a crise estaria mais ou menos endereçada. Agora, vai que isso se precipita e vira uma escalada? Aí sim você começa a pensar em subsídio para o diesel", disse.

Auxiliares do ministro destacaram como um fator positivo os contratos futuros do barril de petróleo operarem abaixo dos US$ 100 nesta terça-feira (15). "Praticamente zerou a defasagem", disse uma fonte do governo, em relação à defasagem dos preços dos combustíveis da Petrobras.

Bolsonaro cobra: 'Guedes sabe 10% de política'

O presidente Jair Bolsonaro tem ouvido o ministro da Economia, mas também é aconselhado por auxiliares políticos que ampliam a pressão sobre Guedes.

No último sábado, Bolsonaro demonstrou apetite por novas medidas. Disse que o pacote aprovado na semana passada pelo Congresso não seria suficiente e sugeriu que enviará um projeto ao Congresso zerando o PIS e a Cofins sobre a gasolina nos mesmos moldes do que foi aprovado para o diesel.

Guedes pede ao presidente um pouco mais de paciência e diz que é preciso aguardar os efeitos das propostas aprovadas antes de novas medidas e as negociações na guerra.

Nesta terça-feira (15), em evento no Palácio do Planalto, o presidente demonstrou bem a contrariedade existente entre as forças políticas e o ministro da economia. "Hoje sei 10% de economia que o Paulo Guedes sabe. Assim como ele sabe 10% do que eu sei de política", disse Bolsonaro, rindo.

"Quando alguém chega com uma sugestão para a política eu digo: 'deixa eu ver o que diz o Paulo Guedes'. E eu vou na contramão do que ele fala para mim", continuou Bolsonaro, entre gargalhadas. "Nós, então, nos complementamos, vamos assim dizer."

Na sequência, como costuma fazer quando faz críticas a Guedes, o presidente fez afagos ao ministro. "Ano de eleição é natural muita gente querer entrar no orçamento. O Paulo Guedes tem sido bastante vigilante no tocante a isso e tudo o que faz, faz com uma enorme responsabilidade", disse Bolsonaro.