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José Paulo Kupfer

Em condições "normais", taxa de desemprego estaria mais perto de 20%

30/06/2020 13h38

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São sólidas as indicações de que a taxa de desemprego de mão de obra, na economia brasileira, esteja por volta de 20% da força de trabalho. O fato de o índice apontado pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) contínua, divulgada nesta terça-feira (30), referente ao trimestre encerrado em maio, tenha apontado desocupação de 12,9% é apenas mais uma distorção causada pela pandemia da Covid-19.

Todos os indicadores do mercado de trabalho medidos pela Pnad apresentam recordes negativos, em relação ao trimestre anterior, encerrado em fevereiro - antes, portanto, do início do pesadelo do coronavírus. Números negativos inéditos foram registrados na população ocupada, na população subutilizada, no grupo de desalentados, no nível de ocupação, na população economicamente ativa e por aí vai.

A taxa de desemprego avançou "só" para 12,9% da força de trabalho, subindo "apenas" 1,2 ponto percentual em relação à taxa de 11,9% do trimestre dezembro a fevereiro, exatamente porque a taxa de participação, definida como a proporção de pessoas ocupadas, em relação à população em idade de trabalhar, encolheu dramaticamente. Se o nível de ocupação, que caiu 5 pontos, descendo de 54,5% para 49,5%, se mantivesse estável, o desemprego teria chegado à vizinhança de 20%.

O impacto do colapso econômico causado pelo choque simultâneo de oferta e demanda no mercado de trabalhado pode ser descrito como o de uma calamidade. A população ocupada, por exemplo, encolheu 8,3% no trimestre encerrado em maio, um recuo nunca visto. Quase 8 milhões de pessoas perderam seus postos de trabalho.

Também a população subutilizada e o grupo dos desalentados - aqueles que desistiram de procurar uma ocupação - aumentaram em proporções até aqui desconhecidas. O nível de subutilização, ou seja, de pessoas trabalhando menos horas do que poderiam ou desejariam, saiu de 23,5% da força de trabalho no trimestre encerrado em fevereiro, para 27,5%, em maio. São 30 milhões de pessoas, quase um terço da população ativa, nessas condições mais precárias de trabalho.

Já o número de brasileiros desalentados, que já não era pequeno desde a grande recessão iniciada em 2014, avançou ainda mais. O contingente de desalentados cresceu 15,3% sobre a base do trimestre anterior e 10,3%, em relação ao mesmo período de 2019. São 5,4 milhões de pessoas, representando 5,2% da força de trabalho. Num cálculo simples, a soma de desempregados com desalentados também indicaria uma taxa de desemprego "real" próxima de 20%.

É tal a força do movimento de saída do mercado de trabalho que até o segmento informal encolheu, nos primeiros três meses da pandemia. A taxa de informalidade caiu de 40,6% da população ocupada, no trimestre dezembro-fevereiro, para 37,6%, entre março e maio, expressando a menor participação de informações no emprego desde o início da série, em 2016. Informais somam agora 32,3 milhões de trabalhadores.

Reflexo dessas perdas históricas na massa de rendimentos do trabalho, como não poderia deixar de ser, é calamitosa. A renda total do trabalho, sem incluir outros rendimentos como os da Previdência e dos auxílios emergenciais, recuou 5%, na comparação com o trimestre anterior, somando R$ 206 bilhões.

Foram menos R$ 11 bilhões em salários e remunerações do trabalho. Esse recuo é inteiramente devido ao fechamento de postos de trabalho, já que o rendimento médio habitual, em termos reais, até avançou ligeiramente, no período.

As expectativas não são de recuperação rápida do mercado de trabalho. Até porque, as perdas atuais terão impacto negativo nos esforços de retomada. Base do impulso do consumo - que, por sua vez, é a principal mola do crescimento econômico -, rendas do trabalho comprimidas pelo fechamento de vagas reforçam projeções de reação mais lenta do consumo agregado e, em consequência, do conjunto da atividade econômica nos próximos trimestres.