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João Branco

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Roubaram a minha ideia. E agora?

Colunista do UOL

16/06/2021 04h00

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Você já ouviu uma música que se parece muito com um hit famoso? Ou já viu um quadro que lembra outra ilustração conhecida? E quem nunca assistiu a um filme que tinha um enredo parecido com o de uma série?

Tente adivinhar que história é essa: uma criança perde os pais, descobre que tem capacidades extraordinárias, fica isolada por um tempo e depois volta para salvar seus conhecidos. Estou falando do Batman ou da Elsa (Frozen)?

Ou que tal falarmos sobre uma história onde criaturas se metem em apuros quando seus donos não estão por perto? Esse é o resumo de "Toy Story" ou "A Vida Secreta dos Bichos"?

Um dos melhores livros de marketing que li recentemente - "Hit Makers", de Derek Thompson - tenta explicar esse fenômeno: em geral, as obras de arte que caem no gosto popular são justamente as que conseguem misturar elementos conhecidos com novidades.

Não posso afirmar que os casos acima foram intencionais. Mas certamente eles são consequência do processo criativo que todos nós usamos.

A verdade é que a gente não inventa praticamente nada do zero. Estamos o tempo todo observando referências, inspirações e exemplos de coisas que gostamos por aí.

Isso fica bem claro quanto temos que escolher um nome para os nossos filhos, por exemplo. Aposto que você ficou buscando ideias em pessoas da família, famosos, livros de significado ou amigos de infância. A gente busca um nome que seja familiar o suficiente para não gerar estranhamento. Mas diferente o suficiente para não parecer ordinário. Nosso processo criativo é assim.

O problema é que às vezes a gente abusa das referências. E copia descaradamente. É uma técnica muito conhecida, chamada de "control c, control v" e que é amplamente usada no mercado da pirataria, por exemplo.

Mas, se analisarmos a fundo, tudo tem um toquezinho de cópia por aí. Aposto que você conhece várias hamburguerias que tem uma opção de "dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles em um pão com gergelim" no cardápio. Ou várias sandálias de dedo parecidas com aquelas que se apresentam como "as originais".

As regras de proteção à propriedade intelectual são rígidas e você pode conseguir uma blindagem por vias judiciais. Mas, na prática, muita coisa passa por essa porteira. Inclusive as suas criações, que podem acabar sendo usadas a qualquer instante sem a sua autorização.

Alguém já roubou descaradamente uma ideia sua? Já viu seu concorrente lançar o mesmo serviço? Ou um site copiar o seu design? Um post que foi "kibado"? E uma loja que apareceu exatamente com o mesmo nome da sua? Só quem passou por isso sabe a chateação. Mas a notícia boa é que normalmente ideias ruins não são copiadas. Se alguém está te imitando, é porque você está acertando em algo.

Esse texto existe para te lembrar que vivemos rodeados de ladrõezinhos de ideias por aí. Se você está começando um negócio, pensando em lançar um produto ou serviço, a primeira coisa que tem que pensar é se você está oferecendo algo realmente relevante para o seu cliente. Mas, junto com isso, você precisa se perguntar: quão difícil vai ser para copiarem a minha ideia? O que eu vou oferecer para o meu público que vai deixá-lo mais satisfeito comigo ainda que brotem várias opções parecidas por aí?

Pode ser um tempero secreto da família, molho especial, atendimento personalizado, qualidade da mão de obra ou qualquer outra coisa seja importante e que ninguém consiga fazer exatamente igual a você.

Contra esse tipo de malandro, essa é a melhor "cerca elétrica" que você pode instalar.

ladrao - Felipe Tomazelli - Felipe Tomazelli
Imagem: Felipe Tomazelli