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Carlos Juliano Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Desemprego cai, mas renda patina e produtividade segue estagnada

17/08/2022 04h00

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O amarrotado clichê do copo meio cheio ou meio vazio é perfeito para analisar os dados sobre o desempenho do mercado de trabalho no segundo trimestre deste ano, divulgados na última sexta-feira pelo IBGE.

Os partidários do copo meio cheio vão celebrar, com razão, a expressiva queda da taxa de desocupação no país nos últimos 12 meses, registrada em 22 unidades da federação, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).

Hoje, das pessoas aptas a trabalhar, 9,3% estão "paradas". No mesmo período de 2021, a proporção era consideravelmente maior: 14,2%. Os atuais números se aproximam, inclusive, daquilo que os especialistas chamam de "taxa natural" ou "taxa de equilíbrio" de desemprego.

Resumidamente, para que o aquecimento do mercado de trabalho não empurre a inflação para cima e comprometa a economia — como aconteceu, por exemplo, no governo Dilma Rousseff — é esperado que uma parte das pessoas não consiga ocupação.

O economista Bráulio Borges, da FGV, estima que a taxa de equilíbrio no Brasil seja por volta de 8,5%. Quer dizer, não muito distante do atual índice de desemprego medido pelo IBGE.

Já os que preferem atentar para o copo meio vazio vão reparar, também com razão, nos dados da PNAD que relativizam a euforia.

Um dos principais é o tombo de 5,1% no rendimento médio mensal do brasileiro — hoje estimado em R$ 2.652,00 — em comparação com o mesmo período do ano passado. Já entre o primeiro e o segundo semestre deste ano, o ganho médio se manteve estável.

Isso quer dizer que, apesar da robusta redução na taxa de desocupados, o país não vem ficando mais rico. Em outras palavras, não estamos gerando mais valor à medida que mais gente é absorvida pelo mercado de trabalho. Pelo contrário.

A principal explicação para esse fenômeno é a produtividade raquítica da nossa economia, motivada pela combinação fatal entre investimentos tímidos na produção (abaixo, inclusive, da média da América Latina) e qualificação insuficiente de trabalhadores.

Por sinal, a PNAD não deixa dúvidas sobre o impacto da formação escolar na probabilidade de arranjar um trabalho. A desocupação entre os que não concluíram o ensino médio é duas vezes maior do que entre aqueles com superior incompleto e três vezes maior do que entre os brasileiros com diploma de faculdade.

Dentre outras consequências, isso se traduz na persistentemente alta taxa de informalidade também detectada pela PNAD. A cada dez trabalhadores brasileiros, quatro não estão regularizados e, assim, deixam de contar com cobertura da Previdência, por exemplo.

Felizmente, o mercado de trabalho no Brasil parece estar juntando os cacos depois da pancada da pandemia. No curto prazo, é preciso que brasileiros escapem da pobreza o mais rápido possível, ainda que por meio de trabalhos precários por conta própria ou de empregos com carteira assinada de um ou dois salários mínimos.

Agora, sem destravar investimentos e sem investir em qualificação, continuaremos reféns da baixa produtividade. E, a longo prazo, isso só vai empacar o crescimento econômico e produzir ainda mais desigualdade social.